Quem assistiu ao filme da Liga da Justiça deve lembrar da cena: Barry Allen e Bruce Wayne chegam então ao carro, seguindo pelo beco. Ao entrar, com a voz embargada devido a um pedaço de pizza, que comera a momentos atrás, Barry questiona: – Qual é o seu super poder mesmo? – Ao que Bruce o fita sério e, com a mesma secura de seu olhar, responde: – Eu sou rico!
Na verdade o herdeiro do império Wayne é bem mais que isso. Talvez, a melhor definição de Batman seja: “o melhor detetive do mundo”. Óbvio que seus aparatos e apetrechos tecnológicos ajudam nas investigações. Porém nada além do instinto único de caça a criminosos, nascido após a morte de seus pais, e sede pela justiça, alimentada e trabalhada após anos de (árduo) treinamento, poderiam alinhar atributos na formação de um herói, ao invés de dar à luz um justiceiro comum.
Em 30 de março de 2019, Batman comemorou 80 anos de sua estreia na Detective Comics #27. Ou seja, desde de 1939, quando foi criado pelo escritor Bill Finger e pelo artista Bob Kane, o homem morcego cuida da soturna Gotham City, com ajudas frequentes de seu mordomo Alfred, seu amigo Comissário Gordon e, em alguns arcos, seu fiel escudeiro Robin.
Neste especial vamos tratar sobre momentos marcantes do Batman nestes mais de 80 anos, tanto nos quadrinhos como na TV e cinema.
Batman no Cinema
Até o momento, são 7 filmes do Batman no Cinema: Batman (1989) e Batman – O retorno (1992): dirigidos por Tim Burton; Batman Eternamente (1995) e Batman & Robin (1997): dirigidos por Joel Schumacher; e a premiada ‘Trilogia Nolan‘: Batman Begins (2005), Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) dirigidos por Christopher Nolan.
Lembro-me de ter assistido com meus pais, por duas vezes o filme Batman (1989) no cinema, antes que me chamem de velho, deixe-me acrescentar: que experiência! A Gotham City criada por Burton é, até hoje, a mais bem caracterizada. Becos escuros, arranha-céus semi encobertos por nuvens e, em seus topos, extremidades ornamentadas com gárgulas. Bravo, Burton! Deixou sua marca indefectível em dois filmes, que hoje são ultrapassados, mas não se pode negar que foram um marco para a época. Não se pode tecer o mesmo elogio dos filmes seguintes, dirigidos Schumacher, que foram criticados na época e hoje são relegados ao esquecimento.
Após um hiato de 8 anos, surge uma obra prima. Na opinião de muitos, não se trata de uma trilogia de herói, mas sim policial com um herói inserido na história. Nolan disse em uma palestra no 71º Festival de Cannes:
“Venho do noir e Batman é um herói que lida com o tom sombrio desse gênero em sua gênese. Os filmes e os quadrinhos sobre ele não exploram sua origem, que vem de um trauma, de uma perda. Eu tentei ir por esse caminho, mais humano”, disse Nolan. “Cada um dos filmes da trilogia tem elementos de um gênero diferente de acordo com o vilão que tem. Batman Begins é uma história de formação, tendo como inimigo um ex-mentor: Ra’s Al Ghul. O Cavaleiro das Trevas, a partir do Coringa, está mais perto dos thrillers policiais de Michael Mann. Já o terceiro, operístico, funciona como um épico de guerra, tendo Bane como um terrorista”.
De fato, os vilões do universo de Batman são um ponto a parte. Mas fica para o próximo tópico.
Os Vilões
Pode-se dissertar sobre os vilões de Gotham com uma constatação: quando presos, eles não são levados a cadeia comum (com raríssimas exceções, claro), são internados no famoso Asilo Elizabeth Arkham para os Criminalmente Insanos (Elizabeth Arkham Asylum for the Criminally Insane) – um hospital psiquiátrico! E não são poucos! Pinguim, Charada, Mr. Freeze, Hera Venenosa, Duas-Caras, Bane, Coringa entre outros. Este último, sem dúvida, um dos mais icônicos vilões de toda ficção.
