Criada por Michael Tolkin, The Offer passeia pelos bastidores do filme O Poderoso Chefão (1972) em formato de minissérie. Sendo transmitida em 2022, no mesmo ano que o longa completou 50 anos de lançamento, houve um total de 10 episódios para ilustrar a dificultosa produção desse clássico.
O projeto em questão foi anunciado em 2020 para ir ao ar na Paramount+, que, por sinal, conta com todos os episódios completos. O intuito era contar essa história a partir da perspectiva do produtor Albert S. Ruddy. Então, Armie Hammer foi escalado como o protagonista mas logo substituído por Miles Teller, que também assina como produtor executivo; e Dexter Fletcher foi contratado para dirigir alguns dos episódios.
Na trama, os produtores Al Ruddy (Miles Teller) e Robert Evans (Matthew Goode) se preparam para adaptar O Poderoso Chefão de Mario Puzo (Patrick Gallo). Contudo, eles não achavam que teriam de se esforçar tanto para driblar todos os problemas enfrentados durante o processo. Com a ajuda de Bettye McCartt (Juno Temple), Al consegue articular o que enventualmente se tornaria uma das maiores produções do cinema norte-americano.
Plasticidade em The Offer
Inserida em determinado aspecto visual, a série desconecta imediatamente o seu espectador. Afinal, antes de assimilar qualquer história a ser contada dentro de cinema e TV, o que está sendo ilustrado em tela é importante para acreditarmos na verdade daquele mundo. Seja pelo quão é palpável, ou, até mesmo, desprendido da realidade. E nota-se um padrão nas inúmeras adaptações biográficas existentes: o apelo visual para com a vida real. Ou seja, na ambientação da época retratada, da maquiagem e, principalmente, dos figurinos.
Dessa forma, é impressionante como The Offer entrega esses aspectos da maneira mais pobre possível. Uma série que trata dos pormenores de algo tão revolucionário certamente merecia um visual mais original e refinado. As maquiagens são visíveis, bem como a textura artificial das perucas e barbas. Um bom jogo de iluminação resolveria isso, o que também não tem e acaba evidenciando mais ainda o baixo orçamento da produção. Ou seja, toda a composição é muito simplória, nunca englobando um forte uso de cores como estética ou intenção. Talvez em alguma situação o uso do vermelho (fraco, por sinal) seja para impor a sensação de ”poder” de um personagem. Porém, dentro de um senso de totalidade, o estilo artístico é genérico.
É realmente difícil acreditar por muitos momentos que existe uma trama séria sendo desenvolvida. Com tais caracterizações, embora inseridas em um elenco absurdamente ótimo, dá a entender que o projeto se trata de uma sátira. Somado ao fato de ter uma direção (que muda ao decorrer dos episódios, diga-se de passagem) que nunca causa qualquer tipo de impacto. Os momentos que eram para ser mais tensos, fervorosos ou emocionantes, acabam sendo extremamente indiferentes e sem inspiração. Muito por como a história aborda determinadas tramas que acabam se atropelando e não se finalizam de maneira adequada. Assim, os 10 episódios de 1 hora passam a ser duvidosos, visto que a estrutura se sabota por algumas vezes.
A representação de um legado
Com os fatores citados anteriormente, ao menos, o conteúdo acaba sendo atrativo. Pois um filme tão ousado como O Poderoso Chefão certamente não foi fácil de ser lançado para sua época, visto todas as circunstâncias dos filmes de máfia e maus olhos já para a obra original de Puzo. E são todas essas barreiras que criam pelo menos uma problemática instigante nos episódios. Mesmo que o público tenha total compreensão de que, na vida real tudo certo ao fim, a cada nova reviravolta da história incluindo as pressões do estúdio e até a verdadeira máfia, é passada a sensação de que o filme jamais iria acontecer. É interessante a abordagem de como essas pessoas lutaram tanto para que tudo saísse perfeito, fazendo sacrifícios e correndo riscos.
Nesse sentido, o senso de frustração é notável. Se mostram: os bloqueios criativos, os desentendimentos com executivos, as mudanças de elenco e a falta de orçamento. Mas é incrível que, quando chegamos àquela sala de cinema onde o filme foi exibido pela primeira vez, ficamos arrepiados ao ver as reações genuínas com o misto de emoções que ele causa. Dá até para destacar as pequenas homenagens do filme sendo feitas aos poucos, desde as falas até a montagem. Mas fica uma questão: isso é um mérito da minissérie, propriamente dita?
E o elenco de destaca. Miles Teller transmite uma confiança precisa, assim como Dan Fogler faz um Coppola comicamente competente e Matthew Goode traz um Robert Evans convicto e carismático. Ou mesmo Justin Chambers, que em todos os detalhes incorpora Marlon Brando.
Portanto, The Offer prova que nem sempre ter o melhor conteúdo retratado significa que a obra é completa. O uso de nostalgia não supre a falta de originalidade, emoção e um desenvolvimento adequado de tudo que apresenta. Assim, o visual que se destaca negativamente acaba afastando mais ainda aquilo que já parecia distante da importância, elegância e grandeza que uma minissérie desse escopo merecia.