Em poucos dias, a adolescente Claudine Henry teve o chão tirado de seus pés. Parece que o mundo a sua volta resolveu se transformar de última hora, pouco antes de sua formatura. Sua melhor amiga anda escondendo segredos, seus pais estão se separando e o garoto dos sonhos finalmente a notou… O único problema é que antes que Henry consiga assimilar tudo, a garota é enviada para passar alguns dias em uma ilha com sua mãe, onde conhece Jeremiah Crew, um garoto que pretende fazer com que Claude viva ao máximo nos poucos dias de seu romance juntos.
Que personagem interessante é a Claude! Muitos reclamam de suas atitudes, mas não podemos nos dar ao luxo de dizer que ela é uma protagonista que “segue o roteiro”, não é? Chega a dar alívio de ver uma garota que tem suas inseguranças, que não tem o físico perfeito e que comete erros de vez em quando. Seu interesse amoroso, Jeremiah Crew é cheio de personalidade, e mostra que mesmo tendo um passado difícil, está longe da pessoa ruim que muitos pensam ser.
— Eu pego para você. Posso ser cavalheiro de vez em quando.
Após a leitura, é impossível não elogiar a ambientação que a autora Jennifer Niven faz dos cenários no livro. Mesmo aqueles que não gostam da ideia das longas descrições se apaixonam por sua escrita quando fala dos ambientes fictícios. Você pode sentir a aura da ilha, consegue ouvir os sons que a personagem se assusta, ver pelo seus olhos o que está acontecendo. Muito disso se deve à ligação que os personagens criam com o ambiente, sabe? Não é só um espaço vazio que existe para que a história aconteça, faz parte da história, se torna tão importante para você quanto é para eles. Visualizamos com clareza as tartarugas na areia da praia, a noite cheia de vagalumes, os escombros da propriedade dos Blackwood…
O tempo passa de um jeito um pouco diferente. As pessoas vivem de um jeito um pouco diferente. Aqui você pode, bem, ser você mesma. É um dos motivos para ficarmos. Ou, se vamos embora, acabamos voltando.
Que incrível é a aproximação entre Claude e Miah! Por mais que todos nós adoremos o bom e velho amor à primeira vista, também é ótimo ver como a maioria dos relacionamentos acontece: ao acaso e não de imediato. Os erros que cada um cometem não são apenas devido a suas inseguranças, mas também um reflexo de suas dificuldades agora. Ambos são jovens, e não precisam ser especialistas na arte dos relacionamento e sexo.
É como vaga-lumes, mas também é como escrever. A sensação de quando você escreve uma frase ou um parágrafo, ou uma cena muito boa e verdadeira, e se sente invencível, como se pudesse fazer qualquer coisa. É tipo um superpoder, e naquele momento você é intocável, a melhor que existe.
A escrita que foi utilizada para dar luz aos pensamentos de Henry nos faz ter empatia por sua situação. Dentro de sua cabecinha, a vemos agir de maneira confusa muitas vezes, sem saber o que fazer. E nos seus momentos de glória, Claude é extremamente talentosa em conseguir expressar aquilo que quer, sendo poética em muitos diálogos.
Não podemos deixar de lado o lindo trabalho que a escritora fez nos relacionamentos com os personagens secundários, que possuem voz e vida própria, além de uma ligação verdadeira com a protagonista. Eles não estão ali de enfeite, eles importam algo para Claude. Sua relação com a mãe é linda de se ver já que mesmo com todas as dificuldades, ambas ainda demonstram que estão ali uma para a outra.
Ela é linda — radiante e viva como um campo de margaridas —, mas não sabe. Porque a vida inteira, todo mundo sempre lhe disse o quanto ela é inteligente, e a primeira vez que alguém que não era meu pai disse que ela era linda, ela tinha, tipo, uns trinta anos.
Chega a ser reconfortante conhecer as tramas que foram abordadas com máxima delicadeza em Sem ar. A escrita faz você submergir nas situações. Você sente os sentimentos de Claude e como seu mundo está mudando. Você sente o momento em que ela também começa a mudar. Na verdade, o foco desse livro é muito mais complexo do que parece. O romance de Miah e Claudine é tão importante quanto seu processo de autodescoberta, quanto à história da ilha, quanto às mudanças ao seu redor. Um universo e vidas surgiram no processo de criação e parece quase que indecente resumir tudo em um mero romance.
— Para onde você acha que o amor vai quando as pessoas deixam de nos amar? Você acha que existe, tipo, um ferro-velho para todo o amor perdido e descartado?”
Uma das frustrações e trunfos do final do livro é não saber o que acontece em seguida. Parabéns pela autora por não ter resolvido os problemas em um passe de mágica com a varinha dos roteiros que muitos escritores usam nas últimas páginas. Infelizmente, essa é uma daquelas obras que você sente que qualquer tentativa de continuação, que qualquer resposta definitiva irá arruinar a trajetória feita até o momento. Com a Claude, descobrimos o início de uma nova jornada, o acordar para uma nova aventura ainda não descoberta.
Em resumo, Sem ar consegue ser bem construído, emocionante e poético, tudo de uma só vez.