Em um verão, dois adolescentes se encontram pelo acaso. Muito diferentes, Aristóteles e Dante se dão bem desde o início, se aproximando, e começam a influenciar a vida um do outro. Talvez a chave para desvendar os segredos do Universo possa ser só um pouco de amizade e amor.
Dante é emocional, apaixonado. Quando você menos espera, ele explode como fogos de artifício. Mas isso não significa que Dante não possa ser calmo. Na verdade, a sensação que se capta é a de que ele é, na maior parte do tempo, um fogo de artifício e em seus momentos de pausa, apenas um menino.
Ari é sério, pensativo, quase normal demais. Sua narração passa a impressão de que não se importa com o seu redor, mas essa falta de palavras é quebrada pelas ações. Vemos um Ari muito mais sensível e humano, mesmo que ele nos oculta algumas coisas ou não se dê ao trabalho de explicar sua linha de raciocínio.
Verão deveria significar liberdade, juventude, nada de escola e muitas possibilidades e aventuras e exploração. Verão era esperança. Por isso amava e odiava verões. Porque me faziam acreditar.
É impossível não se apaixonar pela parceria entre os dois. Quanto mais lemos, mais queremos entender Dante e Aristóteles. Como pensam, o que fazem, quais são seus segredos. Quem são Aristóteles e Dante quando estão juntos?
A leitura segue um ritmo íntimo. Existe tanta nudez na maneira crua como os acontecimentos se expressam que surge uma melancolia. Aristóteles e Dante exploram de tantas maneiras a interpretação dos leitores que os pequenos acontecimentos nos chocam, porque já sentimos o peso da intimidade. Conhecemos tão bem Aristóteles que não é mais preciso que ele nos explique o que o afetou, nós sabemos, já sentimos. Estávamos lá quando tudo ocorreu, Ari.
— Vida — eu disse. — Trabalho. Merda. Ecótono.
— Ecótono?
E essa narração tímida, simples, crua é tão poderosa em seu papel de nos manter presos… Sentimos, entendemos, prevemos, mas isso não quer dizer que não soltamos um suspiro assustado quando a impulsividade dos dois encurrala o leitor de surpresa. A história segue caminhos inesperados. Em um momento, você tem certeza de que tudo está se ajeitando e indo para o lugar onde deveria, então, acontece: você é pego de surpresa.
O livro também abre espaço para discutir a família, amizade, preconceitos sociais, com bastante cuidado ao tocar nesses temas e uma boa dose de realismo. Os personagens secundários também ocupam um papel relevante na trama, mostrando que afetam as vidas dos protagonistas e que possuem uma história própria. É super agradável ver que a mãe de Ari é seu local de aconchego e segurança, com uma amizade entre mãe e filho pouco vista na literatura.
Aristóteles e Dante são um retrato da vida, da intimidade em nossas relações e do medo que surgem nelas. Se você gosta de livros que trazem uma sensação de acolhimento ao final, está é a escolha certa. No fim, você termina de ler com um pouquinho de lágrimas nos olhos, mas com um sorriso bem grande. Impossível deixar essa leitura de lado, impossível esquecer esses dois.