William Gibson é um dos mais importantes escritores de ficção científica de todos os tempos. Suas obras deram origem o gênero cyberpunk, influenciaram a cultura pop e o mundo todo, em geral. Em seu novo livro, Periféricos, Gibson retorna à ficção científica com triunfo, nos levando novamente ao futuro, em uma história original de mundos em colisão e viagens no tempo acidentais e interligadas.
A narrativa funciona em dois núcleos, em dois futuros diferentes. No primeiro futuro, o mais próximo do que conhecemos, seguimos Flynne uma jovem garota que vive em um mundo onde a política e a economia estão quebrando, com empregos disponíveis relacionados ao trabalho em restaurantes locais, fabricação de drogas, impressões 3D ilegais, jogando videogame por dinheiro entre outras coisas.
E é em um desses videogames que a história começa. Burton, irmão de Flynne, trabalhava em um jogo de realidade virtual, em que atuava como um drone afastando paparazzis de pessoas famosas. Em certa ocasião, ele pede que Flynne o substitua, quando sua irmã acaba presenciando um assassinato, durante a partida, que mudará não apenas a sua vida, mas também, toda sua concepção da realidade.
E então conhecemos Wilf Netherton que vive num futuro mais distante, em um mundo cheio de tecnologia extrapolada, corpos alugados chamados “periféricos” e quase sem vida humana. Depois de um evento chamado “Sorte Grande“ , boa parte do mundo foi despovoado.
Nesse futuro em Londres, de alguma forma acidental, descobriu-se uma forma de transmitir dados de um lado para o outro no tempo, assim, quando Flynne presenciou um assassinato no ‘jogo”, se tratava de um assassinato real de uma cliente de Wilf, uma vez que eles estavam interligados no tempo através de dados.
Dizer mais alguma coisa sobre a trama estragaria muito. Eu provavelmente já disse muito mais do que deveria, então esqueça tudo imediatamente e apenas leia este livro. O Periférico recompensa aqueles que respiram fundo e mergulham fundo – sem saber nada, sem esperar nada.
Embora as primeiras páginas seja de uma leitura difícil, habitual de Gibson, no decorrer da trama ficamos completamente submersos na história. Os mundos de Periféricos não são nada novo, no que diz respeito a futuros imagináveis na cultura pop, porém a forma como Gibson prevê o futuro, através do texto, é absurdamente atual e condizente com tudo que somos hoje. Isso torna a história ainda mais fascinante.
Além da originalidade da viagem no tempo imposta nessa ficção, ela é concebida de uma forma plausível, levando em conta avanços tecnológicos, e fantástica por ir além do que jamais imaginamos antes.
Periféricos é o melhor trabalho de Gibson, desde suas primeiras obras. Aqui ele nos oferece novamente aquele futuro tátil, onde se pode sentir, na pele, as sensações de andar pelas ruas futurísticas criadas pelo autor. Gibson cria um futuro assombrado pelo passado o que significa, é claro, assombrado pelo nosso presente, lidando com contínuos agora em mundos afetados por mundos, que desagua em uma história que, além de entreter e divertir, nos faz refletir sobre as escolhas que fazemos hoje poderem interferir no futuro e forçar outros a viverem sob a consequência dos nossos erros.
Vale citar que a nova edição da editora Aleph está com tradução meticulosamente bem feita, possibilitando que a leitura seja ainda mais imersiva.