Recentemente publicada no Brasil pela editora Nemo, Polina, é uma das inúmeras obras do francês Bastien Vivès, conhecido por outros títulos já publicados por aqui: O gosto do cloro e Uma irmã.
Polina narra a história de Polina Ulinov, dona de um talento ímpar para a dança. A trama se inicia ao vermos Polina, ainda criança, sendo selecionada para ser treinada por Nikita Bojiski, um grande mestre conhecido pelo nível de exigência com seus alunos. Ao longo dessa docência, Polina irá desenvolver uma relação complexa com seu mentor e acabará por permitir-lhe explorar novas experiências artísticas, em total independência. Seus caminhos enfim se dividem, e Polina se torna uma coreógrafa de reputação internacional. Por mais que os anos sob a tutela de Bojiski tenham sido conturbados, Polina assumirá, em todo o seu valor, sua dívida para com esse mestre, tão difícil quanto brilhante.
Bastien Vivès é dono de um traço bastante pessoal, que ajuda a dar vida aos desenhos de Polina. Seu estilo casa completamente com o texto, nos deixando imersos na história e impressionados com a sua capacidade de ‘dar movimento’ aos quadros onde vemos Polina demonstrar o seu principal talento: a dança; somos agraciados com uma estranha sensação de graça e leveza nos movimentos de um desenho estático. Apesar do uso de poucas cores, Vivès consegue transmitir sua mensagem e ilustrar perfeitamente o mundo criado para esta HQ.
Polina é uma HQ que ilustra as dificuldades para se tornar um grande artista e ser reconhecido por seus talentos. Através dos ensinamentos rígidos de Bojiski, Polina aprende que não basta apenas se contentar em alcançar pequenos objetivos, visto que um grande artista “está sempre insatisfeito, pois busca certa perfeição”. Esse será o principal ensinamento que Polina levará para a vida, buscando sempre superar suas barreiras e alcançar a perfeição tecnicamente inalcançável.
Apesar de ter uma história interessante e repleta de mensagens, a trama de Polina acaba parecendo um pouco apressada — mas é compreensível —, e isso se deve ao fato do autor nos apresentar diversos momentos da juventude de Polina em apenas duzentas páginas. Tal fato não desmerece em nada a obra de Vivès, mas nos deixa com uma sensação de que determinados pontos da história poderiam ter sido melhor explorados para que nos aprofundarmos ainda mais na vida da protagonista e entender sua jornada para se tornar uma artista reconhecida.
A relação de Polina com seu professor, Bojiski, nos mostra que existem mentores que, apesar de serem rígidos ao nos ensinar, enxergam em nós o potencial que não acreditamos ter e tentam nos forçar a vê-los com os nossos próprios olhos e correr atrás de aperfeiçoá-lo para nos tornarmos pessoas de sucesso no futuro. É emocionante ver Polina retornar à sua primeira academia de dança e ser rodeada de pequenas garotas que já a conhecem por conta de seu trabalho e talento ímpar, e ver ali, expresso na reação delas, o desejo de uma jovem Polina em se tornar uma grande artista.