Nascida no ano de 1982 em Pequim, na China, Chloé Zhao teve uma infância relativamente privilegiada e confortável, pois seu pai era executivo em uma grande siderúrgica do país. Desde pequena, Zhao foi influenciada pela cultura pop ocidental, interesse que cresceu ainda mais quando a jovem foi enviada para estudar no Reino Unido aos 15 anos.
Após uma temporada na Inglaterra, Chloé Zhao traçou rumo para os Estados Unidos, onde se formou no Ensino Médio e obteve graduação em Ciência Política. Após alguns trabalhos temporários e não relacionados, Chloé decidiu que aquilo que realmente gostaria era trabalhar com cinema, então se matriculou em uma escola de artes em Nova York, onde aprendeu com grandes nomes da indústria, como o diretor Spike Lee.
Assim, no ano de 2015, Chloé Zhao apresentava no Festival Sundance o seu primeiro trabalho como diretora independente, Songs My Brothers Taught Me (Músicas que meus irmãos me ensinaram, em tradução livre), um retrato intimista e poderoso da população que habita uma reserva indígena em Dakota do Sul.
Em 2018, pouco tempo após o lançamento de Domando o Destino, segundo longa realizado pela diretora e que obteve recepção extremamente calorosa do público e da crítica, Chloé Zhao abordou a Marvel Studios e demonstrou interesse em contribuir com o Universo Cinematográfico da Marvel (UCM).
A grande qualidade do trabalho da diretora já era reconhecida mesmo com um currículo resumido a duas produções independentes. Também eram evidentes as várias particularidades do cinema de Zhao, assim como o relacionamento extremamente pessoal que tinha com seus projetos. Logo, antes mesmo da diretora fazer história no Óscar 2021 com seu principal filme — Nomadland, sua parceria com o estúdio já estava confirmada.
Em um primeiro momento a diretora foi considerada para realizar o recém-lançado Viúva Negra, mas acabou por ficar na liderança de Eternos, longa que pode representar um grande marco no UCM, além de introduzir conceitos fundamentais para o desenvolvimento da saga.
Foi apenas na temporada de premiações de 2020/2021 que a diretora atingiu reconhecimento mundial, quando apresentou ao mundo o excepcional Nomadland, longa que transformou Zhao na primeira asiática da história a ganhar o prêmio de Melhor Direção no Óscar.
Agora, a cineasta que há pouco tempo trabalhava de forma independente, se prepara para lançar uma das produções mais aguardadas do Universo Marvel — Eternos, que inclusive já possui um trailer publicado, confira:
Com apenas dois minutos de cenas já é possível perceber algumas das características que marcam a obra da diretora, como a utilização de cenários grandiosos e naturais, uma fotografia que aproveita a iluminação natural e o emprego de planos mais amplos, inclinados para um estilo épico de cinema.
Entretanto, ainda que os atributos da diretora pareçam ter sido respeitados, também existem aspectos comuns de um filme hollywoodiano com os quais uma realizadora independente como Chloé Zhao não está acostumada, como efeitos visuais, orçamento exorbitante, elenco inteiramente profissional e a recepção de uma enorme massa de fãs.
Mas para aqueles que se preocupam com a capacidade da diretora em superar desafios, basta conhecer o caso de Nomadland, primeiro filme de sua carreira que contou com uma atriz profissional, que era ninguém menos do que a já duas vezes ganhadora do Óscar, Frances McDormand.
Mesmo diante da complexidade de dirigir alguém do calibre de McDormand sem possuir experiência prévia com atores profissionais, Chloé Zhao triunfou e estimulou a atriz a realizar uma das melhores atuações de sua carreira. Todo o esforço foi recompensado quando Frances recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Óscar 2021.
