Dirigido por Wes Craven, Pânico 4 é o último filme que o cineasta realizou antes de seu falecimento. E apesar de ter recebido críticas mistas em sua época de lançamento, esse quarto filme foi crescendo cada vez mais conforme os anos passaram. Craven havia feito um filme que perdia somente para o original em termos de qualidade, com personagens e viradas que os fãs lembrariam até hoje.
No filme, Sidney Prescott (Neve Campbell) acaba de lançar um livro de autoajuda e retorna à Woodsboro para vendê-lo. Ela consequentemente reencontra os velhos amigos Gale (Courteney Cox) e Dewey (David Arquette). No entanto, sua chegada provoca o retorno de Ghostface, que não aparecia há anos, a deixando em perigo e todos ao seu redor.
A contemporaneidade de Pânico 4 para sua época

Já nos primeiros 5 minutos temos a melhor abertura de todos os filmes da saga (que sempre se destacou por isso). A utilização da metalinguagem extrapola todos os níveis possíveis de surpresa, mostrando aquilo que sempre soubemos da maneira mais divertida e criativa: jamais poderemos fugir de ser enganados por Pânico. Nessa história tudo é possível, da mesma forma que iremos suspeitar do mais óbvio, também iremos questionar o que não é tão óbvio assim. E se a própria cena que abre o filme nos engana mais de uma vez, o que podemos esperar nesse pós-trilogia?
Se passando mais de uma década após Pânico 3, algumas atualizações tecnológicas se mostram nesse contexto. É claro que, assistindo a esse filme em 2023, os celulares de botão jã são completamente obsoletos, e Pânico 5, lançado há pouco mais de 1 ano, traz elementos mais atuais. Ainda assim, nota-se uma progressão natural que trouxe um novo ar para esse mundo que sempre foi situado no contexto noventista. As piadas ridicularizando os filmes de terror desse período seguem afiadas, bem como as novas regras.
Dessa forma, esse é o filme com o visual mais diferente dentro da franquia. A fotografia opta por utilizar tonalidades mais soturnas, embora recorrentemente haja luz destacando os personagens. E isso, de alguma forma, traz um tom mais nefasto e devaneado, como se fosse um pesadelo; embora, mais uma vez, no futuro, Pânico 5 saberia como equilibrar isso em sua estética. Nesse sentido, é aqui que tivemos as primeiras mortes da franquia a serem realmente impactantes aos olhos, porém nunca chegando no ”pornô da tortura” como a própria história brinca. A sonoplastia dos golpes e das facadas tem mais peso, assim como o gore, que é elevado à algo mais sanguinolento, mas nunca enjoativo.
Uma das melhores revelações sobre o assassino

Pânico sempre apresentou seus assassinos e motivações com competência, visto que essas motivações sempre estiveram atreladas a algo já estabelecido no roteiro. Mas dessa vez, Jill Roberts ser a assassina foi completamente sagaz, devido à psique da personagem e sua conexão familiar com Sidney. De natureza extremamente narcisista, ela deseja ferozmente ser o centro das atenções, tomando as atitudes mais absurdas além de matar. A cena em que ela se automutila mostra como ela é completamente doente e irá fazer de tudo para atingir seu objetivo.
Assim, essa revelação também funciona pelo fato de Jill parecer ser a ”nova Sidney”. Essa construção de figura da garota inocente que começa a ser perseguida não é uma passagem de bastão que a história determina, como parece no decorrer, mas que a própria personagem propositalmente determina. Afinal, ela quer ser a grande estrela. E Emma Roberts abraça essa loucura perfeitamente, em um ponto que ela não precisa se levar tão a sério, já que a própria proposta dá esse espaço a ela. Ela certamente é uma das personagens mais memoráveis da saga, e, talvez seja, a melhor assassina.
Portanto, Pânico 4 funciona excelentemente como um exercício de imprevisibilidade, que a cada novo cenário e personagens apresentados somos expostos ao choque. É um dos filmes mais bem construídos da saga e o que melhor representa ela: divertido, inesperado e autêntico.