Tem algumas histórias que quando terminamos de ler, assistir ou ouvir precisamos conversar sobre. Esse sentimento geralmente vem com obras complexas e/ou épicas e se encaixa perfeitamente com a série de ficção científica The Feed (ou “A Fonte”), disponível a mais de um ano no catálogo da Amazon Prime Video mas que só tive conhecimento poucos dias atrás.
A série apresenta um futuro não tão distante, onde a grande maioria dos seres humanos possuem super computadores dentro de suas cabeças, conhecido como A Fonte, funcionando como um super smartphone, com ferramentas que supostamente deveriam facilitar a vida na terra. Há uma infinidade de funcionalidades na Fonte: comunicação, entretenimento, movimentações bancárias, empregos, entre outras. Porém, tudo começa a dar errado quando uma espécie de hacker danifica a Fonte, fazendo com que os afetados se tornem violentos e matem a sangue frio. E se você pensar que isso é “muito Black Mirror” acredite, é melhor!
Na trama acompanhamos a família Hatfield, cujo o pai Lawrence (David Thewlis, o Lupin do Harry Potter) é o criador da tecnologia. Além de conspirações, revoltas e distopia causada pela fonte, a série traz um drama familiar, que em nenhum momento diminui a tensão causada pelos danos da tecnologia, ao contrário, traz mais realidade com diálogos viscerais, o ponto alto da série. As discussões entre os membros da família são de tirar o fôlego muito pela excelente atuação dos atores, que se entregam ao papel de uma forma peculiarmente natural como se tivessem nascido para viver os personagens.
Thewlis, personagem Lawrence, é o melhor em cena e funciona como um anti-herói. Já seu filho Tom (Guy Burnet), um psicólogo que não é muito fã da Fonte, é o protagonista da série. Além desses há a mãe Meredith (Michelle Fairley, a Catelyn Stark de Game of Thrones), que acrescenta muito nesse ponto de atuações fantásticas. Por último o controverso Ben (Jeremy Neumark Jones), que funciona como o personagem mais apático entre os Hatfields. Há outros personagens interessantíssimos na série que figuram entre os antagonistas e coadjuvantes, todos possuem certa relevância. Pode-se destacar ainda os personagens Kate (Nina Toussaint-White), que tem uma trama paralela a principal, e Max (Osy Ikhile), que esta entre as coisas mais legais da série.
A série funciona seguindo várias sub-tramas entorno da principal, abordando diversas histórias diferentes e trazendo reflexões sobre o uso descontrolado de tecnologias, sobre a perda da privacidade por conta de redes sociais, assunto muito abordado no cotidiano em outras obras como o excelente documentário da Netflix, O Dilema das Redes e em séries como Black Mirror. Mas aqui, a abordagem é um pouco mais profunda, quando se entende as razões dos acontecimentos da trama principal. Razões essas que geram discussões reflexivas e filosóficas sobre assuntos muito mais profundos, como o “ser vivo”, sobre o que é considerado vida e sobre a própria humanidade.
Elenco e roteiro não são os únicos pontos altos em The Feed, a série conta com uma produção impecável principalmente quando se trata de trilha sonora e fotografia, que dão sutileza a detalhes que tornam os episódios ainda mais bonitos.
No decorrer da série algumas discussões políticas e sociais também se tornam pauta, provando que The Feed é muito mais do que se propõe inicialmente. A séria atrai o público com sua distopia disfarçada de utopia que se desenrola numa história cheia de discussões extremamente atuais. É aquele tipo de série para assistir e refletir logo depois de terminar.
A série deixou pontas soltas para uma segunda temporada que, em virtude da pandemia da Covid-19, ainda não tem previsão de retorno. Ainda assim, tem potencial para se tornar umas das grandes séries do momento. Seus 10 episódios, de mais ou menos 55 minutos cada, estão disponíveis no catálogo da Amazon Prime Video.