Portanto, em vista do grande lançamento de Eternos que ocorrerá em 5 de novembro desse ano, nada melhor do que começar a se preparar para esse evento conhecendo os trabalhos anteriores da diretora:
Songs My Brothers Taught Me
Chloé Zhao nunca possuiu um sentimento forte de identidade. A cineasta já relatou em algumas entrevistas que a vida divida entre influências orientais e ocidentais retirou dela qualquer sentimento verdadeiro de pertencimento a uma cultura ou nação. Portanto, era natural que o trabalho de Zhao priorizasse indivíduos com os quais ela se identificasse, ou seja, populações marginalizadas e pessoas voltadas para uma contracultura.
Assim se origina o primeiro longa da diretora, Songs My Brothers Taught Me, com uma narrativa protagonizada por dois irmãos que descendem dos indígenas Sioux e habitam a Reserva de Pine Ridge, em Dakota do Sul. Os atores do filme eram amadores, e grande parte daquilo que aconteceu com os personagens na obra refletiu a realidade dos intérpretes, que também moravam na reserva indígena apresentada. Desse modo, a trama combinou situações reais com complementos ficcionais roteirizados por Chloé Zhao.
A narrativa é fortemente centrada em questões de família, comunidade, amizade, adolescência e união. Em termos de amor entre irmãos, é definitivamente uma das representações mais genuínas e encantadoras da história do cinema.
Domando o Destino
O segundo filme da carreira de Chloé Zhao repete o cenário (Dakota do Sul), assim como a forma de desenvolver a narrativa, misturando fatos com ficção. Outra constante é o retrato de uma população minoritária, que posiciona agora olhares para os caubóis contemporâneos.
É comum imaginar o caubói estereotipadamente, ou como uma figura cinematográfica idealizada ou como representação de um passado ultra-conservador que deve ser superado. No entanto, raramente nos aprofundamos na verdadeira existência de tais indivíduos, ou conhecemos as questões e os problemas que perpassam suas vidas atualmente. Assim, o segundo trabalho de Zhao busca novamente suprir uma carência de representação.
Em Domando o Destino nos é apresentada a história de Brady, um caubói de rodeios contemporâneo que se fere gravemente enquanto praticava o esporte, e que precisa agora se adaptar a uma nova vida desprovida de sua maior paixão — cavalgar —, pois um novo acidente similar ao primeiro seria provavelmente fatal.
O protagonista, Brady Blackburn, é interpretado por Brady Jandreau, mas o nome não é a única semelhança que ambos compartilham, pois, Jandreau interpreta uma versão roteirizada da sua própria vida como caubói de rodeios que se acidentou. O jovem ainda se recuperava de um traumatismo craniano grave durante as gravações, mas isso não o impediu de entregar uma atuação irretocável, mesmo sem conhecimentos prévios.
Nomadland
Se em um momento anterior apenas os mais cinéfilos conheciam o trabalho de Chloé Zhao, tudo mudou após o lançamento de Nomadland. O projeto em parceria com a super premiada atriz Frances McDormand colocou o nome da cineasta no mapa, assim como mostrou ao mundo a habilidade que a diretora possui para contar grandes histórias.
O longa retrata a realidade dos nômades contemporâneos que habitam os Estados Unidos, pessoas que vivem em trailers e estão em constante viagem pelas estradas do país. A obra rompe com a noção idealizada de viver em movimento por escolha ao demonstrar que para muitos aquela é a única opção.
Ao invés da ideia do jovem amante da liberdade que decide viver em uma van para viajar o mundo, assistimos uma população mais idosa, cujos salários de aposentadoria e os benefícios sociais são tão irrisórios que a melhor alternativa para sobreviver é morar em um veículo.
A protagonista Fern, interpretada por McDormand, é o motor ficcional que opera para a narrativa prosseguir, mas a obra em si, representa um aglomerado de histórias e pessoas reais que a equipe do filme conheceu na estrada durante as filmagens. Assim como em seus outros dois projetos, Chloé Zhao harmoniza realidade com ficção e produz poesia em forma de cinema.
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E aí, se interessou ou já assistiu algum? Já conhecia o trabalho da Chloé Zhao? Conta para gente aí nos comentários!