Memes da Idade Moderna é um ensaio literário que explora a reutilização de imagens para tratar de significados diferentes. Escrito por Katie Sisneros, o texto explora como a lentidão do processo de criação de xilogravuras fazia com que as pessoas utilizassem a mesma figura para diversas ocasiões. Hoje, podemos dizer que fazemos o mesmo com os memes, já que pegamos qualquer meme e alteramos seu sentido original.
No texto, a autora explica como ocorria a divulgação de panfletos que continham as imagens, e como os leitores da época associavam as imagens a um assunto. O interessante é que as pessoas da época estavam conscientes desses “símbolos” e autores passaram a utilizar as imagens para surpreender seus leitores.
[…] um panfleto de balada era, simultaneamente, um texto individual e uma parte de um compêndio, uma antologia de conhecimento cultural que tinha suas peças conectando-se internamente e recorrendo umas às outras para criação de significados.
Uma figura bem popular nos panfletos era o “O homem do como vai”, a imagem de um homem que parece sempre estar em direção a um lugar ou alguém. Geralmente, o homem era posto nas histórias como inocente e apaixonado. Então, alguns escritores colocaram sua imagem em histórias onde “O homem do como vai” fosse o oposto, de modo a causar surpresa aos que lessem depois.

Katie Sisneros pontua que esse artificio continua a ser utilizado por nós, não se limitando à área editorial mais. Pegamos imagens, adicionamos novos elementos e trazemos uma nova perspectiva a partir do já conhecido.

O ensaio se mostra uma surpresa bem agradável. A linguagem é acadêmica, mas os trechos de cantigas e imagens facilitam o entendimento. Sisneros conecta pontos até então pouco explorados, e após sermos contextualizados sobre esse tema tão incomum, logo abrimos os olhos para as críticas da autora. Importante mencionar que metade do e-book está em inglês, para os interessados em conferir os trechos originais.
O modelo de negócio do banco de imagens treinou o consumidor moderno no sentido de aceitar a presença de uma imagem que provavelmente já tenha visto antes em um contexto completamente diferente e simultaneamente, a fazer uma releitura dessa imagem como sendo algo novo e específico.
Memes da Idade Moderna é uma leitura acadêmica interessantíssima, pois traz uma visão muito criativa e rara. Sem dúvidas, o artigo é versátil e lucrativo para todas as áreas de estudo. Quem diria que podemos falar sobre xilogravuras e memes na mesma conversa?