George R. R. Martin deu vida à extensa, cruel, e, ao mesmo tempo, fascinante terra de Westeros em A Guerra dos Tronos. Mas, pode-se dizer que foi só em As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis que ele deu cor ao seu mundo, uma cor vermelha de sangue. Após a execução de Ned Stark, os sete reinos sangram.
Os Starks, liderados por Robb Stark, lideram uma ofensiva nas Terras Fluviais, apoiados pelos Turly. Enquanto isso, Stannis Baratheon, irmão de Robert Baratheon, marcha com seu gigantesco exército para Porto Real a cada dia que passa.
Porém, essa não é a única ameaça que paira sobre a terra. Além da muralha, há boatos que milhares e milhares de selvagens marcham contra Westeros.
A guerra é densa, e os corações desses personagens também.
Cometas, genocídios e guerra
Martin se aproveita de muita metalinguagem para expandir os núcleos de personagens iniciados no livro antecessor. Entre elas, a mais notável e óbvia, é o cometa vermelho que corta os céus de Westeros ao longo da história.
As chamas de uma interminável guerra queimam em volta de todos os personagens, e, a partir deles, acompanhamos o conflito de distintas visões. Desde Tyrion Lennister lidando com sua sede de poder em Porto Real, até Arya Stark nas Terras Fluviais, vendo de perto a destruição que a guerra causa, e finalmente, Jon Snow na muralha.
Dessa forma, o cometa serve quase como um aviso ao leitor. Pois, não importa o quanto os personagens lutem para achar esperança no caos, ele está pairando acima de suas cabeças, no céu, em toda parte.
Ao passo que o centro do livro anterior, Os Starks, se separam pelo mundo e tem que sobreviverem sozinhos, o leitor se sente quase atordoado.
De uma hora para outra, temos que aprender a lidar com o vazio da perda de certos personagens, e de portos seguros, sentimento alimentado pelo constante aspecto brutal da Guerra dos Reis.
Melhor uso dos personagens
Desde já, é notável uma bruta evolução na escrita de Martin. O mesmo se vê livre de certas correntes da narrativa do livro anterior. De certa forma, A Guerra dos Tronos servia como uma desconstrução da típica história de fantasia medieval.
Um herói (Ned Stark) vai para a cidade, desvenda uma grande conspiração, salva o rei e sua família! Ou… Não. Ned Stark é morto, sua família é despedaçada, e os mesmos Lennisters corruptos continuam sentados no trono.
A mensagem é clara; a honra pode matá-lo nesse mundo, e ela matou Ned Stark. Assim, Martin está livre para explorar Westeros de formas mais nuas e cruas, além daqueles que lá habitam. Honra perde seu valor, e nos deparamos com um mundo mais cinza e opaco.
Ambicioso, ele descreve cenários e o mundo de forma muito mais orgânica, o mesmo se reflete nos núcleos dos personagens.
Conforme o leitor acompanha desenrolares interessantes para vários personagens: Theon Greyjoy querendo recuperar a honra de sua família, já que ele fora capturado pelos Starks, e cresceu com eles. Tyrion Lannister “governando” em Porto Real, mas sendo taxado de um líder cruel.
Até mesmo Davos, um dos aliados de Stannis que tenta lidar com a difícil, e complicada relação com seu rei.
A questão é que cada personagem vai lidar com as consequências das ações de cada “rei” na guerra. Seja Arya Stark vendo a destruição causada pelos Lannisters, quanto Catelyn Stark calculando os erros de seu filho do lado oposto. Fazendo jus ao título do livro.
Infelizmente, alguns capítulos e núcleos se estendem demais, criando algumas lacunas nos desenvolvimentos de certos personagens. Mas isso seria inevitável em uma história com tantos personagens.
Veredito
George R. R. Martin prova que é um dos melhores escritores de sua época, navegando pelas emoções do leitor de forma muito pessoal. Pessoal, pois ele não tem medo de introduzir elementos brutos, cruéis, duvidosos e deprimentes em cada um de seus personagens.
Dessa forma, As Crônicas de Gelo e Fogo: A Fúria dos Reis serve não só como uma sequência digna à Guerra dos Tronos, como também uma introdução a uma Westeros em tempos de caos.
Nesses tempos, a esperança é algo distante. Talvez seja mais sábio se abraçar as pequenas coisas, de certa forma, As Crônicas de Gelo e Fogo são histórias sobre materializar a esperança em um mundo cruel, por mais longe que ela esteja de suas mãos.
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