A época: agosto de 2000. O Nintendo 64 está em vias de ser substituído pelo Nintendo GameCube. Porém, um dos consoles mais poderosos da época ainda era capaz de mostrar ter algumas cartas na manga. E assim, seguindo a linha de Super Mario RPG: The Secret of the Seven Stars (Snes, 1996), a empresa lança, em parceria com a Intelligent Systems — a mesma desenvolvedora de Mario Paint —, Paper Mario, um jogo com uma premissa totalmente diferente de tudo o que havia sido lançado até o momento. Um RPG com personagens em formato de papel recortado, apresentado com muito humor, principalmente nos diálogos, e que se tornou um dos melhores jogos do console dessa época.
O sucesso foi tanto que uma franquia foi criada, com pelo menos um jogo para cada console, sendo seus sucessores, Paper Mario: A Thousand-Year Door (Nintendo GameCube, 2004) — este considerado como um dos melhores da franquia —, Super Paper Mario (Nintendo Wii, 2007) — este o mais diferente da série, mas não menos bom —, Paper Mario: Sticker Star (Nintendo 3DS, 2012) — considerado como o ponto fora da curva —, Paper Mario: Color Splash (Nintendo WiiU, 2016), culminando em Paper Mario: The Origami King (Nintendo Switch, 2020), objeto desta análise.
A História
É época de festa no Reino dos Cogumelos. Mario e Luigi estão indo até à Cidade dos Toads para participarem do Festival do Origami pelo qual foram convidados. Estranhamente, a cidade está vazia. Como é possível, faltando pouco para uma festa tão importante, a cidade estar vazia? Então, Mario e Luigi vão até o Castelo da Princesa para averiguar o que está acontecendo. Quando chegam lá, Luigi vai atrás de uma chave para abrir uma porta enquanto Mario segue e encontra a Princesa. Contudo, ela está estranha, diferente, com um olhar vazio e distante, falando de uma maneira pausada, com uma voz sinistra. Não somente isso, apesar dos traços característicos ela está dobrada em forma de princesa. Ela está transformada em forma de origami.
Após algumas perguntas e respostas, Mario é alvo de uma armadilha e cai em uma prisão. Lá ele encontrará Olivia, uma simpática garota-origami, que o ajudará a desvendar todo o mistério do jogo, liderados pelo temível Rei Olly. Falar mais do que isso é certamente spoiler.
A história é simples mesmo. O Reino dos Cogumelos está em perigo (de novo) e desta vez não é o Bowser! Mario precisa correr, pular, acessar novos poderes, dentre eles: poderes elementais, para que, dessa forma, possa impedir o temido Rei Origami de transformar tudo em… bem, origami.
A Jogabilidade
Paper Mario: The Origami King é um RPG. Disso não há dúvidas. Sua visão é em perspectiva com gráficos extremamente bem feitos e muito bonitos. Seu sistema de batalhas é híbrido o que, em outras palavras, significa que há batalhas por turnos e batalhas em que não há turnos. Em alguns casos, conforme o jogador avança e vai deixando Mario mais poderoso, é possível pular alguns combates derrotando o seu oponente antes da batalha por turnos começar. Mas vamos por partes.
Batalha por Turnos
A batalha por turnos não é tão simples assim. Quando a luta se inicia, Mario está no centro de uma espécie de arena circular e rodeado de inimigos. O tabuleiro é dividido em segmentos, como se fossem células— conforme se verifica da imagem acima. Cada inimigo fica em uma das células espalhadas pela arena, a qual o jogador deverá alinhá-las, manuseando-as nas fileiras de forma horizontal ou vertical. Isto significa que, ou o jogador mexe na linha horizontalmente mexendo todos os inimigos que estão nela, em um movimento de rotação, tanto para a direita quanto para a esquerda (o que não faz diferença, já que é um círculo), ou mexe na própria coluna, arrastando-a para cima ou para baixo. Tudo isso dentro de um tempo e com um mínimo de movimentos possíveis para resolver o “quebra-cabeças”.
Mas qual é o objetivo de alinhar os inimigos? Não poderia o jogador lutar contra eles espalhados pela tela? A resposta para esta segunda pergunta é sim, o jogador pode sim, lutar contra os inimigos separadamente, contudo, quando você alinha os inimigos, o ataque do Bigode fica mais forte em 1,5x. Pode não parecer muito, mas é importante.
Basicamente, Mario possui dois tipos de ataque: o pulo e o martelo. O pulo ataca todos os inimigos que estão em uma coluna, enquanto o martelo ataca uma área com quatro células, duas embaixo e duas em cima.
