Com certeza, os amantes de mitologia grega conhecem a polêmica história do casal Hades e Perséfone. O rapto da deusa da primavera resultou em uma aliança inesperada, fazendo com que o submundo ganhasse uma rainha. Durante seis meses, Perséfone estaria no submundo junto ao seu marido, e nas estações do verão e primavera, retornaria à Terra junto à mãe. Este mito é utilizado para ilustrar a mudança de ciclos, mas também é conhecido por apresentar um dos casamentos mais tranquilos do Olimpo.
Em A Paixão de Hades, acompanhamos uma releitura que consegue preencher as lacunas que a história original não se dá ao luxo de contar. O romance também providencia explicações convincentes para se alinharem ao roteiro original de maneira criativa, para que o público continue a gostar dos protagonistas.
O deus do submundo, nesta versão, não é juvenil, como retratado em outras mídias derivadas do tipo, muito pelo contrário. Aqui, Hades é autoritário, durão e talvez seja um pouco difícil de cativar o público com sua personalidade. Fica claro que a autora do livro não está disposta a abrir mão deste aspecto do personagem para o tornar mais sociável aos nossos olhos.
— Creio que já ouviu falar de mim no Olimpo, Minha Senhora. — Hades fala, ajoelhando-se aos pés da cama e tocando na pequena mão de Perséfone, levando-a aos lábios. — Hades, ao seu dispor.
Devemos conhecer Hades por inteiro, e não apenas suas partes agradáveis. Isso, contudo, é um ato bem corajoso, já que mostra que os deuses do Olimpo estão longe de ser as criaturas dóceis que pintamos atualmente. O deus do mundo subterrâneo é impiedoso, mas também tem um coração, e que bate por Perséfone.
Já sua parceira, a rainha do mundo inferior, também surpreende com uma personalidade ousada e natural. Perséfone não está aqui para ser a flor delicada, ela também é inteligente, corajosa e disposta a enfrentar tudo para estar perto de quem ama.
Pode ser um tanto complicado para os leitores acompanharem essa leitura, pois sua linguagem não é a de um “romance bobo”. A escrita é formal o suficiente para ser entendida, mas contém alguns termos específicos da mitologia, como titanomaquia, por exemplo. Você pode dar uma pausa na leitura para realizar uma rápida pesquisa, se julgar necessário.
Hades tinha a depositado no solo de onde eles estavam, mas não rompeu o contato físico, agora envolvendo a jovem com os dois braços e sentindo os corações de ambos batendo com força contra suas caixas torácicas.
A Paixão de Hades é um ótimo livro para aprender mais sobre mitologia grega de maneira divertida, com personagens bem mais humanos do que parece. A escritora, B. M. Oliveira, usa de seu extenso conhecimento sobre o tema para nos presentear com um pedacinho da mitologia adorável. Sem dúvidas, adorável, fiel ao original e surpreendente.