Há exatamente 51 anos atrás acontecia, na cidade londrina, uma das mais polêmicas edições do Miss World (1970). Foi a primeira vez que uma negra ganhou a coroa e duas misses representaram a África do Sul, por conta da crise social e política do país. O ápice da 20ª edição foi a manifestação feminista, que criticou o concurso em plena transmissão global, onde manifestantes jogaram bomba de farinha no apresentador.
Misbehaviour esgata essa história pouco falada e representada na mídia. O filme britânico, ainda sem data para estrear no Brasil, foi dirigido por Philippa Lowthorpe, ganhadora do BAFTA, e escrito por Rebecca Frayn e Gaby Chiappe. Seu lançamento ocorreu em 13 de março de 2020 no Reino Unido.
A comédia dramática retrata a vida de várias mulheres ligadas, diretamente e indiretamente, com o concurso e mostrando o pensamento de cada uma em relação a ele. As personagens principais são Sally Alexander e Jennifer Hosten. Enquanto a primeira é uma feminista e forte opositora ao sistema patriarcal, que deseja entrar na universidade, a outra é uma aeromoça negra que participa do Miss World 1970 representando seu país Granada. Além delas há também Jo Robinson, uma feminista radical, e Julia Morley, esposa do criador de Miss World.
Philippa Lowthorpe fez questão de intercalar como o machismo afeta as personagens principais, mulheres como Sally, vistas como moças bonitas que não devem pensar e sim cuidar do lar, e como Jennifer, não vistas como bonitas e atraentes por serem negras, revelando lutas diferentes dentro do feminismo. Apesar de mostrar essas duas vertentes, teria sido interessante ver como outras personagens negras, além das presente no concurso, pensam sobre o Miss World. Afinal, somente mulheres brancas são apresentadas argumentando contra o evento. E, mesmo sendo um tema sério, há alguns momentos descontraídos que dão leveza ao enredo.
Apesar da história simples e sem grandes reviravoltas, a trama possui um bom ritmo e assertividade nas críticas. O mesmo acontece com a fotografia do filme, com ângulos tradicionais, centrando nas emoções dos personagens, e seus pensamentos. Algumas cenas nem precisam de fala, pois, em conjunto com a atuação, elas se tornam autoexplicativas o suficiente para passar o que aquele personagem está pensando.
Os atores, em especial Keira Knightley que interpreta Sally e Gugu Mabtha-Raw que interpreta Jennifer, fazem um belo trabalho. Podemos perceber frustrações de Sally em seus olhos e a felicidade de Jennifer em ter realizado seu sonho de criança.
Misbehaviour é, portanto, um filme para qualquer pessoa que queira saber mais sobre como a beleza afeta, de forma diferente, mulheres brancas e negras ou para quem gosta de filmes que mostrem uma realidade diferente da sua.
Ao final, o filme deixa uma mensagem importante: seja em um concurso de beleza ou na universidade, todas as mulheres, independentemente de suas origens, devem seguir seus sonhos e batalhar por eles.