Dirigido por Robert Eggers, O Homem do Norte chegou recentemente aos cinemas brasileiros. Após dois filmes excelentes (A Bruxa, O Farol) desse idealizador tão original, muita expectativa foi criada entorno desse filme e pode ter certeza que vai continuar sendo em seus próximos projetos.
No filme, o jovem Príncipe Amleth (Alexander Skarsgård), testemunha o assassinato do próprio pai (Ethan Hawke) pelas mãos de seu tio Fjölnir (Claes Bang). Depois que presencia sua mãe (Nicole Kidman) e reino tomados pelo assassino, ele foge, jurando vingança.
O Homem do Norte, muito além do convencional
Histórias de vingança temos aos montes, o que esperamos desse fator tão fácil de se afeiçoar é: inovação. Como um roteirista ou diretor podem trabalhar para nos impactar mesmo que já saibamos o que vai acontecer? É exatamente o que Robert Eggers faz.
A história em algum ponto, parece ser previsível, contudo, não é. A jornada de vingança de Amleth é partida em vários pedaços, onde toda a sua luta que parecia tão certa, vira algo completamente desconcertante e imprevisível. As revelações são de impressionar e estão devidamente postas no roteiro, culminando em um final marcante. A estrutura em sua totalidade se mostra muito bem aproveitada, sabendo contextualizar, valorizar o desenvolvimento e concluir de maneira sublime.
Ainda sim, não é apenas a história pela história, mas tudo que está em volta. A ambientação dessa época tão suja e fria nos faz entrar nesse mundo, sentir cada palavra, cheiro e golpe. E, claro, a presença nórdica é abraçada de maneira visceral, seja com os princípios, as crenças ou até a mais animalesco das atitudes.
Eggers sabe fazer terror? Com certeza, mas aqui vemos outra faceta sua. Ele sabe conduzir ação, onde muitas das lutas são grudadas em Amleth e a câmera sempre acompanha calmamente aquela euforia, sem cortes; assim como nas cenas de diálogos ou silenciosas, onde o foco está sempre nele. As lutas não são desenfreadas, às vezes, nem sempre terá gore e sentiremos aquela força mesmo assim.
O filme é escuro, mas não dessaturado. As composições visuais são lindas, principalmente quando temos o fogo em cena e ele ilumina o ambiente e os personagens. Aliás, assista ao filme no melhor conforto possível, sinta cada gota de chuva até o momento mais barulhento e brutal, o trabalho de som é impecável.
A inevitabilidade do destino
É interessante como o filme trabalha com destino. O protagonista se submete às experiências mais horríveis possíveis para chegar onde tanto quer, afinal, esse é seu destino desde que era apenas uma criança. Não somente pelo fato dele ter jurado; mas, pela vidente determinar isso — que visual estrondoso.
O filme lida muito bem com essa questão, mostrando que nem tudo é como esperamos ser. De qualquer forma, o que está premeditado acabará acontecendo, mesmo com as instabilidades e surpresas no caminho. Dentro disso, Anya Taylor-Joy mostra mais uma vez como ela é arrebatadora em cena, principalmente na absorção das dores de personagem; enquanto Alexander Skarsgård, tem uma entrega física assustadora.
Existe uma gradualidade em como esses personagens se conectam e vão movimentando a história. Aquela tensão, onde pensamos ”É agora que as coisas vão desabar” é presente a todo momento, mas Eggers é pontual em como vai jogar isso na tela. Há também sequências lindíssimas, onde podemos apreciar desde o coração que se torna uma árvore, as visões mais lúdicas e transcendentais, até o épico da batalha final.
Portanto, O Homem do Norte é mais um grande filme de Robert Eggers e, certamente, um dos melhores de 2022. O impacto vai desde o menor até o maior detalhe, onde somos deslumbrados com excelente trabalho visual e sonoro, além da inventividade e pontualidade na história, carregada de grandes momentos e atuações.