O Templo da Perdição é considerado uma das aventuras mais fracas de Indiana Jones. Um filme arriscado que tenta coisas novas, experimenta um tom sombrio, uma subversão da jornada de seu protagonista, entre outros.
Considerando que Caçadores da Arca Perdida havia sido a maior bilheteria de 1981, levando vários Óscares para casa por conta de sua natureza aventuresca, muitos esperavam mais do mesmo. Porém, Spielberg e Lucas surpreenderam com um filme não apenas violento, mas mais satírico do que nunca.
Será que Templo da Perdição é apenas subestimado? Ou é merecedor de sua recepção mais morna que seu antecessor. Vamos dar uma olhada.
Direção oposta
Se passando um ano antes de Caçadores da Arca Perdida, Templo da Perdição narra as aventuras de Indiana e seus dois companheiros, o pequeno Short Fuse (Ke Huy Quan), e Willie Scott (Kate Capshaw), tentando recuperar uma pedra sagrada de um castelo maligno na Índia. O trio disfuncional, que se solidifica após a sequência inicial do filme em Shanghai, onde Jones escapa de uma negociação que deu errado, funciona muito bem. Short Fuse é um ótimo sidekick para Indiana Jones. Willie, diferente de Marion do filme anterior, é uma mimada estrela da dança que se aterroriza pelas situações onde se encontra.
A fim de subverter ainda mais a figura do protagonista, o roteiro apresenta um Jones consideravelmente mais arrogante e confiante. A primeira cena do filme, que faz uma clara homenagem a James Bond, começa com Jones tentando vender um artefato que ele roubou. Por isso, é interessante acompanhar a evolução do personagem, decidindo ajudar um vilarejo da Índia a recuperar uma pedra sagrada.
Embora um pouco diferente, Indiana Jones se mantêm idêntico a sua contraparte do filme anterior em termos mais abrangentes. O chicote, o chapéu, a ousadia, está tudo aqui. Todavia, não se pode dizer o mesmo sobre o resto do filme. Insetos, ocultismo, violência, gore e muitas mortes brutais. Por certo, Templo da Perdição se difere completamente de qualquer outro blockbuster de sua época, e qualquer outro filme de sua dita franquia, pelo tom brutal que ele abraça.
Experimentando e acertando
Templo da Perdição é diferente, mas não é um filme medíocre por isso. Na época, Lucas e Spielberg enfrentavam períodos sombrios em sua vida, divórcios e términos respectivamente. Como resultado, uma atmosfera mais sínica, violenta, e, honestamente, sinistra, permeia todo o filme. O roteiro de Willard Huyck e Gloria Katz abrange temas como escravidão, religião e redenção. Enquanto Caçadores da Arca Perdida tinha periódicas pausas entre os atos, Templo da Perdição quase não te dá tempo para respirar.
Não apenas a trilha sonora de John Williams mais uma vez impressiona com seus tons mais malignos e intimidadores que servem a história, como a direção frenética de Spielberg levam o filme a outro patamar. É provável que o método usado pelo mesmo no filme é resultado da necessidade de se provar para os críticos da época que o acusavam de não ter muita ambição artística em seus filmes.
As cenas de ação constroem uma montanha-russa de emoções quase tão efetiva quanto a do primeiro filme. Desde a perseguição de carros em Shanghai, até o salto do avião em um barco inflável. Porém, nada supera o último ato do filme, que contém algumas das melhores e mais lendárias cenas de toda a franquia. Entre elas, a queda da ponte de madeira que Indiana Jones corta com um machete.
Veredito
Indiana Jones e o Templo da Perdição é um inquieto, bizarro, excêntrico e mirabolante filme, que tira qualquer um de sua zona de conforto. Não é à toa que o filme foi duramente criticado por sua temática mais sombria que não agradou todo mundo na época do lançamento. Pois, além de um retrato das mentes de seus idealizadores da época, o filme também é uma crítica autoconsciente a vários elementos do gênero. Desde sátiras de povos exóticos, até as absurdas sequências de ação que confrontam a realidade.
Templo da Perdição é, sim, absurdo, e ele sabe disso. Essa abordagem faz dele a experiência mais singular da trilogia original de Indiana Jones.
A franquia Indiana Jones pode ser assistida no Disney+.