Este artigo pode conter alguns spoilers que não afetarão sua experiência ao ler os livros, porém, leia por sua conta em risco.
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Há pelo menos um exemplo de literatura fantástica pelas prateleiras de leitores pelo mundo todo. Sagas como Senhor dos Anéis, As Crônicas de Gelo e Fogo, As Crônicas de Nárnia, entre outros, fazem parte deste grande mundo de fantasia que a cada novo livro nos remete a um novo universo repleto de magia e aventuras diversas.
Mas com tantas histórias novas, foi ficando cada vez mais difícil encontrar obras mais originais, que apresentassem algo novo, que bebessem na fonte dos grandes escritores, mas não tanto, e nos entregassem novas histórias com elementos diferentes do que já vimos lá atrás. E assim fez Patrick Rothfuss com sua franquia de literatura fantástica intitulada As Crônicas do Matador do Rei, que com dois livros e alguns contos já lançados, provou ser uma das novas caras da literatura fantástica que vai ficar marcada por muitos e muitos anos.
Vamos abordar neste artigo, um pouco sobre a história de Rothfuss, para entender melhor do que se trata essa maravilhosa série de fantasia.
O Nome do Vento (2009)
Ambientado em um mundo medieval alternativo, conhecemos Kvothe, um homem que leva uma vida pacata em um pequeno vilarejo, cuidando de sua hospedaria chamada Marco do Percurso. Até o dia em que salva a vida de um cronista de criaturas sombrias. O cronista que já conhecia as histórias do lendário Kvothe, se oferece para escrever uma biografia sobre o homem, que exige então três dias para contá-la e afirma que dirá nada além da verdade sobre sua vida.
O autor Patrick Rothfuss dividiu a trilogia nesses três dias, sendo O Nome do Vento o primeiro dia da narrativa, dividindo a história em dois tempos, sendo o presente onde vemos “Kote” contar a sua história para o cronista, e o passado, onde a narrativa parte no ponto de vista de Kvothe contando sua trajetória desde criança até seu ingresso na universidade.
Na história, conhecemos o “jovem Kvothe”, um rapaz pertencente a trupe de artistas itinerantes Edema Ruh, que se envolve com um misterioso grupo chamado Chandriano, e passa a perseguir o mesmo tentando compreender a causa e os segredos envolvidos nos assassinatos. Além disso, Kvothe narra o início de sua trajetória na Universidade, onde faz amizades verdadeiras, demonstra ser um músico exímio e segue o seu sonho de se tornar um grande arcanista e nomeador, enquanto busca informações sobre o perigoso Chandriano, vivendo inúmeras aventuras paralelas.
Além da ótima trama e as excelentes aventuras vividas pelo protagonista, a sensibilidade de Patrick Rothfuss ao colocar os sentimentos em palavras, faz com que o leitor fique submerso na história. Em alguns momentos é possível sentir o cheiro e ouvir a melodia da canção pela forma com que estas são colocadas. E a forma não muito comum como é levada a história que, logo no começo nos diz o futuro da trama em que se passa maior parte da narrativa, faz gerar dúvidas no leitor de quem realmente é o protagonista: O herói, o arcano, a lenda, o músico? Ou o estaleiro quase falido, causador da guerra, o deprimido, angustiado?
O Nome do Vento em suas quase 700 páginas, é uma das melhores histórias de literatura fantástica dos últimos anos — e na opinião do autor deste artigo, de todos os tempos!
O Temor do Sábio (2011)
Depois do sucesso de O Nome do Vento, em 2011 Patrick Rothfuss publicou O Temor do Sábio, que conta o segundo dia das histórias do Kvothe, partindo do ponto em que paramos no final do primeiro livro. Só que neste livro, há muito mais abordagem no universo de Rothfuss, já que falamos de um livro de 960 páginas.
No novo livro, Kvothe continua contando sua história na universidade, onde entra em conflito com um rapaz da realeza local e precisa abandonar os estudos por um tempo. Então, por ser dotado de sua habilidade musical, o jovem viaja em busca de um mecenas, para conseguir dinheiro e terminar seus estudos na universidade. Para isso, ele vai até o outro lado do mundo, onde conhece o Maer Alveron e se envolve nas políticas da corte. No meio disso tudo, Kvothe vive várias aventuras e aprofunda mais ainda na mitologia criada por Patrick Rothfuss, explorando e aumentando ainda mais o universo da série.
Além de todo background já criado no livro anterior, o autor brinca com ideias de magia e fantasia na nova história, além de trazer filosofias e diferentes formas de ver o mundo, de acordo com o ambiente onde o personagem é colocado. Somando isso a já falada sensibilidade da escrita, a imersão no mundo fantástico de Rothfuss é certeira. Uma leitura fácil e viciante, que nos prende do início do primeiro livro até a última linha do segundo, nos deixando com um gosto na boca de “quero mais” do terceiro livro que ainda não foi públicado.
