Anne Frank. Poucos nomes conseguem evocar tantas memórias com saudade quanto esse. Amada e admirada por sua família, seus amigos, por uma nação inteiro e um mundo todo, mesmo depois de um século. Entretanto, para ser tão querida, bastou a Anne apenas escrever em seu diário, as suas inseguranças, medos e felicidades que sentiu em meio à Segunda Guerra Mundial.
Quando vemos em nossos livros os soldados abatidos e os monumentos demonstrando a destruição de uma guerra, é difícil enumerar todas as vítimas daquele conflito. As vítimas se tornam números, os nomes são respostas de provas de história. Nosso julgamento se nubla e esquecemos que, nos anos 40, uma família de judeus se escondia atrás de uma estante de livros em um escritório, vivendo sem qualquer contato com o exterior, com pouco entretenimento e temores diários.
Essa era a família Frank, composta por Otto, Edith, Margot e Anne Frank, os quatro se juntaram à outra família e um amigo próximo em um esconderijo. Escondidos por serem judeus, por terem nascidos sob uma cultura julgada como inferior pelos outros, e que não merecia o mesmo tratamento.
A humilhação que os judeus sofriam com a distinção ainda era suportável no início, mas logo foi substituída por uma perseguição implacável. E, Anne, reclusa em um abrigo com a família, não viu outra opção senão confessar seus sentimentos ao diário que ganhou de aniversário. Anne escreveu muito, sobre todos os temas que passavam pela sua cabeça. Lemos sobre suas primeiras descobertas com o corpo, as paixões que tivera antes em sua vida anterior, os medos e a tensão que pareciam crescer com o tempo…
Foi a sinceridade de Anne em cada uma de suas palavras, sem papas na língua, sem insegurança em narrar nenhum dos acontecimentos que permitiu que seu diário se tornasse um dos livros mais conhecidos no mundo.
Em Anne Frank, de Maria Isabel Sánchez Vegara, esse impacto parece ser ainda mais dolorido ao ver as ilustrações tão cruas. Dói saber que isso foi verdade e que não foi um caso único. Existiram outras “Annes” naquela época, garotas confinadas que ainda sonhavam em ter o primeiro namorado, que arriscavam sonhar com uma carreira em plena guerra.
As imagens são ricas em detalhes e ressaltam, com um sucesso infeliz, o clima da época. Seria bem mais doloroso se tivessem começado coloridas e se tornassem preto e branco com o avanço da leitura, mas já demonstram a tristeza da situação por si só. Não é de se surpreender que a tamanha força nas ilustrações, apaga o texto, que, se transforma em mero suporte enquanto lemos. Sem mais parágrafos, só meses da vida de Anne resumidas em preto e branco.
Breve, o livro acaba. No entanto, têm êxito em causar uma impressão sofrida dos que já conhecem a história, e também emocionar a quem não conhece. Por meio dessas páginas, o legado de Anne sobrevive, com sua história contada para mais e mais pessoas.