Publicado originalmente em 1960, O Sol é Para Todos, da estadunidense Harper Lee, é considerado um dos mais importantes romances norte-americanos do século XX.
O Sol é Para Todos traz uma trama que contrasta diretamente em diversos sentidos, abordando temas fortes de forma crua e atual. Toda a história se passa em Maycomb, uma cidade fictícia do Alabama, no Sul dos Estados Unidos, no início dos anos 1930, um período delicado, onde muitos sofriam diretamente por conta da segregação racial e dos efeitos causados pela Grande Depressão que assolava o país desde 1929.
Apesar de ser uma obra de ficção, o trabalho documental desenvolvido por Harper Lee neste livro, rendeu-lhe o Prêmio Pulitzer de Literatura, em 1961, e posteriormente voltou a ser premiado, desta vez no cinema, quando o livro foi adaptado num filme homônimo lançado em 1962.
É importante não darmos spoilers da obra, mas isso dificulta analisá-la sem comentarmos os detalhes sólidos e frios apresentados por Harper Lee. Vemos constantes injustiças raciais e sociais presentes na trama, pois o problema se estende por várias vertentes durante o período em que se situa a história.
Apesar da crua humanidade presente nos personagens, a escolha inteligente de proporcionar ao leitor acompanhar a história através dos olhos da pequena Louise “Scout” Finch é acertada. O frescor da infância presente em sua mente é visível e afeta diretamente o curso e entendimento da história. Afinal, uma coisa que paira sempre durante toda a trama é o fato deles, uma família branca, não verem nenhuma diferença entre a cor da pele, mas sim no caráter de cada habitante da cidade.
Entre as aventuras da infância de Scout com seu irmão mais velho, Jem, e seu amigo Dill, vemos, sempre através do ponto de vista da nossa pequena protagonista, os diversos acontecimentos que ocorrem no pacato município, incluindo algo muito importante em que seu pai, um advogado, tem se dedicado: preparar a defesa de um homem negro acusado de estuprar uma jovem branca habitante da cidade.
Para nós, que vivemos em pleno século XXI, torna-se vívido acompanhar os pequenos detalhes narrados por Scout que passam despercebidos (ou não entendidos por sua cabecinha), mas que possuem fortes significados para nós, e se faz presente atualmente, 90 anos após os acontecimentos narrados; numa sociedade que ainda luta contra racismo e preconceito.
Harper Lee consegue criar personagens com profundidade, nos fazendo nos afeiçoar a alguns deles em poucas páginas, e mergulhar por completo nos momentos divertidos e angustiantes vividos pela pequena Scout e por todos os outros personagens de sua narrativa.
Para nós, leitores, torna-se quase impossível largar o livro até chegarmos ao seu fim. À medida que a história avança, sentimos uma necessidade insaciável de saber o destino de cada um dos personagens que nos são apresentados. Isso se acentua ainda mais na segunda parte do livro, onde vemos o julgamento do jovem acusado de estupro.