Dirigido por Martin Scorsese, O Lobo de Wall Street é uma das grandes obras-primas da década de 2010. Baseado na obra homônima de Jordan Belfort, o longa de comédia, drama, policial e biografia, dificilmente irá desagradar quem assiste, muito por saber explorar bem todas as suas categorias. É quase hilário pensar que foi indicado a cinco categorias no Oscar e não levou uma estatueta sequer.
No filme, Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é um ambicioso corretor da bolsa de valores, que, gradualmente, cria um verdadeiro império e enriquece rapidamente, porém, de forma ilegal. Ele e seus amigos são introduzidos a um mundo de excessos, mas é claro que seus métodos ilícitos despertam a atenção do FBI.
E lembrando: caso você ainda não tenha assistido, o filme está disponível no catálogo do HBO Max.
O glamour de O Lobo de Wall Street
O filme em sua longa duração poderia facilmente cair em um tom maçante. Mas justamente pelos temas tão fabulosos retratados nessa história, fica difícil desgrudar da tela. Scorsese muitas vezes retratou da máfia em sua filmografia, e aqui não deixa de ser também. Todo o esquema de lavagem de dinheiro e as alianças que podem ser traídas a qualquer momento são presentes nesse meio corporativo; que devido ao imensurável retorno monetário, faz esses engravatados viverem como reis.
E justamente por eles esbanjarem dinheiro, que há um certo descontrole em suas atitudes, permitindo que as situações mais extremas aconteçam. É tão absurdo e fora da realidade, que acaba sendo cômico toda essa libertinagem e externalização de asneiras, um idiota no bom sentido. Os personagens estão sempre falando em cima um do outro, com diálogos ágeis e abordagens distintas, mas nunca fazendo o espectador ficar perdido. E, mesmo aqueles que têm o mínimo de duração em tela, acabam por ter uma parcela de importância narrativa.
Nesse sentido, a imagem de Jordan Belfort é o prisma que conecta essa gigantesca história, e ele precisava ter um espaço de destaque. É realmente fascinante como ele se instaura nesse meio e articula suas vendas, tornando todas as ofertas irrecusáveis. Seu estilo de falar, movimentações calculadas e o roteiro que seguia não ofuscam suas inúmeras atitudes questionáveis consequentes de sua ganância e vícios. Sendo assim, suas contradições e qualidades são o que deixam-no tão complexo e multifacetado.
Então, a interpretação de Leonardo DiCaprio é visceral em todos os sentidos. Suas expressões transcendem um novo tipo de carisma, acompanhadas de doses de fúria e uma excelente comédia física. Ele passa essa confiança que o papel demanda em cada palavra dita, incorporando essa obsessão de maneira que chega a emocionar. Ele divide tela com um estupendo Jonah Hill, que pontua perfeitamente seu tempo de tela com comédia e um real convencimento de sua amizade com Jordan; e também, uma jovem Margot Robbie que transborda talento nas cenas dramáticas.
Uma romantização?
Mesmo com o lado biográfico tendo seu lado chamativo e a comédia garantindo a diversão, vale dizer que, no fim do dia, o filme se mostra muito realista. Jordan, que passa o filme todo agindo sem limites e voando perto demais do sol, acaba sendo consumido por suas próprias compulsões e se leva à ruína. Mesmo esse filme tendo um excepcional uso da quebra da quarta parede e consequentemente uma narração, esses artifícios, muitas vezes, ilustram a arrogância do protagonista e mostra porque não deveríamos confiar nele; afinal, ele literalmente subestima nossa inteligência.
E essa é uma assinatura típica dos filmes do Scorsese: primeiramente ele mostra o esplêndido da coisa, como aquilo pode ser elegante e benéfico para quem está enquadrado. Depois, a realidade vem à tona e ela, na verdade, é bem trágica, já que a própria obsessão humana naturalmente se sabota. Assim, uma simples cena da filha de Jordan escondida na cozinha assistindo seu pai e amigo completamente drogados, mostra o ponto de vista de outras pessoas ao redor, e como aquilo pode ser traumatizante. A sequência final com Naomi também transmite um ar de angústia, visto como aquele momento é real e cru, nos gerando medo do que pode acontecer.
Portanto, O Lobo de Wall Street é um misto de várias coisas diferentes, que graças aos envolvidos dentro e fora da tela, se torna um magnífico e singular acerto. É uma experiência bizarra e imprevisível, que proporciona desde o senso de deslumbramento até um sentimento mais aflitivo. Com um protagonista cheio de camadas, junto de uma montagem desenvolta que adentra em suas loucuras, temos um filme perfeito. Aqui surge não só o melhor filme de Leonardo DiCaprio, mas o melhor filme de Martin Scorsese.