Sra. Spring Fragrance é um conto que fala sobre amor e casamento, preconceito e mudanças em terras estrangeiras. Escrito em 1912, por Sui Sin Far, filha de pai americano e mãe chinesa, a autora presenciou de perto a xenofobia enquanto crescia, e esse fator influenciou suas obras.
Que capa incrível! Não importa o que é dito, nossos olhos sempre vão procurar a beleza nas capas dos livros. A imagem é bem marcante, com tons em vermelho e creme, mostrando a força asiática e a delicadeza da obra. Sem dúvidas, se encaixa perfeitamente com a história.
Sr. Spring Fragrance e Sra. Spring Fragrance são um casal recém-chegado nos Estados Unidos. Enquanto o Sr. Spring Fragrance é bem mais reservado, conservador e “normal“, Jade Spring Fragrance é cativante, fala através de poesias e está apaixonada pela América. Mesmo muito diferentes, é evidente que ambos amam muito um ao outro.
Ainda assim era estranho, pois ele havia se apaixonado por sua foto antes mesmo de vê-la pessoalmente, assim como ela havia se apaixonado por ele!
O livro possui como protagonista a Sra. Spring Fragrance, mas a participação de seu marido é constante. Além disso, há vários personagens secundários no livro, o que torna um pouco difícil gravar o nome de todos em um curto período de tempo. Contudo, todos estão ligados à personagem principal, recebendo sempre conselhos poéticos da mulher.
A linguagem do texto embaralha um pouco a mente, já que é bem lírica, e a estrutura de muitas frases parece ser a de poemas que se se juntaram e saíram do formato. É algo ruim? Claro que não, é de uma beleza extraordinária e se adequa à personalidade da protagonista. Somente é necessário dar mais atenção às frases, relendo uma ou outra vez.
— Irmãzinha, oh, irmãzinha! Seque as lágrimas, não se desespere. Ainda falta uma lua para o dia do casamento e quem sabe o que as estrelas conversarão entre si até lá? Um passarinho me disse…
Quantos temas podem ser explorados em tão pouco tempo! O preconceito enfrentado por imigrantes é um assunto que é tratado quase de maneira indireta, mas ainda sim bem natural, parecendo uma conversa corriqueira.
[..] me levam a implorar a você para esquecer que o barbeiro lhe cobra um dólar, enquanto pede apenas quinze centavos para um americano, e não reclamar mais por seu honrado irmão mais velho, em uma visita a este país, estar detido sob o teto deste grande governo em vez de em seu humilde lar.
O machismo enfrentado por mulheres na época também é explorado de maneira superficial. Há um certo conflito que ocorre no conto, porque o Sr. Spring Fragrance interpreta as palavras de um diálogo da esposa com uma amiga da maneira errada, e começa a se preocupar com as mudanças que estavam ocorrendo. Será que sua esposa não o amava mais? Ela se encantou por esse país novo e esquecerá dele junto com o país de origem?
Não demora nada para que a gente perceba que o casal é bem unido, apesar das diferenças. A Sra. Spring Fragrance parece adorar os EUA por ter mais liberdade do que na terra natal, como uma mulher, mesmo que ainda tenha que fechar os olhos para certas questões incômodas. Seu marido, apesar das inseguranças, confia e acredita nas intenções positivas da esposa, mesmo quando questionado sobre “estar dando muita liberdade à mulher”.
[..] perdoe-me, primo, mas se as mulheres saírem de baixo do teto dos maridos a seu bel-prazer, o que as impedirá de se tornarem levianas?”
As opiniões contrárias do par quanto ao Estados Unidos é muito benéfica, uma vez que podemos conhecer as posições diferentes que os imigrantes enfrentam: felizes por conhecer um novo país, mas temerosos de como serão vistos, com medo das mudanças.
— Tudo é “de elite” na América — comentou.
No geral, Sra. Spring Fragrance é um conto cheio de potencial, uma flor que iniciou a desabrochar, um diamante que não foi trabalhado o suficiente. Aborda questões importantes e é corajoso para sua época, mas poderia desenvolver melhor sua trama e temas correlacionados com uma quantia maior de páginas.
Ademais, é uma leitura muito rápida, enriquecedora, e com uma escrita que beira à fantasia.