Dirigido por Mary Harron, Psicopata Americano é a adaptação da obra homônima de Bret Easton Ellis. O filme apresenta um dos maiores e mais discutidos psicopatas do cinema, além do final ambíguo que muda toda a perspectiva da história. Caso você não tenha visto, ele está disponível no catálogo do Star+.
No filme, o rico e vaidoso Patrick Bateman (Christian Bale) tem uma segunda vida como um horrível assassino em série. Após cometer o assassinato de Paul Allen, (Jared Leto) um colega de trabalho, ele começa a ser investigado e suas verdades vêm à tona. Conforme o tempo passa, sua loucura cresce cada vez mais.
Um diferente tipo de desconforto
Psicopata Americano jamais deixa de mostrar o lado mais cru e aleatório desse título. Embora a violência não seja ao nível gore, evitando o foco no que seria graficamente grotesco, ela se faz necessária e impacta mesmo assim. Não é sempre pelas mortes em si, mas por como a antecipação delas gera muitos níveis de desconforto.
O filme em sua totalidade é repleto de momentos tensos, onde não necessariamente possuem um desfecho ruim, mas sim, uma atmosfera inquietante; de que a qualquer momento algo terrível pode acontecer. É uma verdade escondida? Uma morte? Consequências graves? Absolutamente tudo está em cheque, até o abrir de uma geladeira choca.
A forma com que a câmera é enquadrada próxima dos rostos dos personagens, geralmente do queixo para cima, passa a sensação de sufoco por quem está naquela situação tão pequena, porém tão desagradável. Ainda assim, os momentos eufóricos geram um ritmo sem igual, dado o perigo e o medo relacionável com os personagens.
Nesse sentido, o estrondo da motosserra é desconcertante, que está inserido na sequência mais alucinante e urgente do filme. Novamente, é interessante como o filme traz ambições dentro de casualidades, das quais, em conceito, naturalmente funciona. Mary Harron utiliza de sua direção para nos atingir de outro meio fora do convencional, sendo bem pontual e brincando com as nossas emoções.
O que seria o potencial Psicopata Americano?
A rotina de Patrick Bateman define bem sua personalidade narcisista. Ele usa os melhores produtos para sua higiene, cuida de seu corpo e alimentação e precisa estar sempre à frente dos outros. Ele é tão individualista que todas as suas relações com as pessoas se tornam fúteis, onde apenas ele importa e nada mais.
E conforme ele sente a necessidade de cometer os assassinatos, por um desejo profundamente problemático e egocêntrico, sua vida parece cada vez mais vazia e sem sentido. E mesmo que esse seja o protagonista, a história faz questão de mostrar que ele não é o único psicopata americano; todos os seus colegas de trabalho possuem as mesmas características frias, embora não matem pessoas (até onde sabemos).
Por isso o final é tão genial, pois é diante de um padrão de vida tão banal que acompanhamos Bateman e percebemos que ele é apenas um dos psicopatas americanos. Os outros são assim como ele, embora não estejamos assistindo suas vidas. A não importância com tudo faz com que eles não sintam nada além do próprio ego, idealizando suas fantasias mais sombrias.
Dessa forma, mesmo que tenhamos aquela ambiguidade de ”aconteceu ou não?”, o filme exibe diversas pistas que podem ser analisadas para interpretação. Ao fim, é o público que define essa resposta, porque afinal, a mensagem vai continuar com a mesma força e ambos os caminhos levam a ela. Não podemos deixar de destacar o excelente Christian Bale, que com sua entrega física, também impressiona pela loucura vaidosa que apresenta ao redor do personagem e todas os seus desgostos nítidos em expressão; ele eternizou no papel e chama a atenção pela maneira sistemática que construiu essa figura.
Portanto, Psicopata Americano é um filme que merece sua atenção. Nada do filme é por acaso ou gratuito, tudo serve à história e que com uma grande direção, nos impacta de diferentes formas. Pode apostar que essa é uma das experiências que ficará com você por dias e o fará rever para uma nova apreciação!