Até que ponto a proteção de uma mãe com uma filha doente tem limite? Essa é uma pergunta que só quem depara com situações assim poderia responder. Para Dee Dee, não havia limite, o que importava era o amor, mas para sua filha Gypsy Rose, o limite foi saturado quando ela e o namorado assassinaram a mãe.
Parece uma história de ficção, mas não é. No ano de 2015, o caso da casa rosa, na pacata cidade de Greene County, no estado do Missouri, nos Estados Unidos, deixou o país norte-americano em choque. Dee Dee Blanchard foi encontrada morta, esfaqueada, enquanto sua filha, até então doente, que andava em cadeira de rodas, havia sumido.
Mais tarde, o caso veio a tona novamente, deixando os cidadãos ainda mais perplexos, quando a polícia descobriu que a filha Gypsy Rose junto com o namorado Nicholas Godejohn foram os responsáveis pelo assassinato de Dee Dee.
O serviço de streaming Hulu lançou a minissérie The Act contando justamente essa bizarra história, nos mínimos detalhes, através de relatos da polícia local, de vizinhos e familiares. São 8 episódios, e podemos dividi-los em duas partes: a vida dos Blanchard e o final trágico.
Na primeira parte da minissérie é possível ver tudo o que antecede o crime, como Dee Dee e Gypsy se relacionavam e porquê acabou em um final tão triste e chocante.
Dee Dee era uma mãe super protetora, que fazia de tudo para cuidar bem de sua única filha. Gypsy era uma menina que tinha diversos problemas de saúde, desde estômago até os ossos. Com isso, tudo o que a filha fazia, Dee Dee estava de olho.
A super proteção da mãe era algo tão marcante, que Dee Dee e Gypsy ficaram famosas e deram diversas entrevistas e palestras. Toda essa sensibilidade não podia ficar de fora da população, logo elas ganharam uma casa nova para morar, além de diversos brinquedos, utensílios para o novo lar e até dinheiro, muito dinheiro.
A princípio o telespectador começa a desconfiar de Dee Dee, pois tudo o que ela e a filha mostram ao público não é necessariamente o que elas vivem fora dos holofotes. A menina que só andava de cadeira de rodas na frente de todos, na verdade consegue andar normalmente dentro de casa. E essa super proteção da mãe começa a decair, principalmente quando Gypsy descobre que ela não tinha problema com alguns alimentos, como açúcar.
Essa mentira da mãe para com Gypsy, deixa quem está assistindo com um sentimento de caridade e ódio ao mesmo tempo, não entendendo se a mãe inventava isso justamente para a menina não ter nenhum problema, ou se fazia isso para enganar a todos e tirar um lucro disso.
Com isso chegamos a segunda parte da trama, quando Gypsy começa a ficar de saco cheio de sua vida monótona, afinal ela é jovem ainda, sonha em namorar, sair com os amigos, e a mãe não deixa. Mas quanto mais você proíbe mais a pessoa tem vontade de fazer, logo Gypsy resolve entrar em um site de relacionamento, onde conhece Nicholas. Mesmo à distância os dois começam a namorar virtualmente, e outro problema surge, Nicholas é bipolar e tem um alter ego que é psicopata.
Esse problema de Nick não desanima Gypsy, e ela acha nisso um amor, algo em que pode contar. Infelizmente sua mãe nunca deixaria esse relacionamento acontecer, então Gypsy assume um pensamento psicótico, que doeria seu coração eternamente, mas que seria substituído pelo amor incondicional de seu amado Nicholas. Gypsy decide assassinar sua mãe.
Depois de muitos planos, o assassinato de Dee Dee acontece, Gypsy e Nick transam no quarto ao lado (sim, bizarro) e eles fogem para a casa dele no estado vizinho. Mas não demora muito para a polícia descobrir tudo e encontrar os dois.
Já na prisão, a imagem mais chocante para os vizinhos da casa rosa foi ver Gypsy entrando no tribunal andando, sem cadeira de rodas, deixando ainda uma incógnita de quem era a vilã afinal.
A minissérie ganha muito por toda a obra produzida. O roteiro é incrível, os diálogos mostram o invés de cada personagem. Mas o que mais chama a atenção é o elenco da trama: Patricia Arquette faz Dee Dee com muita maestria, chocando até os mais desavisados. Já Joey King encarna completamente o papel de Gypsy, sempre com o cabelo raspado, a voz de criança que a original tem e principalmente a fragilidade daquele menina que nunca saiu de casa e sempre acreditou estar doente. O ator Calum Worthy, que dá vida ao Nicholas, é incrível, ele faz a cara de Nick como um assassino natural, e mostra bastante a ingenuidade do personagem.
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Gypsy Rose Blanchard continua cumprindo pena pela morte da mãe, com previsão de saída em 2024, enquanto o namorado Nicholas Godejohn ainda cumpre seus 25 anos de cadeia.