O ano de 2023 certamente foi histórico para o cinema. Um dos inúmeros fatores, que logo de cara, trouxe uma enorme quantidade de pessoas às salas de cinema foi o fenômeno “Barbenheimer”, ou seja, os filmes Barbie e Oppenheimer, dois lançamentos com propostas absurdamente diferentes, que tiveram o lançamento no mesmo dia. Não podemos esquecer também da vitória de termos um filme de Martin Scorsese, com absolutas 3 horas e 26 minutos de duração, sendo passado nas telonas.
Outro aspecto (mas dessa vez externo) que marcou foi justamente o fato de, por quase seis meses, as produções norte-americanas de cinema e televisão terem sido paralisadas devido às greves dos Sindicatos dos Roteiristas e dos Atores. E, mesmo que as greves tenham sido encerradas e um acordo tenha sido estabelecido, isso mudou toda a agenda de estreias, adiando muitas produções e cancelando outras.
Ainda assim, houveram inúmeros e distintos lançamentos, e muitos deles foram um sucesso; seja em bilheteria ou no boca à boca. O que evidencia que o público está cada vez mais expandindo os horizontes para além do convencional.
Por isso, listaremos os melhores filmes de 2023. A lista é composta pelos favoritos desse autor, embora tenha menções honrosas para outros que tiveram algum destaque. Lembrando que: para os filmes que têm a crítica publicada no site, elas estarão vinculadas diretamente no título de cada produção.
Os Fabelmans (2023)
No filme, Sammy (Gabriel LaBelle) descobre sua paixão por filmes a partir do momento em que seus pais o levam no cinema pela primeira vez. Então, fazer filmes vira a sua vocação. E, mesmo eles sendo caseiros, o rapaz utiliza todas as técnicas possíveis para transmitir as poderosas emoções ao espectador. Contudo, em um de seus inúmeros registros diários de sua família, ele descobre um segredo devastador, que muda a visão de mundo não apenas de todos ao seu redor, mas de si mesmo.
É fascinante o que Steven Spielberg, em seus quase 80 anos, apresenta em seu filme mais recente. Ter começado o ano dessa forma, com um projeto tão íntimo e amplo nos temas apresentados, realmente aqueceu os corações daqueles que amam cinema. Aqui temos um poderoso drama; uma cinebiografia como poucas e homenagens que emocionam pela carga estabelecida.
Babilônia (2023)
No filme, situado no final da década de 1920, Hollywood passa por um período de mudanças. Nellie LaRoy (Margot Robbie), ascende em sua carreira de atriz, enquanto Manny Torres (Diego Calva) ainda luta para chegar onde quer nesta indústria. Nesse sentido, o passar do tempo e a expansão do cinema acabam deixando suas marcas em todos que o vivenciam de perto, sejam positivas ou negativas.
Optando por mostrar uma outra faceta da Hollywood que conhecemos, este filme veio com tudo! Aqui, existe uma busca por intensidade — em todos os sentidos. Está longe de ser um filme romântico ao seu tema, sendo sujo, forte e sincero. Com uma trilha vigorosa, inúmeras cenas memoráveis e um uso de cores singular, Damien Chazelle define seu terceiro clássico contemporâneo.
John Wick 4: Baba Yaga (2023)
No filme, John Wick (Keanu Reeves) continua em busca de sua sonhada liberdade. No entanto, agora, ele precisa enfrentar a Alta Cúpula e o temido Marquês de Gramont (Bill Skarsgård), que aumentou ainda mais o preço de sua cabeça.
Ao lado de Mad Max: Estrada da Fúria, temos o melhor filme de ação dos últimos 10 anos (surpreendentemente, o quarto filme de uma franquia). A história simples é suprida pela experiência sensorial, que aborda uma ação jamais vista nesse gênero. Com uma amplitude de espaços, ideias fora do comum e um constante novo obstáculo, somos imersos em um universo empolgante repleto de emoções.
A Morte do Demônio: A Ascensão (2023)
No filme, Beth (Lily Sullivan) vai até Los Angeles para visitar sua irmã mais velha, Ellie (Alyssa Sutherland), que mora com os três filhos. Esse reencontro entre as irmãs acaba tomando um rumo macabro quando elas encontram um livro antigo que dá vida a criaturas demoníacas. Assim, elas se veem forçadas a enfrentar uma versão aterrorizante e sanguinolenta de sua família para sobreviverem.
