Roteirizado e dirigido por Robert Eggers, A Bruxa é um dos grandes filmes de terror da A24. O longa é inspirado em lendas e relatos históricos de bruxaria; aliás, grande parte dos diálogos se baseia em escrituras da época ambientada.
No filme, somos situados em uma fazenda no século XVII, onde uma histeria religiosa toma conta de uma família que acusa a filha mais velha (Anya Taylor-Joy), devido ao desaparecimento do seu irmão ainda bebê. A família é dilacerada por feitiçaria, magia negra e possessão.
A Bruxa e seu terror nada convencional

Um dos fatores que pode incomodar quem assiste é justamente a sua abordagem. Esse não é um terror tão apelativo, barulhento ou gore. A tal Bruxa, que dá titulo ao filme, está sendo construída e pouco vemos dessa imagem. Contudo, o filme se destaca por contar a história sem esses recursos e, ainda sim, ser competente.
O filme não apresenta grandes ambições, é apenas uma família em um local sendo gradualmente atormentada por uma hora e meia. Mas é isso que ele faz tão bem: o público questionar a mística entorno, junto dos personagens. É interessante como a história não abusa da expositividade, dizendo apenas o essencial para o nosso entendimento.
Há uma pontualidade em como somos assustados, algumas imagens em si, já são naturalmente horripilantes, como, por exemplo: o olhar perverso dos animais e as cenas silenciosas em que sentimos a ameaça presente. Então, essa família, nesse século, com essas crenças e sua imersão nesse tom soturno, contribuem para essa crescente do Mal na trama.
Existem acontecimentos que, nem sequer vemos, porém, sentimos um certo estranhamento pelo sugestionamento. Nesse sentido, todo o elenco apresenta excelentes atuações, principalmente a formidável Anya Taylor-Joy, que constrói sua personagem com muita inocência, inquietação e aceitação em seus olhos ao fim.
A tão desejada libertação

Como estamos lidando com uma família extremamente religiosa, o filme cria essa contradição dela estar à mercê do mal. A própria criação da figura do Black Phillip é sutil, junto da mitologia maligna da floresta e como essa consome o fanatismo religioso que acompanhamos.
Esse lado mais tentador, envolvendo luxúria e as proibições, torna a transformação ao fim mais simbólica. Ainda mais ao ter uma mulher no século XVII, agora, livre das amarras que a prendiam e podendo aceitar essa ”libertação” sem culpa. A bruxa é muito mais do que estamos vendo.
Dessa forma, temos um vislumbre de uma transição como essa, com Caleb sendo brilhantemente interpretado por Harvey Scrimshaw. São nesses pontos e nesses elementos plantados na trama que temos metáforas bem colocadas e condizentes com o contexto inserido; o que deixa essa pequena história tão rica e válida para reflexão.
Portanto, A Bruxa impressiona por ser uma grande decadência e uma grande emancipação, em simultâneo. É um terror gradual, silencioso, estimulante e que, apesar de ser triste, exalta sua figura ao fim.