Oleg, do suíço Frederik Peeters, conhecido por Pílulas Azuis, é um dos mais recentes títulos trazidos ao Brasil pela editora Nemo.
Na trama, Oleg é um quadrinista experiente que enfrenta um período de bloqueio criativo. Dotado de um grande espírito crítico e questionador, Oleg mergulha em busca de inspirações em um mundo em constante mudança. Por meio das crônicas da vida contemporânea, acompanhamos o cotidiano de Oleg, sua esposa, com quem divide a vida há duas décadas, e sua filha, em um mundo assombrado pela vaidade narcisista, pelo culto à superficialidade e pela ultramodernidade tecnológica.
Oleg não deve ser jugado à primeira vista. A simplicidade presente na capa e no projeto gráfico de Oleg contrasta diretamente com a história e a arte de Frederik Peeters que vemos no interior do livro. Os desenhos de Frederick nos transportam diretamente para a realidade vivida por Oleg em seu dia-a-dia, e, mesmo fazendo uso apenas de duas cores: preto e branco, a riqueza de detalhes em seus desenhos nos faz sentir o mundo de Oleg vivo e bastante expressivo.
Todo artista, ou qualquer pessoa que esteja envolvido em atividades criativas, já passou ou ainda vai passar por um período de seca criativa, onde tudo não parece dar grandes resultados e o sentimento de ‘ter falhado’ é o único que reina em sua mente. Oleg nos descreve muito bem esse problema no qual o protagonista está passando. No entanto, apesar dos problemas em sua carreira, Oleg vive uma rotina agradável com sua esposa e filha. A situação só muda quando um problema familiar acontece, fundindo-se ao seu problema profissional, mas, talvez, lhe servindo como a fagulha que precisava para redescobrir a sua criatividade.
Oleg é uma HQ bastante centrada na rotina de seu protagonista, por conta disso vemos de forma direta o quanto a sociedade à sua volta o afeta. Oleg vive em um mundo onde todos estão constantemente conectados à tecnologia e vivendo superficialmente. Nosso protagonista é apegado aos clássicos, evita o uso de tecnologia sempre que pode, e se mantêm longe das superpopulosas redes sociais, onde todos parecem perder autenticidade e vivem alimentados por uma vaidade narcisista.
A HQ consegue nos fazer rir em diversos momentos descontraídos vividos pelo protagonista — principalmente nas interações com sua filha adolescente —, mas também nos faz refletir em diversos momentos sobre a sociedade em que vivemos, os problemas que enfrentamos diariamente, dentro e fora de casa; além de nos deixar angustiados ao vermos uma realidade tão parecida com a nossa, onde todos estão constantemente conectados e se esquecem de ver o mundo que os rodeia.
É importante — e difícil — não dar spoilers de Oleg, que, apesar de suas 180 páginas, nos apresenta a diversos problemas, diversos questionamentos e situações, seja envolvendo Oleg, o protagonista, ou sua esposa e filha.
Oleg é uma HQ visceral sobre a vida de um homem em busca de sua inspiração perdida, mas, além disso, acaba sendo uma declaração de amor do protagonista — e do autor —, como um breve lembrete que de podemos enfrentar toda e qualquer adversidade presente em nossas vidas.