“Os Bridgertons são, de longe, a família mais fértil da alta sociedade. Essa qualidade da viscondessa e do falecido visconde é admirável, embora se possa dizer que suas escolhas de nomes para os filhos sejam bastante infeliz. Anthony, Benedict, Colin, Daphne, Eloise, Francesca, Gregory e Hyacinth. É claro que a organização é sempre algo benéfico, mas seria de esperar que pais inteligentes foram capazes de manter os filhos na linha sem precisar escolher seus nomes em ordem alfabética.”
Na Inglaterra dos anos 1800, o matrimônio era visto como uma maneira de prover segurança financeira às jovens moças, já que o trabalho era visto como inferior para muitos da alta sociedade. Desde cedo, as moças eram ensinadas a como se portar em público: o que vestir, o quanto comer e o que falar. Valia tudo para arranjar um bom casamento, e melhor ainda seria se o cavalheiro tivesse um bom título… Nada melhor que um duque, não é?
Nesta série de livros, somos apresentados a família Bridgerton, composta por oito irmãos, conhecidos por sua beleza e riqueza. Mesmo assim, a bela Daphne Bridgerton não consegue fazer com que nenhum homem a veja como mais que uma boa amiga, mas as coisas mudam quando Simon Basset, o duque de Hastings, chega à cidade… Uma pena que Simon não quer se casar, porém isso não o impede de se interessar pela irmã mais nova do melhor amigo.
No livro, Daphne se mostra uma personagem sagaz e inteligente, afetuosa com sua família, e educada com todos ao seu redor. Desde o início, sentimos a pressão que Daphne tem em seu dia a dia. A garota está debutando sua primeira temporada, o que significa que é hora de mostrar a todos seus atributos e conquistar um bom partido, para enfim se casar e formar uma família, como sempre sonhou.
Simon Basset é bonito, inteligente, rico e possui bom status social. Ele é o candidato ideal para os cortejos, mas pretende se retirar da capital o mais rápido que puder, para fugir das mamães da época.
O primeiro livro da série de Julia Quinn mostra com clareza as obrigações e costumes da época. Temos a chance de nos habituarmos ao cenário ao nosso redor, e conhecermos as diferentes visões de Simon e Daphne sobre os mesmos assuntos. O livro também aborda de maneira indireta questões como feminismo e diferenças de gênero quando compara o dia a dia de homens e mulheres, assim como seus deveres.
Mesmo assim, posso dizer que a substância de Daphne se perde consideravelmente ao longo do livro. Quanto mais lemos, mais a imagem inicial da protagonista se afasta de nós. Ainda que ingênua no ínicio, Daphne era alguém destemida, mas perde seu desenvolvimento de personagem quanto mais o roteiro avança… Pouco nos conecta a personagem principal, falta a Daphne um cativar derivado da empatia. Sem história, sem memórias, fica cada vez mais difícil entender suas ações e as defendê-las, já que a motivação por trás delas se perde no meio do caminho.
Já Simon Basset, mostra seus traumas de infância e aos poucos conseguimos entender sua personalidade e o que o motiva a fazer determinadas ações. Por outro lado, seu desenvolvimento como personagem tarda, e no momento em que somos arrebatados de verdade pelo duque, o livro encerra.
A história também peca na questão do dinamismo, com alguns capítulos que não conseguem prender o leitor no roteiro. No entanto, a dinâmica entre os Bridgertons é bastante animada, e com as interações recorrentes conhecemos os personagens dos livros seguintes. De forma positiva, temos diálogos interessantes e personagens secundários que existem de verdade, que tem pensamentos e falhas, e não são usados somente para cobrir um espaço na trama. A escrita também é leve e conseguimos nos divertir enquanto lemos.
Em suma, O Duque e Eu consegue mostrar com fluidez a história que precisa contar, e nos interessa o suficiente para continuarmos a querer ler os próximos contos da série.