Bares repletos de veteranos beberrões, ruas vazias e estranhas, desaparecimentos e crimes indecifráveis. Esses eram os cenários principais da literatura Noir, que nasceu no meio do século XIX e atingiu seu ápice no início do século XX, como uma resposta ao volume escalonar de crimes, consequência das aglomerações urbanas cada vez maiores. Era necessário mostrar que o crime não compensava e produzir protagonistas capazes de ganhar a afeição e identificação do público, os famosos e cativantes detetives e investigadores de romance policial.
Mistério, esse era o segredo do sucesso dos folhetins, alguns lançavam os contos aos capítulos, mantendo assim os fãs ávidos pelo próximo capítulo que traria a solução ou com sorte, mais mistérios. Porém, o fator preponderante para aguçar a curiosidade e embasar os plot twists era a verossimilhança. Laudos periciais, julgamentos, interrogatórios, procedimentos científicos, embates com a mídia, tudo isso construía no imaginário do leitor uma narrativa fantástica e palpável ao mesmo tempo. E o mais importante, a produção de uma ideia moral anticrime, onde o herói aventureiro, simpático e cheio de manias, vencia de uma forma charmosa o criminoso, provocando um sentimento cultural de promoção da justiça.
Eis que nesse contexto Dashiell Hammett surge, usando o diferencial da própria experiência prática para escrever, pois trabalhou em uma agência de detetives aos 20 anos. Anos depois com o seu Falcão Maltês veio a marcar de uma vez por todos o gênero policial, ditando os caminhos e sedimentando o gênero Noir para sempre. Nesta estória ambientada em San Francisco, Sam Spade, um detetive particular sagaz que teve seu sócio assassinado após se envolver com uma mulher misteriosa, decide usar todos os meios para desvendar os segredos que se multiplicam, usando jogos de interesse e manipulações. No meio de todo esse clima tenso, onde caça e caçador se confundem, havia uma relíquia medieval de importância incalculável, o Falcão Maltês.
A importância da obra de Dashiell Hammett e tantos outros autores Noir na cultura é imensurável. Devemos a eles o grande sucesso das séries policiais como CSI e NCIS, e todas as outras que usam os elementos investigativos das estórias que circulavam cem anos atrás nos folhetins norte americanos. O gênero Noir revolucionou a ficção, trazendo o mistério que antes se passava nos grandes salões burgueses para as ruas, onde o detetive, um homem comum como qualquer outro, dotado de capacidades muitas vezes possíveis a qualquer um, poderia promover a justiça. Salvando o dia, a cidade, o país ou até mesmo o mundo.