Todos gostam de um terror psicológico, que pode utilizar determinadas situações como metáforas para discussões. Pois bem, aqui não é o caso. Esse é aquele terror feio, inescrupuloso e escrachado, que desta forma assumida, se mostra perfeitamente bem executado. É claustrofóbico, econômico e traz cenas excepcionalmente bem construídas, sendo um dos poucos filmes que sabe como utilizar jump-scare.
Guardiões da Galáxia Vol. 3 (2023)
No filme, os Guardiões estão se estabelecendo em Luganenhum. Contudo, não demora muito para que suas vidas sejam reviradas, visto que o passado turbulento de Rocket (Bradley Cooper) vem à tona. Nesse tempo, Quill (Chris Pratt), que ainda está se recuperando da morte de Gamora (Zoë Saldaña), deve reunir a equipe em uma arriscada missão para salvar a vida de Rocket.
Nesse encerramento, James Gunn define o porquê de ele ser uma das vozes mais autorais dentro dos recentes filmes de quadrinhos. Ainda com muita comédia, o diretor estabelece arcos dramáticos para todos os seus personagens, deixando a melhor versão de cada um. Tudo soa mais maduro e consistente, ainda mais com a nova linguagem adotada pelo cineasta, que torna tudo mais épico e emocionante.
Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (2023)
No filme, Miles Morales (Shameik Moore) está de volta para uma nova missão em sua agitada vida como Homem-Aranha. Encontrado novamente por Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), agora ele se vê em novo e inusitado time de Homens-Aranha. Os heróis entram em conflito quando uma inesperada ameaça surge, e Miles se vê em um impasse.
É impressionante como essa sequência supera seu antecessor em absolutamente todos os aspectos. Com muita originalidade, seja visual ou temática, temos uma animação poderosa e que utiliza toda a linguagem para contar sua história. É uma obra de arte que se mexe, fala e transmite as mais genuínas sensações ao seu espectador. Além de trazer dilemas que definem jornadas e desenrolar discussões pertinentes.
Missão: Impossível – Acerto De Contas (Parte 1) (2023)
No filme, Ethan (Tom Cruise) e a equipe do IMF, formada por Ilsa (Rebecca Ferguson), Benji (Simon Pegg) e Luther (Ving Rhames), recebem uma importante missão: eles precisam localizar uma nova e aterrorizante arma que, nas mãos erradas, pode ser uma ameaça para a humanidade. Nessa corrida mortal ao redor do mundo, Ethan se vê forçado a aceitar que agora nada mais vai importar do que a missão, nem mesmo sua própria vida.
Em mais um excelente filme de ação, aqui existe a busca perfeita do equilíbrio entre urgência e comicidade. Com temas atuais e pontuais, o sétimo filme desta franquia abraça uma ameaça simbólica e imprevisível que deixa os personagens com decisões difíceis de serem tomadas. É um filme de perder o fôlego e deixa com gosto de ”quero mais”.
Oppenheimer (2023)
No filme, Oppenheimer (Cillian Murphy), tem a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas da história. Assim, tanto ele quanto um grupo formado por outros cientistas são envolvidos no processo de desenvolvimento da arma nuclear responsável pelas tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Christopher Nolan fez uma cinebiografia de três horas sobre o pai da bomba atômica, em grande parte com cenas preto e branco. É louvável como ele lida com tudo o que poderia afastar o grande público e faz um dos maiores sucessos do ano. Em meio a tantos efeitos práticos e sonoros, o filme manipula a atenção do público para com que o mesmo já saiba o que vai acontecer, mas ainda assim, se veja imerso na descoberta, pânico e fascínio desse contexto.
Barbie (2023)
No filme, as bonecas Barbie vivem em perfeita harmonia no mundo mágico da Barbielândia. Contudo, a Barbie principal (Margot Robbie) começa a perceber que talvez sua vida não seja tão perfeita como imagina. Tanto a sua vida, como a de Ken (Ryan Gosling), que está passando pelas mesmas crises, muda quando eles são jogados no mundo real.
Disfarçado de uma simples história de boneca, Greta Gerwig passeia pelos mais diversos assuntos da atualidade com muito bom humor. Com um visual sintético e saltitante, a fantasia é abraçada de modo que gradualmente encontre a realidade, sendo uma autodescoberta e o início da noção de um amor próprio. Aliás, junto com a explosão da bomba atômica, a sequência musical de I’m Just Ken é uma das melhores coisas que o cinema viu em 2023.
