H.G Wells é referência no sentido de boas histórias. Os clássicos escritos pelo autor nunca perdem sua qualidade, e independente da época em que lemos os livros, as histórias continuam atuais. O Homem Invisível (1897) é um dos livros que mais receberam adaptações para o cinema, como o clássico de 1933 de James Whale e a “reimaginação” em 2000, protagonizado por Kavin Bacon, mas aqui intitulado como O Homem Sem Sombra. A nova adaptação chegou aos cinemas no dia 27 de fevereiro, com direção de Leigh Whannell (Jogos Mortais), desta vez o filme tem a missão de reiniciar o Dark Universe da Universal Pictures.
No longa, Cecilia Kass (Elizabeth Moss) foge de casa para sair de um relacionamento abusivo e tentar recomeçar a vida, porém, ao receber as notícias do suicídio de seu ex-namorado, ela passa a ser atormentada por um ser que ninguém consegue ver.
Whannell se prova certeiro com o roteiro feito para adaptar esta história, pois aqui, o homem invisível não é o protagonista e sim sua ex-namorada, o que faz a história abordar um assunto importante e que deve ser discutido cada vez mais – relações abusivas e violência – o que leva o filme a um gênero a mais do terror/suspense, pelo qual ele é vendido, e passa a ser também um excelente e sufocante drama.
E não apenas como roteirista, Whannell acerta em cheio também na direção do filme. Com enquadramentos abertos e o bom uso de plano-sequência, o diretor consegue passar bem a visualização do homem invisível (embora ele não apareça), o espectador consegue visualizar os cantos da sala, e os poucos sinais de que ali está o “monstro”. A iluminação dos ambientes também ajuda a provocar uma sensação claustrofóbica, causada nas cenas, além do bom uso da trilha sonora e dos práticos efeitos visuais, que aumentam a dramaticidade e o terror das cenas.
Esses pontos positivos, não teriam dado tão certos se não fosse pela excelente atuação de Elizabeth Moss, que se prova cada vez mais, uma das mais talentosas atrizes de sua época, que mesmo contracenando com um homem invisível, consegue passar todo o drama que a personagem está passando. Em certos momentos, o espectador pode se questionar se aquilo é de fato um monstro, ou apenas um estresse pós traumático de Cecília.
Leigh Whannell recria uma forma de narrativa para O Homem Invisível, fazendo com que a história seja muito mais atual do que as demais adaptações, uma vez que até a formula da invisibilidade é explicada para um contexto moderno. E o assunto abordado na narrativa, que prova que filmes de suspense/terror podem ter tramas e roteiros mais dramáticos, o que vem acontecendo com cada vez mais frequência no cinema atual, como visto em filmes como Corra (2017), Nós (2019) e Mindsommar (2019), que trazem roteiros mais inteligentes e quebram o paradigma de que filmes desse gênero, não levam à discussões mais importantes.
O Homem Invisível é sufocante, inteligente e muito bem dirigido, o longa cria novos caminhos para o Dark Universe, e prova que colocar os famosos monstros em um contexto moderno e mais real, e não como os famosos blockbusters que estamos acostumados, pode ser um acerto para as adaptações que estão por vir.