The Walking Dead é um produto que se expande por várias mídias, e consegue fazer muito sucesso em todas elas; desde quadrinhos originais, até a famosa série e, é claro, os jogos.
Clementine é uma das personagens mais amadas dessa franquia, e ela nem mesmo precisou aparecer na série ou nos quadrinhos para isso…. Até agora.
Escrito e desenhado por Tillie Walden, Clementine: Book One narra a história da protagonista dos jogos da Telltalle após o fim da história vista nos jogos, lidando com um mundo frio e cruel.
Uma narrativa deprimente
Primeiramente, é preciso elogiar o modo como Walden emula o mesmo sentimento de vazio e dor que os jogos da Telltalle sempre colocavam em suas histórias. Desde o primeiro jogo, quando o protagonista ainda era Lee Everett, o jogador é levado a se importar com os personagens. Isso faz a perda deles algo muito deplorável.
Assim, através das mais de duzentas páginas desse primeiro volume, acompanhamos uma Clementine abatida e traumatizada pelos eventos do jogo The Final Season, onde ela perdeu sua perna para evitar uma infecção. Clementine está indo para o Norte, para viver uma vida afastada de tudo, pois teme reviver os mesmos sentimentos de perda e morte que a assombraram por todos esses sete anos.
Contudo, ela acaba por se encontrar em uma comunidade parada no tempo. A mesma abraçou um estilo de vida antigo e vitoriano para evitar as dores do mundo destroçado pelo apocalipse zumbi.
Nesse sentido, fica claro os limites que Walden está disposta a quebrar para contar uma boa história. Claro que, na prática, essa ideia da comunidade parece um tanto boba. Mas, de fato, a maior parte dos quadrinhos de The Walking Dead já abraçou o irreal há muito tempo.
Após fugir do lugar e ter uma nova prótese colocada em sua perna, Clementine se encontra com o jovem Amos, que também pretende deixar a comunidade e ajudar outra suposta comunidade em uma montanha gelada. Assim, ambos passam a viajar pelo país, com uma Clementine hesitante em confiar em estranhos novamente.
Traços
Muito já foi dito e escrito sobre os traços de Tillie Walden, e em uma visão crua de sua habilidade, parece realmente rasurado. Mas, se comparado com a abordagem proposta pela história, algo mais cru e violento, sua arte até que combina.
Há uma certa beleza em seus desenhos, principalmente nas paisagens. E vemos muitas aqui, desde estradas, pequenas comunidades, até o pico de montanhas geladas. É um tanto reconfortante encontrar a beleza nessas pequenas coisas, assim como Clementine, ao longo da trama. Porém, isso não significa que seja automaticamente perfeita.
Alguns quadros são mais grosseiros do que outros. Isso fica bem gritante no rosto dos personagens, que não são tão detalhados quanto o resto dos outros aspectos da arte de Walden. Ainda assim, não chega a ser algo que torne a história impossível de apreciarmos.
Problemas
Entretanto, esse quadrinho não é livre de problemas, e talvez um dos maiores seja a caracterização de sua própria protagonista ao longo da história. Clementine: Book One é uma continuação direta do quadrinho Clementine Lives, onde a personagem abandona a escola do final do jogo anterior e, é claro, seu pequeno companheiro, AJ.
Quando esse quadrinho foi anunciado e lançado, houve muito alvoroço na internet a respeito de como a personagem, simplesmente, abandona algo tão importante. Para muitos, sua história já estava encerrada: ela estava feliz e não faz sentido deixar isso para trás. E, infelizmente, esse ódio é justificável.
Acima de tudo, o jogo da Telltalle finaliza a história de Clementine com muito respeito no “final bom”. Ao ver a personagem novamente nesse quadrinho, ficamos com um gosto amargo na boca, pois, algo teve que ser sacrificado para esta história existir.
No entanto, ele trabalha o drama de Clementine de forma bastante “humana”, e no fim das contas, é uma ótima história de The Walking Dead. Mas, talvez, seus próximos volumes precisem de muito mais para dar um fechamento orgânico à personagem tão amada pelo público.
Veredito
Apesar da descrença de alguns fãs, e de seus erros, esta é uma boa história. Há uma certa aura de desesperança ao longo da trama tão bem escrita por Tillie Walden.
Dessa forma, acompanhamos uma personagem quebrada e traumatizada, que reaprende o valor das pequenas coisas em meio a um mundo caótico e destruído. Essa mensagem é valiosa, pois é tão assustadoramente aplicável ao mundo atual e, é claro, ao mundo nos olhos de uma mulher.