Publicado no Brasil em 2015 pela editora Nemo, Pílulas Azuis é um dos trabalhos mais conhecidos do suíço Frederik Peeters, o mesmo por trás de Oleg — também publicado no país.
Frederik Peeters é conhecido por retratar seu cotidiano através das páginas ilustradas que publica. Em Pílulas Azuis, o autor nos submerge em sua vida pessoal para mostrar um período delicado da relação com sua parceira, Cati.
Através do roteiro simples, mas afiado, o autor conta sua história com Cati, numa trama envolvendo muito amor, raiva, compaixão e um grande tabu: o HIV.
Peeters nos mostra através da narrativa como conseguiu gerenciar sua vida e lutar contra todos os preconceitos envolvendo o temido vírus. Contudo, apesar da seriedade do tema abordado, somos agraciados com uma HQ repleta de mensagens positivas e momentos bem humorados.
O Tabu de Pílulas Azuis
Você sabe o que é o HIV? Ou melhor, sabe a diferença entre HIV e AIDS? Normalmente sabemos o básico sobre o vírus e a doença que ele causa, assim como as formas de contraí-lo, porém, para algumas pessoas, existe um grande tabu envolvendo o assunto. Uma pessoa cingida pelo vírus é muitas vezes vista com preconceito ainda hoje, deixando claro a ignorância de muitos em relação ao assunto. Por isso devemos falar abertamente sobre o assunto com amigos e familiares. Só assim será possível compreender melhor o ciclo de vida e contaminação do vírus, além das causas, cuidados e mitos envolvendo a doença causada por ele.
Com discussão é possível perceber que, por exemplo, se o portador seguir rigorosamente as indicações médicas e os tratamentos recomendados, os sintomas se tornam inexistentes e o vírus deixa de representar grande perigo para a saúde. Em suma, é possível ter uma vida normal!
A narrativa de Peeters
Mesclar assuntos delicados com fortes mensagens e bom humor é uma característica muito presente nos trabalhos de Peeters. Suas HQs trazem sempre questionamentos comuns em nossa vida, acompanhados por passagens envolventes e emocionantes. Por isso, não é surpresa dizer que Pílulas Azuis faz o mesmo. Peeters usa sua vida e sua relação com Cati para nos apresentar os reais valores do amor, compaixão e respeito.
Nós, leitores, somos passageiros nessa pequena jornada ilustrada por Peeters, onde presenciamos seu encontro com Cati, o início e o desenrolar da relação de ambos, os medos causados pela presença do vírus na vida do casal, e a desmitificação dos tabus relacionados ao assunto. Além disso, ainda vemos a relação entre Peeters e do pequeno filho de Cati (também portador do vírus).
O medo de Cati em perder o filho para o vírus paira na vida do casal, colocando-os à prova e em alerta. Contudo, é também esse medo que acaba por despertar em Peeters a “estranha” sensação de incapacidade; de estar sujeito a perder alguém a qualquer momento. Com isso, o filho de Cati, fruto de um relacionamento passado, cria fortes laços com Peeters e passa a se tornar parte dele. Peeters, por sua vez, acaba se deparando com algo novo: todo o complexo conjunto de sentimentos envolvidos na paternidade.
Pílulas Azuis é uma obra impactante, mas conduzida com leveza. A HQ nos mostra como a ignorância leva ao medo, e como esse medo precisa ser exposto e discutido, pois, só com a mente aberta conseguimos reconhecer e combater preconceitos.
Leitor assíduo de quadrinhos ou não, esta é uma ótima indicação de leitura e um título que vale muito a pena ter na estante.
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