Mario terá dois ataques antes que seus inimigos possam atacar. Ele poderá atacar todos os inimigos alinhados em fila com o pulo e poderá atacar os inimigos alinhados em quatro para usar o martelo como dano de área. Caso bem executado, apertando inclusive o botão “A” do Switch no momento certo, o dano será ainda maior e a morte do inimigo será certa. Mario ganha a batalha sem nem ter recebido qualquer dano, o famoso ‘sem nem suar’.
Contudo, se Mario não conseguir alinhar os inimigos, terá dificuldades para acabar com todos eles sem tomar nenhum dano. Na verdade, é possível falar que o dano virá de qualquer maneira. Uma vez vencida a batalha, moedas! Muitas moedas! E, se o alinhamento sair perfeito, e o Bigode não receber danos, moedas bônus!
É importante repetir que caso Mario já esteja mais forte que alguns inimigos, ele consegue derrotá-los antes de adentrar na batalha por turnos, com uma martelada ou um pulo na cabeça.
Apesar de bem inovador, há um momento em que esse tipo de batalha pode ficar um pouco maçante, pois não é a batalha que deixa o Bigode mais forte, mas sim quando seu medidor de HP fica maior, fazendo com que o jogador escolha não entrar em tantas batalhas, pela própria inutilidade mesmo, então cuidado com essa questão.
Batalhas Simples
Além do sistema de batalha por turnos, há um sistema de batalhas simples, que se encontra em sua grande maioria contra inimigos que são chamados de Paper Machos. Esses inimigos não entram em batalha na arena, mas sim em tempo real.
Para vencê-los, basta encontrar o selo do Rei Origami que está em algum lugar do corpo, martelar e depois que eles estiverem sem o selo, entender o padrão para que o jogador possa, no momento certo, acertar seu martelo novamente. Alguns golpes serão suficientes para derrotá-los e conseguir puxar o confete que eles deixam para trás.
Boss Fights
As boss fights são um pouquinho diferentes das batalhas durante o jogo. É uma batalha por turnos, mas ao contrário das outras, neste caso o chefe é quem fica no centro e não nosso herói, sendo ele posicionado na parte exterior da arena. Quando a luta se inicia, Mario tem que mexer as células, tais quais faz contra inimigos comuns. A diferença é que o Bigode tem que organizar as setas e os power-ups que estão espalhados pelos tabuleiros para que assim ele possa sair de onde está, consiga aproximar-se do inimigo, cair em uma célula que tenha o símbolo da mão dele para ativar o ataque, e enfim atacar.
Pode parecer bem simples, porém, cada chefe tem seus truques sujos, que você, ao longo da sua gameplay, presenciará. Então cuidado e atente-se aos padrões de cada um deles.
Além de células com setas e o símbolo de ataque, há também células com corações para recuperação de HP, células com power-ups, células que contém uma cartinha com dicas, e quando não há power-ups espalhados, você os encontrará dentro de um baú que Mario consegue acessar, caso ele coloque as setas de maneira corretas.
As batalhas contra chefes são desafiadoras, pois tendem a fazer o jogador pensar (lembre-se que você tem um limite de tempo para isso), entender qual será o melhor caminho, não errar esse caminho por algum cálculo incorreto, cair na célula de ataque e ainda garantir que seja o local para acertar no ponto fraco. E lembrem-se: os chefes jogam sujo.
Olivia
Vamos falar da nova companheira do Mario, a Olivia. Ela é engraçada, carismática, ingênua e bem-humorada. Mario a salva logo no início e, desta forma, buscando agradecer por isso, ela quer ajudar nosso herói a terminar o jogo.
Para tanto, ela ajudará mesmo de todas as maneiras: ela dará dicas caso o jogador se encontre perdido e auxiliará durante as batalhas contra os chefes, dando dicas, isso porque quem ensina o tutorial de batalhas é a própria. Sem mencionar que ela interage com todos os personagens, já que o Bigode é mudo nesse jogo (assim como em todos os outros). Ela é essencial para o andamento do game.
Buracos para Preencher com Confete
Logo no início de sua jornada, o Bigode encontra muitos buracos que o Rei Origami fez durante suas falcatruas. Esses buracos representam um perigo para todos os habitantes do reino. Alguém pode cair e se machucar, além de impedir o herói de alcançar alguns lugares.
Por conta disso, logo no começo ele é agraciado com um saco de confete, o qual ele pode juntar todos os pedaços de papel que aparecem de alguma maneira: batalhas, sacudindo árvores com o martelo, batendo em flores, sacos de confete escondidos, enfim, em diversos lugares. Esses confetes são essenciais para restaurar a paz no Reino dos Cogumelos.
Toads em Perigo! Salve-os!
