Dirigido por David Gordon Green, O Exorcista – O Devoto chegou aos cinemas na última quinta-feira (12). O longa havia sido planejado originalmente para ser um reboot, mas foi logo anunciado como uma sequência direta do filme original. A ideia é justamente fazer uma nova trilogia, que prossegue os acontecimentos do clássico de 1973, com novos personagens e velhos rostos. Então, após finalizar a nova trilogia de Halloween, Gordon Green assume mais um projeto ”sequência-legado”, com Ellen Burstyn reprisando seu papel como Chris MacNeil — a mãe de Regan no filme original.
É realmente difícil lidar com um nome tão forte como O Exorcista, seja para um reboot ou uma continuação. O clássico é irretocável e qualquer coisa que venha depois inevitavelmente gera uma certa dúvida. Ainda assim, existia aquela curiosidade, visto que existem ótimos exemplos de sagas antigas que se atualizaram e proporcionaram um ótimo resultado. Mas será que esse é o caso?
No filme, acompanhamos a rotina de Victor (Leslie Odom Jr.) com sua filha Angela (Lidya Jewett). Contudo, Angela e sua amiga Katherine (Olivia O’Neill) desaparecem misteriosamente na floresta e retornam três dias depois sem memória do que aconteceu. E isso desenrola uma série de eventos que fará com que Victor confronte o mal e, em completo desespero, busque a única pessoa viva que testemunhou algo parecido antes.
A tentativa de legado em O Exorcista – O Devoto
É interessante, ao abordar sobre o filme, considerar alguns cenários em que ele se encontra. Fato é: a trilogia de Halloween, comandada por Gordon Green, foi gradativamente regredindo. Mas o que fez o primeiro desses filmes ser tão bem-sucedido foi justamente o cineasta utilizar da essência/nostalgia do original para inseri-la em uma nova trama igualmente simples, porém, bem executada. E dadas as cenas brutais fortemente inspiradas, o resgate a velhas convenções e momentos que marcaram esta franquia, honestamente, uma continuação não era necessária, quem dirá duas.
Desde então, o diretor vem sofrendo de um problema que aconteceu de novo. A história se estende a núcleos destoantes que se perdem no foco temático, embora hajam, sim, boas ideias. Dessa forma, o filme sofre com esse desbalanceamento, afinal, não fica claro se ele quer ser uma sequência ou algo inédito. De qualquer maneira, acaba sendo ineficiente nas duas concepções. Pois utiliza muito pontualmente da base do clássico para tentar propor uma nova abordagem. Mas se perde na tentativa mal construída e escrachada de emoção, deixando o peso somente na superfície. Ao menos, a última cena traz um apelo tocante que seria ainda melhor se fosse encaixada em um todo consistente.
Ou seja, ao utilizar os elementos de uma marca tão forte como essa, a sequência não os aproveita devidamente. Ela nunca abraça totalmente suas origens e quando opta por mostrar, faz de forma vaga ou óbvia, e chega a ser impressionante como têm cenas motivacionais fora de timing. Existem dois extremos e o filme não escolhe qual seguir, querendo fazer tudo e não entregando nada. O que a mente por trás deste projeto fez tão bem no início de outra franquia do terror, aqui parece ter se perdido completamente. É sem vigor, sem honra e sem alma.
Mais erros do que acertos
Novamente, não tem como dizer que o filme não tem boas ideias, o problema se dá em como elas são desenroladas ou ofuscadas. O drama de um pai tentando se reconectar com a filha devido a uma tragédia do passado é interessante o bastante para contar essa história. Até mesmo o fato de ele ser um homem que perdeu a fé e buscar soluções lógicas para os fenômenos sobrenaturais ou ir atrás de outra pessoa que experienciou aquilo é uma boa linha a ser seguida. Contudo, a trama não constrói a afeição necessária para as duas garotas possuídas. Não existe esse vínculo pré-estabelecido que nos faça sentir esse senso de união e familiaridade entre os demais personagens.
Em totalidade, nos é entregue um misto de personagens unidimensionais para acabar com um mal genérico. É claro que a maquiagem e os efeitos práticos no filme original eram parte primordial da experiência, mas nada se compara ao texto maligno e profano que impacta até hoje. Aqui, deve ter no máximo uma cena surpreendente. O filme tenta escalonar o nível de ameaça e daqueles que tentarão impedi-la, mas fracassa ao não entender que quanto mais simples o contexto de inserção, mais tempo existirá para trabalhar diferentes níveis de emoção. Ao fim, o tom é prejudicado por exageros que, mesmo se esforçando, não ultrapassa a linha da mediocridade e clichês que não deveriam ter espaço numa sequência como essa.
Portanto, O Exorcista – O Devoto não é nem um bom filme de O Exorcista, e nem um bom filme. A fome desenfreada por expansão somada a uma nostalgia quase inexistente gera mais um filme esquecível, que, teremos de nos esforçar para aceitar que é canônico nesse universo. Aqui, não se mostra um início de trilogia com potencial, mas algo sem qualquer tipo de razão existencial. Valeu a tentativa, mas definitivamente não precisamos disso.