Após o sucesso de bilheteria de It, A Coisa, em 2017, ficou evidente o talento do diretor Andy Muschieti, para o mercado cinematográfico, que nos trouxe a segunda parte e conclusão da história do Clube dos Perdedores contra o monstruoso Pennywise dois anos após o primeiro longa. Nessa última quinta feira, 5 de setembro, o filme estreou no Brasil com uma crítica amena mas um bom desfecho para a história.
Se no primeiro filme tivemos uma história linear, em que a narrativa cresce do ponto inicial até a conclusão do longa apresentando a trama e os personagens, neste é totalmente diferente. Podemos utilizar a “montanha-russa” como metáfora para descrever o desenrolar da trama, o tom e a atmosfera mudam o tempo todo, entre subidas e descidas. Podemos afirmar isso, por conta do alívio cômico, a fantasia, a aventura, e por fim, o terror, que aparecem juntos na mesma cena onde estamos expostos a um terror sobrenatural, e então as boas piadas e as criaturas fantasiosas, cortam a tensão do espectador.
Os personagens, agora adultos, pouco se desenvolvem, pois acabam ficando presos a características do filme passado, que inclusive, o diretor usou de longas cenas, algumas até um pouco desnecessárias, de flashbacks do passado para concluir lacunas que ficaram em aberto. Ficou como uma versão estendida da primeira parte, o que talvez seja um dos principais pontos fracos do filme.
Assim como no primeiro filme, vemos muita utilização de jump scare durante todo o longa, o que torna um pouco repetitivo os momentos de terror. Uma vez que percebemos, ainda no segundo ato do filme, que os feitos de Pennywise se tratam apenas de alucinações, perdemos o medo do palhaço ainda que nutramos grande afeição pelos protagonistas. A jogada do diretor de tirar um pouco do terror do vilão, resultou em um excelente ponto positivo para o longa, quando uma ameaça humana chega para completar a trama, com o personagem Henry Bowers (Teach Grant), causando mais medo do que o próprio palhaço diabólico.
Há também pontos positivos como a escolha de um elenco de peso e qualidade, com ênfase nos atores James McAvoy, Jessica Chastain e Bill Hader, que dão vida aos protagonistas Bill, Beverly e Richie adultos do filme, com excelentes atuações.
O alivio cômico, nas cenas em que os personagens Richie Tozier (Bill Hader) e Eddie Kaspbrak (James Ransone) aparecem juntos, é uma das coisas mais divertidas nos quase 170 minutos de filme. Isso prova que uma obra do gênero terror, se bem construída pode muito bem se subverter a momentos engraçados e descontraídos. Vale lembrar que Bill Skarsgard volta ainda melhor ao seu papel de Pennywise.
O bom uso da escuridão e os efeitos visuais do filme, agregam valor às cenas aterrorizantes, com a ótima trilha sonora para criar a tensão necessária, é um acerto em cheio da direção para fazer o espectador pular da cadeira de susto, mesmo que tenha sido poucas as oportunidades de se assustar, quando acontece, é pra valer.
Outro ponto de atenção foi, dentre as referencias ao criador da história e mestre Stephen King uma cena onde o personagem Bill Denbrough (James McAvoy), escritor que não sabe criar finais para seus contos, dialoga com King. O diretor se mostrou um verdadeiro fã de King ao fazer tantas referencias sem perder o ritmo da trama.
Embora exista toda a trama do monstro, não é este o unico mal imposto no filme, como por exemplo, é apresentado logo no inicio do filme, que o mal está implantado na cidade de Derry, tanto no sobrenatural como nas pessoas, quando um casal homossexual é espancado, e a discriminação e ódio são expostas, mesmo sem a presença de Pennywise que logo após da as caras. Vale destacar esta cena, pois é uma das mais pesadas do filme, concebendo ao espectador que já enfrentamos monstros na vida real.
O longa diverte, emociona e assusta, talvez um pouco menos do que deveria, além de passar uma bela mensagem de amizade e amores que mesmo distantes permanecem intensos e poderosos a ponto de tornar perdedores capazes de enfrentar “monstros sobrenaturais”, se o fizerem juntos.
É um bom filme, coerente aos seus 80% de aprovação no Rotten Tomattoes, mas o adjetivo mais coerente para classifica-lo seria “estranho”.