Dirigido por Aly Muritiba, Deserto Particular estreou recentemente, mas já se tornou um dos filmes nacionais mais significativos dos últimos anos.
No filme, acompanhamos Daniel (Antonio Saboia), um policial que mora em Curitiba e acaba cometendo um erro, deixando sua carreira em risco. Quando ele se dá conta de que não tem mais nada a perder, parte em busca de Sara (Pedro Fasanaro), uma mulher com quem se relaciona virtualmente.
O desenrolar de Deserto Particular
A narrativa usufrui de um ritmo mais lento, em seu primeiro ato. Afinal, tudo nesse início torna-se necessário para imergimos na vida do protagonista: quem é ele, o que ele faz, como ele vive e quais são suas ambições. E mesmo com tudo isso, ainda não o conhecemos totalmente.
Quando entendemos suas motivações para viajar, e a viagem de fato acontece, o tom do filme muda completamente. Saímos de Curitiba, com uma tonalidade mais limpa e até “fria”, para então, chegarmos em Juazeiro e termos a adição de cores mais quentes e a estética mais chamativa. Além da transição visual, faz total sentido quanto à narrativa e o que irá ocorrer.
Se tem uma coisa bem trabalhada no filme, ela se chama: roteiro. Nada é por acaso e tudo está em prol da história, até um simples momento onde notamos despretensiosamente uma pessoa sentada atrás de Daniel. As revelações são surpreendentes, e chega um ponto em que já não sabemos qual será o rumo dos acontecimentos.
Dessa forma, quando passamos a acompanhar a história de Sara, o filme nos instiga a imergir nessa realidade e nos infelizes preconceitos presentes. Então, o desenrolar se mostra bastante orgânico e flui de maneira que não fique desinteressante. Mas, sim, que fiquemos investidos nessa desconstrução.
As atuações de Antonio Saboia e Pedro Fasanaro são o grande destaque. Notamos a entrega, sutileza, tristeza, raiva e sensibilidade na forma com que o texto é entregue por eles. E mesmo que a última cena seja inevitável, existe a recompensação antes.
A importância de histórias como essa
Uma das tarefas principais de um filme, se não, a maior, é: estimular o pensamento. E é impossível sair desse filme sem que ele não fique com você. Não apenas pela revelação, mas por toda a sinceridade em como tudo é retratado. Afinal, essa luta é real e como muitas das pessoas ao redor reagem, infelizmente é atual.
O filme fala sobre encontrar a si mesmo, como ser quem você é não diz respeito a mais ninguém. Por isso, a forma com que a história se torna íntima desses personagens, faz o público ter uma noção dessas vivências sofridas, dado o que sabemos ou vamos descobrindo desses personagens.
Existe muita sensibilidade e amor nessa história, não apenas amor físico, mas próprio, também. Ela é necessária, já que mostra a ruptura ao artificial e o abraço ao verdadeiro. São histórias como essa, que merecem visibilidade e reconhecimento, por tratar de assuntos tão sérios e com tanta particularidade.
O filme iria representar o Brasil no Óscar 2022. E, mesmo tendo ficado de fora dos pré-selecionados para Melhor Filme Internacional, sua importância continuará perdurando por anos e teremos orgulho de dizer que o longa é brasileiro. Aliás, para quem mora em Curitiba, aquele início é maravilhoso.
Portanto, Deserto Particular é poético, essencial e marca quem assiste. E, apesar de já termos filmes com essa temática, a totalidade desta obra exala força e inspiração na forma como foi contada. Aly Muritiba fez um grande trabalho e você não pode perder!