Neste livro, o antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin nos introduz às problemáticas envolvidas no ensinar, e trata das questões do aprender e compreender.
O autor defende uma reforma do pensamento, cheia de etapas, que combinam questões externas e internas. Defende também a necessidade de mais dinamismo nas salas de aula e menos hierarquização no ambiente de estudo. Mas, apesar de acertar em alguns pontos, vemos muitas citações de outros autores e pouco uso da fala direta, de instruções mais precisas. Como podemos colocar em prática esse plano? Como podemos explicar tudo isso de maneira simples para as pessoas ao nosso redor?
Ao longo do texto, vários cenários são introduzidos ao leitor: vamos do Cosmos à Grécia Antiga, tudo com a intenção de um panorama sobre a evolução do aprendizado. Em sua abordagem, também insere diversos campos de estudo, tais como Ecologia, História e Literatura. Fica óbvia a razão: ganhamos mais com a interdisciplinaridade. Quando separamos as áreas, estamos perdendo a chance de fazer conexões e entender mais sobre o universo.
Os capítulos iniciam sempre como monólogos recheados de perguntas, que são destrinchadas pouco a pouco, de fato, com uma divisão admirável. Porém, muitas vezes há uma mudança muito brusca no tom do texto de um capítulo para outro. A linguagem está super fluida em um momento, depois se torna culta, depois flui de novo…
Mesmo que o dinamismo seja defendido na obra, é inevitável não perceber que a leitura não se aplica em sua própria fala, dado que pouco da população conseguiria realmente entender o texto — sua avó conseguiria entender sobre o que o livro se trata?
O mundo das humanidades vê na ciência apenas um amontoado de saberes abstratos ou ameaçadores.
Como conseguimos que um trabalhador cansado consiga se dispor a aprender coisas novas? Como fazer com que a ciência e a educação sejam menos ameaçadoras?
A PRIMEIRA FINALIDADE do ensino foi formulada por Montaigne: mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia.
Adianta ter uma cabeça cheia de saberes técnicos, mas não saber aplicá-los e compartilhá-los?
E a reforma também começará de maneira periférica e marginal. Como sempre, a iniciativa só pode partir de uma minoria, a princípio incompreendida, às vezes perseguida. Depois, a ideia é disseminada e, quando se difunde, torna-se uma força atuante.
É impossível negar que a obra de Edgar Morin é uma força da natureza, um tsunami de informações que nos acorda, que nos permite a vontade de levantar e contar nossas ideias ao mundo. E é genial como Morin consegue abordar e relacionar tantos assuntos ao mesmo tempo, seria ainda melhor se contivesse exemplos do dia a dia e uma base menos voltada à teoria.
A cabeça bem-feita é um despertar para o jovem acadêmico, é uma epifania bem elaborada, uma ótima leitura para aqueles que buscam refletir com afinco as problemáticas ligadas ao ensino.