Se você, caro leitor, busca platinar o jogo, prepare-se para tapar buracos com confete, encontrar todos os blocos “?” e buscar todos os Toads, os simpáticos cogumelinhos que são habitantes do Reino dos Cogumelos, que foram transformados em Origami, mas não em uma versão distorcida deles mesmos. Eles foram transformados em diferentes tipos: flores, insetos, cachorros, entre outros.
Mas não são todos que foram transformados, alguns deles estão amassados/dobrados e jogados em diferentes lugares do cenário. Outros foram enrolados e estão em buracos, enfim… Não é um desafio muito grande encontrá-los, mas são muitos que precisam ser resgatados.
Os Toads, além de ajudarem a completar os 100% da campanha, possuem outra função: eles preenchem as arquibancadas que aparecem quando Mario entra em batalha, ou seja, eles torcem pelo Bigode! Contudo, eles não estão limitados somente à torcida. Caso você ofereça moedas para eles, eles entram no tabuleiro e ajudam conforme a quantidade de moedas que você ofereceu — mercenários!
Exemplo: Se um tabuleiro está muito difícil para o jogador realizar o alinhamento de inimigos, Mario paga uma quantidade de moedas, que pode ir de 1 até 999, ficando em margem baixa, média e alta de entrega de moedas e, desta forma, eles ajudam. Se a margem de entrega de moedas for baixa, eles ajudam um pouco na solução do quebra-cabeça. Se a margem for média, eles ajudam mais. No entanto, se for a maior margem, eles simplesmente arrumam o tabuleiro para que nosso herói possa enfrentar os vilões. Neste caso, as moedas bônus de solucionar o tabuleiro não irão para o Mario. Acreditem: os Toads são muito úteis, mesmo que você tenha que desembolsar moedas para eles fazerem isso (mercenários).
Todavia, se a batalha for contra um chefe, os Toads não arrumam o tabuleiro para o Bigode. Ao invés disso, eles iluminam o caminho que, ao arrumar o tabuleiro, nosso herói irá caminhar, facilitando muito saber onde ele irá parar para atacar o chefe.
Moedas! Me dê Mais!
O jogo é extremamente generoso em dar moedas. Seja por batalhas, cobrindo buracos, ou descobrindo lugares específicos, você encontrará muitas moedas mesmo. Contudo, ao mesmo tempo em que se encontra muitas moedas, a inflação no Reino dos Cogumelos é elevada. Os itens são caros e alguns colecionáveis só se consegue desembolsando um valor considerável.
Além de itens, você também compra a ajuda dos Toads durante a batalha (mercenários) e também pode comprar mais tempo para poder alinhar os quebra-cabeças.
Busque as moedas. Não deixe de coletá-las. Elas sempre foram muito importantes na história do Mario e agora elas possuem essa finalidade, ou seja, compras.
Power-ups
Antes de concluir nossa análise, é interessante falar que Mario agora possui alguns power-ups que serão usados em batalha, ou mesmo durante o jogo, caso a necessidade apareça. São eles:
1,000-Fold Arms
Um pad que possibilita ao nosso Herói aumentar seus braços, dando-lhe super força. Com eles, Mario pode rasgar o cenário, bater em inimigos, ou até mesmo durante a batalha, em algum momento oportuno, usá-lo para desferir grandes danos aos oponentes. Ele se utiliza do motion-sense do Switch para funcionar.
Vellumental Magic Circles
Mais um pad que possibilita a Mario acessar poderes elementais, através de sua amiga Olivia, mas que só podem ser acessados após avançar no jogo. Martelos e Botas — Já foi dito que Mario usa martelo e pula em seus inimigos para vencer. Porém, nem sempre dá para contar somente com a própria força. Por isso, o bigodudo tem à disposição uma gama de martelos diferenciados, bem como botas, para ajudar a dar aquele punch no seu poder. Por exemplo: se o inimigo tem espinhos e está alinhado em fileira, não em área, ele terá que pular para dar dano na fileira inteira. Para dar dano no inimigo espinhoso, Mario pode usar a Bota de Ferro (Iron Boots), cujo dano será maior e ainda evita que ele se machuque. Sempre tenha martelos diferentes e botas diferentes em seu arsenal.
Conclusão
Depois desta longa análise, chega o mais importante: Vale a pena jogar? A resposta é: sim! O jogo é muito divertido, com boas doses de humor, com lutas muito legais e bem trabalhadas. Não é o melhor jogo da franquia, mas possui uma história envolvente, com personagens carismáticos e um sistema de batalha interessante, apesar de, após um tempo jogando, essas lutas ficarem maçantes. De qualquer forma, vale a pena. É muito melhor do que Sticker Star.
Detalhe muito importante: esteja com o seu inglês em dia, já que a Nintendo ainda não faz a tradução de jogos para português.