Dirigido por David F. Sandberg, Shazam! A Fúria dos Deuses estreou na última quinta-feira (16). O desenvolvimento da sequência de Shazam! começou logo após o lançamento do filme em 2019, que recebeu um retorno considerável de bilheteria e crítica. Tanto o título quanto a volta do elenco foram confirmados no DC Fandome de 2020. Meses depois, fomos surpreendidos com as novas adições oficializadas: Helen Mirren, Lucy Liu e Rachel Zegler, escaladas para interpretarem as filhas de Atlas.
Muitos estão se perguntando se realmente faz sentido assistir ao filme, afinal, a reformulação do universo DC nos cinemas por James Gunn parece ignorar esses acontecimentos. E, apesar de ainda não ter ficado realmente claro se Gunn irá manter Shazam ou não, vale dizer: este filme, assim como qualquer outro de super-herói, deve ser visto como uma obra própria, acima de todas as suas eventuais conexões. É sobre como o filme atinge sua proposta e executa as ideias do seu próprio universo estabelecido. Então, mesmo que o filme não se conecte a mais nada no futuro, assista-o.
Na sequência, as irmãs Hespera (Helen Mirren), Kalypso (Lucy Liu) e Anthea (Rachel Zegler) chegam à Terra em busca da magia roubada delas há muito tempo. Assim, Shazam (Zachary Levi) e sua família se veem numa batalha que deixa em risco seus superpoderes e suas vidas. Nesse momento, eles precisam achar uma forma de deter essa ameaça, sendo surpreendidos com aliados inesperados.
A progressão em Shazam! A Fúria dos Deuses
A proposta apresentada no primeiro filme trouxe o lado mais maneiro e divertido de ser um super-herói. As histórias de super-heróis geralmente mostram que as habilidades desses personagens devem ser usadas para o bem maior, nunca o próprio. E Shazam!, por abordar um adolescente com poderes de um deus, faz o completo oposto disso. Nesse sentido, a ideia do universo desse personagem sempre procurou estabelecer um tom leve e descontraído, que, na maior parte do tempo, debocha de si e traz algumas atitudes para mais perto de nós.
A história, em sua simplicidade e bom humor, nunca escondeu suas intenções e mensagens escrachadas. E a sequência é fiel ao seu antecessor nesse sentido. Aqui temos momentos isolados de humor extremamente bem aproveitados, cuja aura juvenil e despreocupada prevalece (a cena de leitura da carta é impagável). Mas é interessante como a própria jornada do Billy Batson é contada, se antes ele havia encontrado uma nova família, agora ele fará de tudo para não perdê-la, mesmo que todos estejam em um momento diferente de suas vidas. E Zachary Levi continua mostrando como sabe abraçar esse personagem inquieto, engraçado e cheio de emoções.
O fato de adolescentes sem preparo serem os super-heróis mais mal vistos pela população faz sentido de maneira cômica. Ou até mesmo o garoto que almoçou com o Superman e o Shazam continuar sofrendo bullying, afinal, até isso virou mais um motivo para zombarem dele. Assim, essas subversões funcionam de maneira divertida. Bem como as cenas de ação, que no aspecto geográfico, se mostram bem encenadas e com boas sacadas, seja pelas reações ou músicas presentes.
Problemas evidentes
O universo desse personagem nunca procurou nada mais além de fatores citados anteriormente, e está tudo bem, até certo ponto. Histórias simples e bem orquestradas não fazem mal a ninguém, contanto que prendam a atenção e sejam pontuais em suas escolhas. Contudo, o filme possui abordagens de extrema previsibilidade, com tomadas de decisão tão abruptas e convencionais que chegam a ser clichês. Helen Mirren e Lucy Liu interpretam personagens muito tradicionais, e talvez por isso o potencial que poderíamos ter tido em tela infelizmente não acontece. Rachel Zegler é a que mais se destaca dentre as irmãs, seja por seu incontestável carisma ou por Anthea ter mais espaço na história e arco mais relacionável, embora comum. Essas ameaças em momento algum trazem uma real consequência ou urgência, contudo, a luta final íntima do protagonista tem seus momentos.
É ótimo que o filme assuma sua faceta mais próxima aos quadrinhos, com distância da realidade. E quando falamos de ficção ou fantasia, normalmente gostamos de lidar com visuais mais coloridos e vivos, que transmitem uma unidade otimista e alegre. E apesar das escolhas artísticas também condizerem com o primeiro filme, agora em maior escala, o visual carece nos efeitos especiais. Mesmo que tenhamos locações reais e até a utilização de efeitos práticos, o acabamento soa sem textura e impacto. Existem elementos tão artificiais em tela que chega a ser surpreendente ver isso em um filme da DC em 2023, que foi mais eficaz nesse aspecto em muitos projetos anteriores. A artificialidade é frequente, ainda mais por ser um filme quase inteiramente à luz do dia.
Portanto, Shazam! A Fúria dos Deuses é uma sequência honesta, traz problemas que poderiam ser resolvidos com outras escolhas. O filme nunca procura ser mais do que é, isso para o lado bom e o lado ruim. É uma boa pedida para dar umas gargalhadas e ficar investido nos personagens que tanto adoramos. E mesmo que o final tenha o fã-service mais descarado dos últimos anos, é impossível não se empolgar em como isso é mostrado em tela!