Dirigido por Mimi Cave, Fresh é um dos projetos originais Star+ mais interessantes que passou despercebido na plataforma. Sabe aquele filme que, dado ao pôster, você pensa que é mais uma bomba ou, no mínimo, medíocre? Pois bem, estamos falando desse filme, antes de apertar o play.
No filme, Noa (Daisy Edgar-Jones) está passando por uma série de relacionamentos frustrados. Quando conhece Steve (Sebastian Stan), um rapaz muito agradável e atrativo, ela fica encantada e finalmente pensa que está em uma relação boa e segura. Contudo, alguns apetites do rapaz são bem incomuns.
Fresh… um bom filme de amor?
Logo nos primeiros momentos, acompanhamos um pouco das insatisfações amorosas de Noa. E o filme desde já sabe fazer um equilíbrio nessa história, mostrando o suficiente para compreendermos e, o que a partir disso pode acontecer. Não há pressa, mas sim, agilidade.
Em pouco tempo já temos informações o bastante sobre essa protagonista, em relação a sua vida pessimista, de um certo ponto, e quem está em volta dela. Quando Steve cruza sua vida e esse vínculo instantaneamente floresce, os diálogos dos dois são de tamanha naturalidade que realmente parece que eles se conhecem há muito tempo; apesar de não. A relação, em si, funciona desde o primeiro instante, e torcemos pelos dois.
E quando partimos para o grande conflito dessa história, percebemos como todos esses elementos introdutórios tiveram um propósito de serem o que são, por menor que sejam. Isso vai desde um simples bordão entre duas amigas, até informações íntimas compartilhadas entre duas pessoas que estão se conhecendo. A própria direção nos antecede do grande plot, sendo extremamente detalhista e focando bastante em partes do corpo dos personagens; seja em uma mão lavando o corpo no banho ou uma boca comendo.
O filme não ultrapassa a faixa dos vinte milhões de dólares em seu orçamento, mas parece que cada centavo foi bem aproveitado. O visual é muito bem polido, os cenários são elegantes, os desfoques de fundo são bem aplicados e as distorções de cores fazem sentido, não abusando de um exagero estético. E o que falar das transições tão orgânicas? Chega a ser confortável contemplar o que está sendo passado na tela. Assim, como um filme tão refinado, com personagens tão bem-esclarecidos, pode ser mais além do que um ótimo romance convencional?
Absolutamente nada convencional
Mesmo que estejamos convencidos com o início dessa história, que até então parecia descompromissada, algo ainda soa esquisito. A grande surpresa do filme impacta pela originalidade e um inevitável estranhamento com o que é proposto. E o filme exala e ressalta um dos maiores papéis do cinema: nos colocar no lugar dos personagens.
E quando de fato pensamos no que está acontecendo, fica impossível não estar em estado de desconforto. O filme nos gera emoções ruins, afinal, imaginamos como seríamos nós diante daquelas situações. O quão ruim devem ser as sensações das vítimas? Como alguém pode se deliciar fazendo o que Steve faz?
A própria forma com que a direção de Cave retrata o preparo de alguns pratos, remete a um programa de culinária (assim como Estômago), onde vemos o mais cru, feio e absurdo de maneira elegante. Dessa forma, é por isso que podemos dizer que a angústia é tão grande, por vermos um cuidado e uma alegria presentes em situações tão doentes. Além disso, um excelente paralelo pode ser traçado, em que muitas mulheres são tratadas como literalmente um pedaço de carne.
A resolução não foge de sua proposta, sendo bastante inquietante e construída com excelência. É o mesmo truque usado no início: a história apresenta um elemento estranho, mas o trata com normalidade e em algum momento traz a virada. E mesmo com o terror e perigo do último ato, o filme encerra com uma excelente piada trazida do começo.
Portanto, Fresh é uma experiência que brinca com todas as nossas emoções. O filme não abusa do nosso tempo e da nossa inteligência, sendo bastante condizente com os próprios elementos e sabendo construir cada momento. Mesmo que, de cara, pareça ruim, essa é uma das viagens mais loucas que você vai fazer dentro de uma história e exercitar sua capacidade de se por no lugar de alguém, de maneira que revire seu estômago.