Dirigido por Demián Rugna, O Mal Que Nos Habita chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (01). A coprodução internacional entre Argentina e Estados Unidos tem chamado bastante atenção do público, sendo considerado por muitos, o melhor filme de terror de 2023; visto que sua primeira exibição foi no TIFF – Festival Internacional de Cinema de Toronto.
Distribuído pela Paris Filmes, o longa conquistou 97% de aprovação no site Rotten Tomatoes. Consequentemente, esse passou a ser um filme muito esperado pelos amantes de terror no Brasil. Mas será que ele supre realmente as expectativas? Confira a nossa crítica abaixo!
No filme, os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jaime (Demián Salomón) ouvem tiros próximos à mata onde vivem. Após investigarem, acabam descobrindo metade do corpo de um homem que os leva a um barraco próximo, onde uma mulher se esconde com seus dois filhos. Contudo, o filho mais velho, Uriel, está possuído por um demônio que aguarda seu nascimento físico.
Progressão em O Mal Que Nos Habita
Um dos detalhes mais significativos para um filme de terror nessa vertente é estipular regras e segui-las com eficiência. E é envolvente como o filme usa isso para escalonar sua narrativa, mesmo que precise recorrer à expositividade por algumas vezes. Nesse sentido, o ambiente influencia de forma direta na crescente do mal, visto que a aldeia tem uma quantidade limitada de pessoas e acaba não tendo muito para onde os personagens fugirem; além dos recursos escassos.
Justamente pela trama lidar com uma ameaça que se espalha como um vírus, isso soma na urgência de como os personagens lidam com ela. Alguns clichês do gênero acabam se evidenciando, embora o filme consiga justificá-los e faça com que eles não virem um problema, mas uma reação às circunstâncias. Assim, a produção trata os aspectos mais grotescos e sanguinolentos com maquiagens vorazes e recriações práticas do elenco, as quais são carregadas elegantemente por uma direção que sabe ilustrá-las de maneira econômica.
A dupla principal manifesta o senso de loucura conforme a proposta, junto ao fato de ser minimamente astuta e procurar soluções lógicas de impedir o mal. São pessoas que estão em constante batalha interna entre razão e emoção, cedendo para ambos os lados. Então, conforme a possessão toma uma proporção significativa nesse universo criado, a atmosfera se torna mais intrigante.
A ausência do bem
Em alguns aspectos, o longa remete ao excelente A Bruxa (2015). Isso vem pela escolha do roteiro e aplicação na direção em impor a figura do mal acima do bem. Mas, aqui, com muito mais ação, gore e um tom mais exibicionista em suas intenções. E o jeito com que esse elemento tão cruel se impregna por todos os ângulos em torno dos personagens é perturbador.
Uma escolha sensata da direção é plantar o caos para colher o impacto. Ou seja, nossa atenção que está centrada em um ponto específico acontecendo na tela é subvertida por outro, também construído, mas silenciosamente. Dessa forma, o mal que dá título ao filme é incorporado na história para além de uma maneira física, muitas vezes, sem fala alguma. É tão intrínseco que a todo momento somos convidados a questionar a confiabilidade de quem ou o que está em cena.
Portanto, O Mal Que Nos Habita é um ótimo exercício para os fãs de terror. Essa habilidade do projeto em enganar o espectador com a construção da ambiguidade é cativante. Não é uma obra-prima, mas certamente um ótimo filme. Chega a ser surpreendente pensar que em meio a tantas mortes e sofrimentos causados, a última cena do filme é a mais desconfortável e desesperançosa.