Dirigido por Greta Gerwig, Barbie chega aos cinemas nesta quinta-feira (20). O longa é um dos mais esperados do ano, se não, o mais esperado. O despertar da curiosidade surgiu desde o instante em que o projeto foi anunciado, e cresceu conforme o elenco foi escalado e as primeiras imagens foram divulgadas. O primeiro teaser, referenciando 2001 – Uma Odisseia no Espaço, foi o atestado da Warner Bros. Pictures de que essa seria a sua grande aposta do ano. Afinal, toda a estratégia de marketing a partir desse momento foi absolutamente excepcional!
Atualmente, um grande público se encontra fisgado pelo filme. Não é à toa que se tornou a maior pré-venda da Warner no Brasil. Tendo inclusive, diversas marcas e estabelecimentos se adequando tematicamente ao filme. O próprio elenco vestiu a camisa do projeto, literalmente, indo a premières com vestimentas cor-de-rosa (no caso de Margot Robbie, sempre com um novo look que a Barbie já usou em algum momento de sua história). Nesse sentido, mesmo com diversas imagens promocionais, dois trailers e curiosidades incríveis dos bastidores, o enredo ainda parecia difícil de ser desvendado. E foi esse uso do extravagante misterioso que chamou a atenção.
A única coisa certa até esse momento era: existia aqui uma ousada ideia artística por trás, ainda mais com tantos nomes promissores envolvidos num projeto sobre a boneca mais famosa do mundo. E isso tudo se agrava com o lançamento de Oppenheimer, que estreia no mesmo dia e vem com uma ideia totalmente antagônica, sendo melancólico, sombrio e sisudo; gerando o embate mais divertido do ano, o “Barbenheimer”. Então, desde já, Barbie é um fenômeno!
No filme, as bonecas Barbie vivem em perfeita harmonia no mundo mágico da Barbielândia. Contudo, a Barbie principal (Margot Robbie) começa a perceber que talvez sua vida não seja tão perfeita como imagina. Tanto a sua vida, como a de Ken (Ryan Gosling), que está passando pelas mesmas crises, muda quando eles são jogados no mundo real.
O estilo de Barbie
Um dos fatores mais louváveis a se destacar na produção é como a Barbielândia é concebida. A ideia de fazer todos os cenários e objetos ao redor da Barbie serem, de fato, artificiais, de cores vívidas e com regras que só fazem sentido no mundo das bonecas é um dos grandes trunfos do filme. E é nesse sentido que entra a autoconsciência do projeto em a que admitir que todo o conjunto é distante da realidade, embora o mundo real apareça por um breve momento. Então, a Barbie sabe que é uma boneca e para que exatamente foi criada. E muitas pessoas no mundo real estão cientes que ela existe e até conseguem ir à Barbielândia, através de uma solução visual comicamente bem-feita. Não há uma real preocupação em trazer lógica, pois o surreal está intrínseco na linguagem desde os primeiros minutos.
Dessa forma, essa totalidade que permite um certo exagero funciona desde um aspecto mais apelativo para a diversão do espectador como uma própria identidade que Gerwig estabelece. É difícil pensar em quantos filmes tivemos nos últimos anos em que algo tão leve, inocente e enérgico pudesse nos fazer esquecer do mundo real. Assim, o filme acaba por assumir duas vertentes: o drama e a comédia. As sátiras são bem diretas, sem muitos subtextos, o que cai muito bem nessa proposta já escrachada. Essas piadas evidenciam críticas às características da nossa sociedade. Muito disso soa hilário não somente por ser real, mas porque intencionalmente quer atingir esse alvo. E por ser um projeto sob o ponto de vista feminino, dentro e fora das telas, existem sacadas que só poderiam ser tão precisas dessa forma. Aliás, o timing na narração de Helen Mirren é supimpa!
Deste modo, é indiscustível que o filme esbanja carisma. Porque além de todo o visual alegre, pulsante e com personagens propositalmente expressivos em seus sentimentos, existe um recorte atual inserido no texto. Os números musicais são igualmente alucinantes, não apenas pelas surpreendentes coreografias bem direcionadas e pelas músicas bem performadas, mas por como todos os elementos visuais remetem a algo psicodélico ou um desenho animado, fazendo de todo o caos um equilíbrio estético.
Ideias vivem para sempre?
É claro que um filme com Margot Robbie e Greta Gerwing não poderia deixar de passar algum tipo de mensagem inspiradora. Conforme a Barbie conhece o mundo real, sua vida se transforma gradativamente, muito por conta de ela passar a enxergar as coisas para além de seu mundo. Afinal, até então, ela nunca havia se preocupado em ser A Barbie Estereotipada. Mas a solução que o roteiro dá a ela para passar a questionar a si mesma é inteligente. É nesse período que surgem as crises existenciais e, por consequência, o seu amadurecimento, fazendo-a questionar toda sua trajetória até o momento e para onde irá seguir exatamente. A visita ao mundo real, mesmo que mostrando todas as suas injustiças, crueldade e falsas imagens a serem mantidas, fez com que a protagonista recebesse o maior poder de todos: a escolha.
O que também reflete na jornada do Ken. Como ele pode viver uma vida feliz sendo que fora criado em prol de impressionar alguém? Enquanto ele nunca foi nada e implorava por atenção, seu propósito de existência ficou cada vez mais melancólico. Conceito esse que Ryan Gosling incorporou perfeitamente. Ele não é só um ator excelente para comédia, mas, aqui, traz uma espécie de drama para toda essa loucura em que até na sua música somos capazes de compreender as emoções do personagem. Enquanto ele está sempre sendo intenso, a Barbie varia no tom. E Robbie entende a personagem em cada olhar, fala e expressão. É impressionante o seu vigor, mas também, sua sensibilidade ao entender a importância dessa personagem. Assim como Gerwing promove um tema em que todas as Barbies funcionam como uma única força, e que elas, os Kens e quem quer esteja assistindo, possa ser o que quiser.
Portanto, Barbie é tudo aquilo que o filme da boneca mais famosa do mundo deveria ser. Exuberante, colorido, animado e festivo! Além de toda a celebração à marca, deboche e o fato de Greta Gerwing estar brincando om suas Barbies em tamanho real, uma profunda, tocante e universal mensagem se mostra ao decorrer da experiência. Refletimos todas as facetas que formam nossa vida, desde a perfeição da fantasia ao inconsistente do real. E quem disse que isso não é o bastante para podemos ser felizes com o pouco que temos?