O Coringa carrega, em si, o arquétipo de vilão que a mitologia de Batman precisa. Teve as versões mais variadas. Desde a mais cômica, interpretada por Cesar Romero nos anos 60, passando por Jack Nicholson, em 1989, até a formidável personificação do caos, o Coringa de Heath Ledger em 2008. E que caos! Em uma de suas falas em Batman: O Cavaleiro das Trevas, Coringa diz: “Eu sou um homem simples. Gosto de dinamite, pólvora e gasolina” e em outra: “Veja o que eu fiz nesta cidade com alguns barris de gasolina e umas balas“. Isso demonstra que o grande perigo do Coringa não é o que ele tem em mãos; mas o que pode ser feito com o que ele tem em mãos sob a ótica de sua mente doentia.
Sem duvida, o sucesso de Batman se deve a qualidade e loucura de seus vilões.
Batman nas HQ’s
Desde 1939 foram publicadas inúmeras histórias do Homem-Morcego, consagrando-o como um dos maiores super heróis de todos os tempos. Selecionamos 5 das mais conhecidas e aclamadas:
Detective Comics #27
Começando pela Detective Comics #27, com a história “O Caso do Sindicato Químico”, onde um homem ganancioso matou seus sócios para assumir o controle de uma Indústria Química.
Esta história termina com o assassino caindo em um dos tonéis de produtos químicos da indústria (similar a situação de origem do Coringa no filme de 1989).
A Piada Mortal
Nesta história é revelado que Batman teve papel, indireto, na criação do Coringa, algo interligado com sua primeira aparição em Detective Comics #27.
Por mais que não tenha sido revelada a origem do Coringa, muitos consideram A Piada Mortal a origem do personagem.
O Cavaleiro das Trevas
Considera-se ainda hoje que Frank Miller fez uma verdadeira obra-prima ao escrever a saga O Cavaleiro das Trevas. Com um Bruce Wayne mais velho e aposentado, a história serviu de referência para o filme Batman vs Superman: A Origem da Justiça.
A Corte das Corujas
A Corte das Corujas apresenta a sociedade secreta de magnatas de Gotham City, que sempre comandaram das sombras tudo o que acontecia na cidade. Juntos formavam uma poderosa sociedade secreta, que não poupava esforços para eliminar quem entrava em seus caminhos. Dentre eles, os Wayne.
A Queda do Morcego
A Queda do Morcego e Terra de Ninguém serviram de inspiração para Christopher Nolan para o filme O Cavaleiro das Trevas Ressurge.
Nesta história Bane derrota o Batman quebrando-lhe a coluna ao meio, que acaba tendo como substituto o assassino Azrael. Depois de se recuperar, Batman consegue finalmente derrotar o Bane.
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Uma grande característica de Batman é não matar. Não por isso ele seja ‘bonzinho’. Já quebrou muitos ossos e costuma ‘fazer mingau de criminosos’, como bem lembrou Lucius Fox. 81 anos foi pouco para um personagem com um universo tão rico ao seu redor e uma psiquê quase inexplorada no cinema. Um questionamento comum é: Batman é o alter ego de Bruce Wayne ou seria o contrário?
Christopher Nolan confessou que o que mais o atraiu em trabalhar na trilogia foi o fato de Bruce Wayne ser um herói sem super poderes. Isso possibilitou fazer filmes bem próximos a realidade, sem firulas e fantasia (desconsidere a nave do Batman em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, claro). Um Batman que luta contra a máfia, toma para si o fardo de se passar por vilão por um bem maior, como bem disse o Comissário Gordon nas ultimas cenas de O Cavaleiro das Trevas:
‘Porque ele é o herói que Gotham merece, mas não é o que ela precisa agora. Então vamos caça-lo porque ele aguenta. Porque ele não é um herói. É um guardião silencioso. Um protetor cuidadoso. Um cavaleiro das trevas.’