Fale Comigo (2023)
No filme, um grupo de amigos descobre como conjurar espíritos usando a escultura de uma mão enfeitiçada. Viciados nessa nova emoção, uma das jovens acaba indo longe demais e libera forças sobrenaturais aterrorizantes. Agora, todos correm grande perigo e precisam reverter a situação quanto antes.
Não tinha como deixar de fora o melhor filme de terror de 2023! Utilizando muito do sobrenatural para propor temas recorrentes na juventude, o filme consegue estabelecer a loucura e angústia de tentar fugir de algo e não sair do lugar. Além disso, a produção usa inúmeras ferramentas narrativas para poder contar a história da maneira mais dinâmica e econômica possível, deixando o espectador de boquiaberto diversas vezes.
Retratos Fantasmas (2023)
O documentário aborda a história do Centro de Recife durante o século XX, que por meio das salas de cinema atraía a população e, consequentemente, tinha influência sobre suas vidas.
Kleber Mendonça Filho, em seu projeto mais pessoal, consegue transmitir toda a essência daquilo que o formou como pessoa e profissional. Seu passeio pela história de Recife é doce e amoroso; faz com que o melhor que existiu naquele lugar ainda prevaleça, deixando registrado coisas que o tempo não terá como apagar. Não é somente o amor ao cinema, mas às pessoas, às atitudes, aos lugares e cenários em que tudo se encontrava.
Assassinos da Lua das Flores (2023)
No filme, situado em 1920, na região de Oklahoma, misteriosos assassinatos começam a ocorrer na tribo indígena de Osage, uma terra rica em petróleo. O caso passa a ser investigado pelo FBI, uma agência criada recentemente.
Antes de iniciar as menções honrosas, a lista finaliza-se com o melhor filme do ano, dirigido pelo mestre Martin Scorsese. Em uma reformulação de seus filmes de máfia, o experiente cineasta utiliza suas técnicas clássicas para contar essa história e, em simultâneo, aborda uma nova linguagem narrativa. Sendo extremamente respeitoso e autoconsciente daquilo que está abordando, o projeto acaba por ser melancólico, mas também honroso, épico e cheio de complexidades; optando seguir pelos caminhos menos óbvios.
Menção honrosa: A Baleia (2023)
No filme, Charlie (Brendan Fraser) é um homem traumatizado que sofre de distúrbios alimentares. Ele dá aulas online, mas sempre deixa a webcam desligada com medo de sua aparência. Mesmo morando sozinho, ele é cuidado por sua amiga e enfermeira, Liz (Hong Chau). Agora em uma situação crítica, ele luta para se reconectar com sua filha, Ellie (Sadie Sink).
Justamente por ser adaptado de uma peça de teatro, o longa consegue evidenciar muito bem o drama de seus personagens. Mas, certamente, é carregado pela estrondosa atuação de Fraser, que consegue extrair o impacto de cada palavra dita por Charlie. De muitos modos, acaba sendo um filme claustrofóbico e desconfortável, ainda assim, o tempo todo constrói o tão esperado momento catártico entre pai e filha.
Menção honrosa: Creed III (2023)
No filme, Adonis Creed (Michael B. Jordan), um homem agora consolidado, tem prosperado em sua carreira e família. Quando seu amigo de infância, Damian (Jonathan Majors), ressurge após uma longa sentença na prisão, o mesmo fica ansioso para provar que merece sua chance. Contudo, essa não se torna apenas uma luta qualquer, mas um pedaço do passado de Creed que ele precisa confrontar.
Uma sequência de Creed não era necessária, quem dirá duas. Mas, felizmente, B. Jordan em sua estreia na direção conseguiu fazer um dos melhores filmes decorrentes da saga Rocky. Além de trazer o melhor antagonista da trilogia e criar um conflito em sua vida consolidada, acaba criando uma espécie de luta psicológica onde cada golpe é sentido através da tela.
Menção honrosa: Pânico VI (2023)
No filme, as irmãs Carpenter, Sam (Melissa Barrera) e Tara (Jenna Ortega), junto dos gêmeos Mindy (Jasmin Savoy Brown) e Chad (Mason Gooding), se mudam para a cidade de Nova York, com o intuito de escapar de Woosdboro e o passado que os assombram. Eles planejam começar do zero na nova cidade, porém, um novo assassino misterioso encarna o Ghostface e começa a persegui-los.
