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O livro Androides sonham com ovelhas elétricas lançado em 1968 pelo escritor Philip K. Dick, criou um marco dentro do universo da ficção científica. Atualmente, o livro possui uma adaptação para o cinema com o nome de Blade Runner: O caçador de androides, dirigido por Ridley Scott.
Em 2017, foi lançada a continuação com o nome de Blade Runner 2049, expandido a versão pessimista da Terra criada pelo autor.
Com o passar dos anos, a expansão do universo que se iniciou no livro foi ganhando espaço e cativando cada vez mais amantes do gênero da ficção científica, trazendo uma versão do nosso mundo bastante amarga, e abrindo espaço também para discussões importantes sobre a sociedade, relacionamentos e o que consideramos real.
O que será que o universo de Blade Runner tem a nos oferecer?
A Terra em sua pior versão
Os filmes, assim como o livro, se passam na Terra. O mundo que nos apresentam é a pior versão dela em todos os sentidos. Philip K. Dick gostava de mostrar, em suas obras, como era pessimista o futuro que nos aguardava, se não mudássemos radicalmente nossa forma de pensar. Aqui vemos uma Los Angeles escura, tomada por arranha-céus e a constante poluição visual de propagandas holográficas.
Mantendo alguns pensamentos de mesmos escritores da época, ele abrange a ideia de uma alta tecnologia e a dominação de grandes corporações sob a sociedade. Porém, a diferença dele entre outros autores de ficção científica é o aprofundamento triste que nos cerca.
Nesse universo criado por K. Dick, não existem mais animais de verdade, apenas criaturas artificiais. Nas cenas mostradas em Los Angeles, nunca se vê o Sol, apenas chuva e neve. Nesse mundo, enquanto trabalhadores vivem em algo deplorável naquela que seria um dia a Terra que a gente viveu, a elite e donos de corporações vivem em colônias extraplanetárias.
A criação dessas visões pessimistas de K. Dick está longe de acontecer — em parte. Contudo, outras estão a pequenos passos daquilo que já vivemos hoje. Um dos elogios mais exaltados deste universo, é a imersão na qual você está embarcando quando se encontra com ele, que fará você sentir, pensar e refletir sobre um futuro que poderá estar à nossa espera.
O mundo cheio de personagens cinzas
Quando o termo “personagem cinza” é usado, é a ideia de que o personagem foge de seu convencional. Ele não possui lados ideológicos ou políticos e luta pelo seu bem próprio e, no universo de Blade Runner, esses “personagens cinza”, são mais comum do que se imagina. Tanto na obra original quanto nos filmes, nos vemos torcendo para aquilo que seria o vilão da história. A forma que Rick Deckard persegue os replicantes é entendível, porém você não se simpatiza com o herói.
A construção daquilo que é taxado como bandidos nessa sociedade, é feita de forma em que, vários momentos ao se aventurar sobre esse mundo, faça você pensar: “aquilo é o certo?”. Ao decorrer das páginas do livro e minutos do filme, você se faz essa pergunta de forma constante, porque é como as pessoas são obrigadas a agir nesse mundo.
As ideias e leis estabelecidas pelo escritor, praticamente, faz o personagem principal seguir por conta própria. Por isso, o autor tenta mostrar que não há o certo e o errado aqui, apenas a pura e amarga sobrevivência em mundo extremo.
O que é ser humano?
A discussão mais abordada dentro do universo de O Caçador de Androides, é o que significa ser humano. Durante o primeiro filme vemos Rick Deckard, perseguindo um vilão que apenas quer um pouco mais de vida. A ideia dos replicantes terem uma vida estimada pelo seu criador traz a discussão que, mesmo possuindo uma vida normal ainda é muito pouco.
O sentido do que é ter uma alma é sempre abordado dentro dos personagens. Em Blade Runner 2049, acompanhamos a história de um caçador de androides, assim como o primeiro filme. A diferença entre os dois, é a forma como é abordado os sentimentos de cada um deles.
De um lado vemos Deckard, que aparenta ser um humano normal, mas que, no final, nos é revelado que ele é aquilo que ele mesmo persegue, um androide. Na sequência, vemos um policial que durante quase todo o filme é identificado apenas por um número. A expressões e sentimentos que ele carrega quase não são mostrados, mas você sabe toda a dor e sofrimento que o personagem traz apenas pelo seu olhar. Ambos os protagonistas, possuem sentimentos e a vontade de viver e se relacionar, mesmo não tendo vindo ao mundo da maneira convencional.
Em 2049 vemos o relacionamento do detetive com uma inteligência artificial chamada JOI. Ela se molda de acordo com suas preferências e, aos poucos, vai criando uma personalidade sozinha. Em grande parte do tempo, vemos duas “máquinas” em cena, entretanto, eles parecem mais reais que os próprios humanos ao redor deles.
O universo de Blade Runner é rico, vasto e um pouco pessimista. Ele nos traz uma sensação de que aquilo que estamos vendo é real demais. Sentimentos, sociedade e a necessidade de defender a nossa sobrevivência são algumas das muitas discussões que vemos ao se aventurar por esse universo criado por K. Dick.