Entendendo o universo de Patrick Rothfuss
Mundo: Conhecemos vários lugares diferentes do mundo, que no mapa é tratado como “Os Quatros Cantos da Civilização”, cada qual com suas culturas, línguas e costumes. O mapa é dividido em alguns reinos que são brevemente citados:
Ceald: uma de suas cidades citadas no livro é Ralien;
República: Não há muitas informações exceto por algumas cidades como Imre, Tarbean, Trebon, Hallowfelle, etc…
Yll: É um reino antigo que foi conquistado pelo império Aturense
Vintas: É a parte mais rica do mapa, cuja capital é Renere, é la que Kvothe conhece o Maer Alveron, e onde vive seu rival Ambrose;
Tarbean: É descrita como a capital da República (um dos quatro reinos) e é informalmente dividida em duas seções: Beira-Mar e Serrania. Beira-Mar é a seção mais pobre da cidade, descrita como sendo casa de mendigos, ladrões e prostitutas. Serrania é a seção mais rica da cidade, onde moram os magistrados, políticos e cortesãs.
Imperio Aturense: Foi poderoso e influente até sua queda, sua capital é Atur;
Modeg: Muito pouco citado, tem em destaque a cidade de Cershaen;
Pequenos Reinos: não há nada sobre eles além do nome no mapa;
Ademre: País que fica além dos Montes Tempestuosos, lar dos letais e enigmáticos Mercenários Ademrianos, e uma das principais filosofias dos livros;
Mundo dos Encantados: Não aparece no mapa, mas em uma parte do segundo livro temos um breve deslumbre sobre a parte mágica do mundo de Rothfuss;
Ciência e Magia
A ciência é muito bem explorada nesta história, com estudos profundos sobre física, química, matemática, história, medicina, alquimia, retórica entre outras que são apresentadas na Universidade. Cada curso é lecionado por um mestre, que são apresentados no primeiro livro e continuam a aparecer no segundo.
A Universidade possui, como caráter mágico, as seguintes disciplinas:
Siglística: Lecionada pelo mestre Kilvin na oficina conhecida como “Ficiaria” onde os alunos aprendem a utilizar runas para “encantar” objetos.
Simpatia: Lecionada pelo mestre Elxa Dal permite que o arcanista conecte objetos ou pessoas que tenham algum tipo de similaridade uma com a outra. Como bonecos de cera com um fio de cabelo, fazendo assim com que tudo que aconteça a um reflita no outro, e como converter tipos de energia em outros tipos de energia. Luz-calor, calor-luz, por exemplo. Diferente da siglística não se utiliza runas, e sim um componente verbal pronunciado pelo arcanista ao conectar os objetos e sua concentração e energia para manter a conexão pelo tempo que desejar ou suportar mantê-la.
Nomeação: Lecionada pelo mestre Elodin é uma das artes mais antigas e poderosas ensinadas na Universidade. A nomeação consiste basicamente em despertar o lado adormecido da mente arcanista, para que seja possível descobrir seus verdadeiros nomes, assim ganhando total controle sobre o nome descoberto. A premissa da Nomeação consiste no fato do arcanista saber o Nome de todas as coisas, então todas as coisas estarão sob seu comando.
A magia aparece de forma sútil, como as simpatias que é um tipo de ciência, como a nossa física que se desenvolve pela transferência de energia e a concentração focada na força do pensamento, havendo Perda de energia no processo, e dependendo de energias pré-existentes, como o calor do próprio corpo, ou um fogo próximo. Além desta, o Chandriano e alguns outros personagens demonstram uma forma diferente de magia, mais no sentido fantástico, mas que ainda foi pouco abordada nos dois livros.
A Música do Silêncio e outros contos
Patrick Rothfuss publicou também mais três contos, sendo um deles intitulado A Música do Silêncio, que conta em 30.000 palavras a história de Auri, uma das personagens mais queridas dos livros da saga.
Também foram lançados em seu blog os contos como A Árvore Reluzente que conta a história do personagem Bast, ajudante e aprendiz de Kvothe na Marco do Percursso, e How Old Holly Came To Be que conta a história de um personagem incomum do universo de As Crônicas do Matador do Rei.
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Se você é fã de fantasia e ainda não conhece a história do Kvothe, O Sem-sangue, já passou da hora de adquirir os livros e se aprofundar nesse incrível universo repleto de aventuras, música, magias e claro, uma pitada de terror.