Uma das coisas mais difíceis na vida é dar adeus àqueles que amamos. E esse triste sentimento do adeus pode ser a metáfora perfeita para exemplificar o final da história do lendário herói da Britânia, Artur, em as As Crônicas de Artur: Excalibur, escrito por Bernard Cornwell.
Neste terceiro e último volume da série, iniciada com O Rei do Inverno e O Inimigo de Deus, continuamos seguindo o protagonista Derfel, que imerge na história em um momento em que a Britânia se encontra cercada pela escuridão, perdendo os últimos resquícios de esperança. E conta os últimos esforços de Artur para combater os saxões e triunfar sobre um casamento e sonhos desfeitos.
Assim como em seus livros anteriores, Bernard Cornwell não poupa esforço para nos fazer sentir, absolutamente, ambientados na Britânia no século V, ao nos apresentar costumes e culturas que existiam na época de uma forma muito profunda e detalhada. Tal como os personagens que acabam metidos em conflitos políticos e religiosos que marcam está época, fazendo com que a imersão no mundo em que a história se passa seja muito mais concretizada.
O autor consegue contar uma história épica envolvendo contextos históricos e a lenda do Rei Artur, com personagens cativantes em situações que seguem a mesma linha já apresentada pelo autor nos livros anteriores e, sem se desprender do que já vinha sido feito, a história parece se renovar a cada página que passa, nos dando a sensação de estarmos presos àquela aventura e querermos avançar ainda mais, enquanto não queremos que acabe nunca. O autor dá uma aula sobre como manter o interesse do leitor mesmo após mais de mil páginas.
O título do terceiro livro, Excalibur, é totalmente aceitável por conta da importância da espada na narrativa. Cornwell além de todos os elogios já ditos aqui, consegue desenvolver personagens importantes e interessantes que vão além dos homens e mulheres apresentados. No livro anterior, o druida Merlin, está desesperado em busca dos tesouros da Britânia para realizar um ritual que traria os deuses antigos de volta e expulsaria o cristianismo e os saxões da Britânia, restaurando a paz em todo o mundo. E a lendária espada de Artur é um destes tesouros. Além disso, a espada está centrada em vários momentos da história. Momentos de glórias e de terror entre os protagonistas e, talvez, no momento mais bonito e emblemático de toda a saga, que envolve também a espada como o centro da trama.
Há muitos momentos marcantes, mas existe um em que a percepção do leitor com alguns personagens mudam, e está em um dos momentos mais imersivos de toda a saga: A Batalha do Mynydd Baddon; quando os britânicos enfrentaram os saxões para pôr um fim à disputa. A batalha é tão intensa, emocionante, dramática, violenta e assustadora, que é possível sentir a ansiedade e a adrenalina que os personagens poderiam estar sentido ao decorrer da narrativa. A cada morte saxã, é possível vibrar com os personagens, cantar a música de guerra, e sentir o cheiro de suor das claustrofóbicas paredes de escudos.
Bernard Cornwell, consegue nos fazer passar a amar personagens que odiamos e vice-versa. No decorrer da trama, alguns personagens tramam contra os protagonistas, mas depois buscam redenção, porém, o contrário acontece também e o tempo todo novas tramas vão surgindo, nos mantendo cada vez mais imersos na história, sem pressionar ou apelar para coisas desnecessárias.
As Crônicas de Artur é uma das séries de ficção histórica mais épica, divertida e emocionante de todos os tempos, valendo a pena cada segundo da trama dos três livros, que cresce em qualidade a cada momento que passa até o seu último suspiro, que acontece como um adeus a um amigo que sabemos que não veremos outra vez.