O sexto filme da franquia teve um obstáculo a ser superado: Neve Campbell não retornaria como Sidney Prescott. Contudo, todos os novos personagens tiveram seu espaço e Samantha Carpenter se fortaleceu como a nova final girl da saga. Sendo o Pânico mais violento dentre todos os outros, o projeto constrói inúmeras cenas que realmente causam medo e deixam o Ghostface muito assustador.
Menção honrosa: Beau Tem Medo (2023)
No filme, Beau (Joaquin Phoenix) é um homem extremamente apreensivo e neurótico, e com uma relação conturbada com sua mãe (Patti LuPone). Quando ela morre, o rapaz precisa ir até sua antiga casa para o funeral, contudo, a viagem acaba sendo dificultada por uma série de obstáculos imprevisíveis. Agora, ele precisa enfrentar seus piores e mais absurdos medos.
Utilizando de uma abordagem surrealista, o filme discute um assunto muito específico dentro de situações absurdamente bizarras. E, apesar de não ser centralizado no terror, ele tenta emular no espectador o mesmo medo que Beau tem conforme experiencia sua jornada. Dessa forma, esse conhecimento e elucidação adquiridos fazem com que cada pedaço dessa loucura se torne importante, mesmo que pareça ilógico e impacte por ser à flor da pele.
Menção honrosa: Que Horas Eu Te Pego? (2023)
No filme, Maddie (Jennifer Lawrence), uma mulher sem muitas perspectivas de vida, acaba perdendo o seu carro por não pagar os impostos. Contudo, ela acha um meio de conseguir outro, encontrando nos anúncios um pedido desesperado de dois pais com seu filho de 19 anos. O anúncio descreve que ela terá de namorar o rapaz, Percy (Andrew Barth Feldman). O intuito é prepará-lo antes que ele saia definitivamente de casa para ir à faculdade. Se o plano der certo, o casal irá dar um carro a ela.
O filme, além de trazer uma Lawrence como nunca vimos antes, traz aquele gostinho da boa e velha comédia romântica. Com uma premissa simples e momentos que parecem beirar ao clichê, existe a subversão dentro de uma comicidade imprevisível e um reconhecimento mútuo entre duas pessoas que estão perdidas. Aqui, temos um ótimo entretenimento que poucos filmes do gênero fizeram tão bem nos últimos anos.
Menção honrosa: A Pequena Sereia (2023)
No filme, Ariel (Halle Bailey) é uma jovem sereia que, insatisfeita com sua vida no mar, faz um acordo com uma bruxa para trocar sua bela voz por pernas humanas. Assim, ela tem a chance de descobrir o mundo fora d’água e ter experiências das quais apenas sonhava. Contudo, em sua ingenuidade, acaba sendo enganada.
Esse é um dos bons exemplos de live-actions da Disney que conseguem equilibrar tão bem o real com o lúdico. A presença simpática, expressiva e contagiante de Bailey faz com que fiquemos investidos na história de Ariel e todo o mundo fantástico e colorido que a cerca. É um filme gostoso, divertido e que não perde a mensagem do original, mas a atualiza muito bem para uma nova geração.
Menção honrosa: Priscilla (2023)
No flme, a adolescente Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) conhece Elvis Presley (Jacob Elordi) em uma festa e o astro se torna alguém completamente inesperado em momentos íntimos. Ela acaba por viver uma paixão sem igual com o Rei do Rock, mas descobre um lado não muito conhecido do mesmo.
É interessante como o projeto de Sofia Coppola descontrói a figura estelar de Presley em uma pessoa problemática e, ao mesmo tempo, constrói sua protagonista a partir disso. Sob esse ponto de vista, a cineasta aborda a pressão de uma relação cuja as vidas eram extremamente diferentes, mas como apenas uma delas se viu forçada a passar por uma transformação precoce; acaba se tornando uma viagem psicológica e angustiante, inserida numa ótima ambientação, que ajuda na imersão.
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Esses não foram os únicos filmes bons lançados em 2023. Quais outros, na sua opnião, ficaram de fora e mereciam estar na lista de melhores do ano? Deixe nos comentários!