Há vinte e seis anos, Gol D. Roger anunciava para o mundo inteiro a existência de um pedaço do seu tesouro, escondido na Grand Line. E há vinte seis anos, Monkey D. Luffy partia atrás desse mesmo tesouro, jurando se tornar o rei dos piratas. Desde então, a obra de Eiichiro Oda, One Piece, se tornou um sucesso astronômico. Na verdade, pode-se dizer que as aventuras de Luffy e os Chapéus de Palha foram além de um mero mangá ou anime, se tornando uma febre cultural no Japão e no mundo.
Portanto, não é de se estranhar que a história de Oda tenha se tornado uma série da Netflix. Com milhares de dólares em orçamento, efeitos dignos de filmes de Hollywood, e os nossos piratas preferidos em carne e osso. One Piece: A Série é uma surpresa? Ou apenas mais um fracasso tentando adaptar histórias de um mundo além do alcance live-action?
East Blue por outros olhos
Quando foi anunciado que a amada obra de Eiichiro Oda se tornaria uma série live-action, houve muito receio por parte dos fãs. Afinal, não é de hoje que a própria Netflix vem entregando séries e filmes decepcionantes com o nome de grandes obras japonesas, como foi o caso de Fullmetal Alchemist (2017). Porém, você pode assistir à série despreocupado, sabendo que o próprio Oda teve uma grande participação na produção. Especialmente na hora de recontar os eventos da primeira saga da história.
Luffy, interpretado por Iñaki Godoy, parte em uma aventura pelo mar de East Blue, em busca de tripulantes e um navio rumo a Grand Line. Contudo, terá que enfrentar piratas traiçoeiros, malignos e insanos que habitam as ilhas dessa área. No caminho, o espadachim e caçador de recompensas, Zoro (Mackenyu Arata) se junta a Luffy. Além da navegadora Nami (Emily Rudd), o mentiroso Usopp (Peter Gadiot) e o cozinheiro Sanji (Taz Skylar).
Todavia, o que diferencia One Piece de outras obras do mesmo calibre, é sua capacidade de remodelar todo o arco de East Blue e até mesmo transformá-lo em uma história interligada. Em contraste com a história original, é refrescante ver personagens e tramas se colidirem como uma história contínua.
Luffy comeu uma Akuma No Mi (Fruta do Diabo), e, assim, ganhou poderes de borracha. Essas habilidades foram muito bem transportadas para a tela, considerando que One Piece é uma das séries mais caras do ano. Por conta disso, os visuais estão de tirar o fôlego. Pores-do-sol, noites estreladas, campos de batalha. Tudo isso se mesclando aos cenários maravilhosos que recriam com perfeição o mundo de Oda.
Transbordando personalidade
One Piece é, naturalmente, uma obra muito colorida e que se excede em criatividade. O design dos navios, das ilhas, e principalmente dos piratas é um dos pontos mais marcantes de toda a obra. Por sorte, a série da Netflix consegue se manter fiel ao mesmo tempo que experimenta com o que já foi estabelecido antes. O figurino dos atores com seus personagens está incrível. Por exemplo, o protagonista Luffy constantemente muda de trajes em cada ilha que visita, se adaptando ao clima e ao tom que tal episódio terá.
Falando em episódios, os vilões estão muito bem. Buggy, O Palhaço, sendo um dos destaques. O ator que o interpreta, Jeff Ward, faz um bom trabalho em transportar a personalidade explosiva, trágica e hilária do personagem original para a série. Porém, Alexander Maniatis também não decepciona como Kuro Dos Mil Planos, e McKinley Belcher está fantástico como o nêmesis de Nami, Arlong.
A série certamente bebe da fonte de filmes como Piratas do Caribe, por tentar uma abordagem mais crua de alguns cenários e situações. Assim, criando uma mescla arriscada que pode desagradar certos fãs, mas agradar quem é novo no estilo de Oda. A trilha sonora empresta o estilo de Hans Zimmer, mas sem nunca perder a fantástica orquestra aventuresca de One Piece.
A química dos Chapéus de Palha é um dos pontos fortes de toda a história, sustentando os episódios ainda mais. Não é incomum vê-los jogando conversa fora como se estivessem do nosso lado. Sentimo-nos parte da tripulação, viajando com esses personagens, agora mais vivos do que nunca.
Como dito anteriormente, a série se excede ao recontar organicamente a crônica de East Blue. Há uma sensação de que esse realmente é um mar cheio de vida, esquemas de piratas e marinheiros que vivem em um mundo muito maior do que eles.
Nada de novo?
A adaptação de qualquer anime ou mangá para live-action é sempre um desafio, pois muitas vezes há uma base de fãs com expectativas elevadas em relação à representação precisa dos personagens, história e ambientação. Uma crítica comum a algumas adaptações é a alteração excessiva de elementos centrais que tornam a série original tão apreciada. Mudanças drásticas na trama, personalidades dos personagens ou ambientações podem decepcionar os fãs mais fiéis.
Muitos esperavam uma nova abordagem completa para este arco. Entretanto, mesmo que você conheça o anime, personagens e lugares, ainda será surpreendido. A história tem pequenas grandes mudanças na forma em que se desenrola. Personagens como Don Krieg (Milton Schorr) foram completamente cortados da trama, aparecendo apenas em algumas cenas. Porém, sua ausência e é justificada e acaba por deixar a história, honestamente, mais compacta, dando mais espaço para personagens como Zoro e Mihawk (Steven Hawk) brilharem. Além de dar um espaço gigantesco na história para os marinheiros. Especificamente para o Vice-Almirante Garp (Vincent Regan), avô de Luffy, e Kobe (Morgan Davies). No desenrolar da história, os caminhos de Kobe e Luffy se cruzam, aumentando o laço afetivo que ambos constroem tanto como inimigos quanto como amigos.
A história faz alguns cortes que fazem falta para certos personagens. Então se você irá gostar dessa série ou não, depende muito do que espera assistir. Especialmente em suas nuances que, indo de fã para fã, podem ser um dos pontos que mais incomodam na história. Para alguns, pode ser mais do mesmo, para outros, uma nova e fantástica forma de enxergar One Piece.
Veredito
One Piece: A Série prova o quão fenomenal a história que Oda criou ainda é. A obra olha para trás com orgulho, mas sem perder o foco no que está à frente. Com ótimas encarnações de seus personagens originais, efeitos incríveis, uma reimaginação quase perfeita do mundo de One Piece, e muita paixão envolvida, esse projeto veio para tornar uma das melhores surpresas do ano.
Esta primeira temporada lida com sonhos e a vontade de usá-los como combustível para seguir em frente. Por sorte, o sonho dos fãs de One Piece certamente se tornou realidade e temos uma ótima adaptação em mãos. Quem sabe possamos usar isso para olhar com esperança para o que está à frente?
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Ouça o episódio especial de One Piece do BFG: