Edgar Wright é, inegavelmente, um dos diretores mais valorosos da contemporaneidade, detentor de uma produção cinematográfica contundente e relevante, além de um estilo extremamente próprio na realização de suas obras, deixando inúmeras marcas inconfundíveis em torno de sua filmografia.
Em um primeiro momento, percebemos o humor ácido, satírico e britânico (leia-se peculiar ou nonsense) dos roteiros de Wright, escritos em conjunto com o ilustre Simon Pegg, que hoje é muito reconhecido por sua participação nos filmes das sagas Missão Impossível e Star Trek, mas cuja carreira se estabeleceu quando estrelou e co-escreveu os filmes da Trilogia Cornetto com Edgar Wright.
Outro aspecto notável é a edição frenética e inovadora do diretor, repleta de cortes rápidos e inteligentes. A partir deles, Wright desenvolve uma forma de comédia que é feita através de planos e cenas naturalmente cômicas, que não precisam necessariamente de uma piada falada por um ator ou atriz, como costumamos ver no cinema normalmente, mas que se utilizam dos próprios elementos cinematográficos para fazer comédia.
No entanto, não podemos cometer o erro de reduzir a obra do diretor ao gênero da comédia, pois antes de realizador cinematográfico, Edgar Wright é um cinéfilo da mais alta qualidade (como todo bom diretor é, ou deveria ser), sendo influenciado por incontáveis filmes dos mais diversos gêneros. Por isso é tão evidente o viés da paródia e do tributo em suas produções, que em realidade funcionam quase como cartas de amor para aquilo que o diretor é fã no cinema, como zumbis, filmes policiais, terror, romance, filmes de perseguição, etc.
Não bastassem as influências cinematográficas, Edgar também transmite para seus filmes as paixões que possui em outras áreas, como a música, os quadrinhos, os videogames clássicos e as séries de televisão. Wright possui uma carreira praticamente irretocável até o momento, demonstrando como criar trabalhos originais a partir da construção de inúmeras referências prévias. É um apaixonado por cinema na cadeira de diretor.
Ainda que seus filmes não sejam tão reconhecidos no Brasil, já está em curso um movimento de transição, que começou principalmente com a obra Em Ritmo de Fuga, sucesso em 2017, e deve continuar com o seu próximo lançamento: Noite Passada em Soho, que conta com a presença da extraordinária Anya Taylor-Joy, um dos principais nomes no cinema atualmente, assim como de Thomasin McKenzie, que angariou fama com sua extraordinária performance no filme Jojo Rabbit.
Então, em homenagem ao exímio realizador e ao seu próximo filme, que será uma obra de terror propriamente dita e tem estreia prevista para outubro desse ano, listamos aqui os 5 principais filmes para conhecer o trabalho de Edgar Wright.
Todo Mundo Quase Morto
Oscilando entre paródia e homenagem ao universo dos zumbis, o primeiro sucesso de Edgar Wright já demarcava muito bem sua linguagem e seu estilo caótico, assim como o brilhante humor satírico de seus filmes. As piadas já começam no nome original da obra: Shaun of the Dead, título que mistura o nome do protagonista (Shaun), com o clássico de George Romero: Dawn of the Dead. Mas mesmo diante do humor nonsense e escrachado, o filme é feito com extrema seriedade e maestria.
Seja através das primeiras sequências que demonstram o quão “zumbificada” a sociedade está atualmente, ou por meio das geniais cenas nas quais o protagonista comicamente falha em perceber os sinais que indicam o início da pandemia zumbi, notamos como o diretor cria algo único, que associa comédia, terror, romance e ação em um produto de enorme qualidade cinematográfica.
Todo Mundo Quase Morto, primeiro triunfo de Edgar Wright, é definitivamente um dos melhores filmes de zumbi já produzidos, figurando em diversas listas do tema. É também o primeiro filme da Trilogia Cornetto, caracterizada pela presença da dupla Simon Pegg e Nick Frost como protagonistas, e cujo nome referencia o famoso sorvete vendido em formato de cone.
Chumbo Grosso
Além de uma evidente homenagem aos filmes de duplas policiais, a segunda obra da Trilogia Cornetto é também um maravilhoso suspense/mistério, que conseguiu demonstrar a habilidade de Wright em criar reviravoltas (os famosos plot twist), assim como em construir histórias coesas e fascinantes.
Da mesma forma que ocorre em Todo Mundo Quase Morto, assistimos o filme transitar com aparente facilidade entre alguns momentos extremamente engraçados e outros muito tensos e angustiantes. E é nesse festival de gêneros e influências que o realizador dá origem a outra obra-prima.
Aqui você também encontrará uma das mais inesquecíveis sequências iniciais já feitas, que alia o estilo único do diretor com uma excelente introdução de personagem.
Scott Pilgrim Contra o Mundo
Antes de finalizar a Trilogia Cornetto, Edgar foi o responsável por adaptar para os cinemas o famoso quadrinho cult, de Bryan Lee O’Malley, sobre ex-namorados malvados e um amor impossível. Eu poderia dizer que essa é pessoalmente minha obra favorita do diretor, mas estaria mentindo, pois, como bom fã que sou, amo todos os filmes de Edgar igualmente. Basta dizer que este filme parece possuir um feitiço que atrai o espectador, e é bem provável que o nome desse feitiço seja Mary Elizabeth Winstead, atriz responsável por interpretar a apaixonante Ramona Flowers no filme.
Aliás, deve-se ressaltar que todo o elenco do filme é espetacular, com vários atores e atrizes que se encaixaram perfeitamente em seus papéis, mas que também receberam uma grande ajuda do roteiro, que consegue adaptar e traduzir com grande precisão a obra de O’Malley, assim como inovar e condensar o material original na medida correta.
Outro destaque vai para a edição, tanto visual, quanto sonora, que está repleta de brincadeiras e elementos que remetem tanto aos quadrinhos, quanto ao videogame.
Heróis da Ressaca
Confesso que quando comecei a escrever sobre esse excepcional filme, responsável por finalizar a Trilogia Cornetto nos cinemas, me esqueci completamente de não contar o incrível plot twist que ocorre perto do final do primeiro ato. Seria mais que uma injustiça estragar a surpresa dessa reviravolta, portanto precisei apagar o texto e refazer, reprimindo toda minha vontade de falar sobre essa virada.
Então, agora que você sabe que algo sensacional acontece nessa obra, peço que conserve apenas essa informação e vá assistir o filme, não precisa nem sequer ler a sinopse.
Veja no escuro mesmo, e pode até ser que o início não te prenda muito e pareça um filme ameno ou bobo, mas ao final você vai se surpreender com a enorme proporção que uma simples premissa pode tomar.
Em Ritmo de Fuga
O último filme lançado por Wright também pode ser considerado o menos “insano” ou nonsense do diretor, além de possuir uma aparência bem mais Hollywoodiana do que os outros. Ou seja, é uma obra mais comportada, voltada para um gênero mais específico dos filmes de ação e perseguição.
E pode até parecer que isso seja uma certa forma de crítica, mas a verdade é que o filme é simplesmente brilhante. A temática de Em Ritmo de Fuga, uma história sobre amor, crime, música e carros, se reflete perfeitamente na velocidade e freneticidade da montagem e da trilha sonora.
O roteiro te faz sentar ansioso na ponta da poltrona esperando por mais e as atuações são muito competentes. Destaque aqui para o carismático par romântico de Ansel Elgort e Lily James, capaz de transmitir uma sensação estética tão bela que é simplesmente impossível não se apaixonar por ambos.
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