Dirigido por Ari Aster, um dos grandes nomes no terror da última década, Hereditário veio ao mundo em 2018 para nos enlouquecer. O longa, teve sua estreia no Festival Sundance 2018 e foi lançado mundialmente em junho do mesmo ano.
Aclamado pela crítica e pelo público, o filme distribuído pela A24, utiliza de uma estrutura muito incomum do que vínhamos acompanhando no gênero. Ele teve um orçamento de dez milhões de dólares e um retorno de oitenta milhões, se tornando um sucesso comentado até hoje. Mas, por que esse filme é tão ovacionado?
No filme, a família Graham sofre a perda da reclusa avó e começa a descobrir algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse uma sombra sobre a família, então, uma crescente de terror toma conta da casa e envolve essas pessoas. A família explora os lugares mais obscuros para escapar do infeliz destino que herdaram.
O terror de Hereditário
Sabe aquele filme que incomoda? Hereditário é esse filme. Não pelo fato de ser ruim ou algo do tipo, mas por apostar em um diferente tipo de desconforto. Não é um filme repleto de jump scares, previsibilidade e personagens vazios. É o tipo de coisa que você assiste e sente a atmosfera ruim, mesmo quando não há absolutamente nada acontecendo em cena.
Estamos o tempo todo acompanhando uma família, porém, você sente haver um clima ruim entre essas pessoas. E isso é um dos fatores chamativos do filme, visto que, além do sobrenatural, esta história explora a relação conturbada dessas pessoas. Não é uma família feliz, mas uma família com barreiras, densidade e culpa.
São nesses e mais momentos, que podemos apreciar as sublimes atuações. Absolutamente todos do elenco entregam um diferente tipo de nuance; Alex Wolff, Milly Shapiro e, principalmente, Toni Collette, nos passa uma carga dramática absurda. O roteiro aprofunda os lados mais obscuros da família, em todos os sentidos.
Existem momentos extremamente imprevisíveis, que chocam e fazem você questionar para onde a história vai. É muita energia negativa cercando esses personagens, só que, isso não é por acaso. Ainda mais, por ser um filme sutil, que apresenta as coisas e as desenvolve sem pressa alguma, apenas focando na criação do clima e em nos atingir de alguma forma.
Dessa forma, o desconforto é construído em diferentes pontos da trama. Às vezes é um elemento assustador de fundo, uma cena feia de se olhar, uma euforia ou até mesmo, uma preocupação causada. São esses elementos que marcam a experiência e nos fazem lembrar do filme; essa inquietação que ele causa, afinal, ele não apenas fala, mostra.
A originalidade do filme
O diretor, Ari Aster, não quer nos entregar só mais um terror barato, que tem como ameaça um demônio padrão. Por isso, ele escolhe uma determinada figura, estabelece o conceito na história e nos mostra tudo delicadamente. A última cena do longa não seria tão impactante, se não fosse um momento de tamanho propósito na história, é ali onde temos a grande catarse.
O roteiro nos manipula, pegando os menores momentos e nos mostrando que ali há uma finalidade. É uma história cheia de reviravoltas, impacto e um desfecho infeliz, mas que faz sentido dentro da proposta. Não é um filme muito comum, sua atmosfera é única e seus ricos elementos o torna marcante.
Não existe absolutamente nada no filme que seja mal inserido ou inútil, tudo está em prol da história. Sentimos tudo o que os personagens estão sentindo, toda a angústia e desespero; esse é um dos grandes objetivos do cinema, nos mergulhar na vida de pessoas e nos dar a experiência de vivenciar uma jornada com elas.
Nesse sentido, Ari Aster nos entrega um texto forte e muito surpreendente. Seu roteiro interliga as situações de maneiras que não esperamos. Além disso, ele é um mestre em criar boas atmosferas de tensão e incômodo. Toda sua visão aplicada sobre essa história pessimista é simplesmente extraordinária.
Portanto, Hereditário é um filme que não se vê todo dia. Ele está repleto de boas ideias, uma boa execução, excelentes atuações e momentos que ficarão eternizados na história do cinema. Será que é muito cedo para dizer que é um clássico nos filmes de terror?
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