Dirigido por Andy Muschietti, The Flash chega aos cinemas nesta quinta-feira (15). Tendo como base a história em quadrinhos Flashpoint, o longa apresenta vários personagens da DC, incluindo duas versões do Batman, interpretados por Ben Affleck e Michael Keaton, e uma nova versão da Supergirl, interpretada por Sasha Calle. Embora o filme tenha demorado para ser lançando, e neste artigo anexado explicamos melhor a respeito, ele finalmente está entre nós. O atual presidente da DC Studios, James Gunn, aclamou o projeto, dizendo que este ”é um dos melhores filmes de super-heróis”, e que ”Andy Muschietti fez um trabalho incrível”. Mas, ele não foi o único a elogiar.
Houveram algumas exibições especiais do filme pelo mundo antes do lançamento oficial, e foi justamente nesse período que ele obteve inúmeros elogios. Tom Cruise, que recebeu uma cópia em sua casa, assistiu e logo depois ligou às pressas para Muschietti para parabenizá-lo, dizendo que ”esse é o filme que precisamos no momento”. Stephen King também amou e o descreveu como ”sincero, engraçado e de encher os olhos”.
Dessa forma, com materiais promocionais bem realizados e posicionados, exibições com reações extremamente positivas, a expectativa em torno do filme foi crescendo cada vez mais. E a Warner Bros. Pictures está apostando tudo neste projeto. Mas, será que ele realmente cumpre com o que estava prometendo?
No filme, Barry Allen (Ezra Miller) está pronto para viajar no tempo e tentar impedir o destino trágico de sua mãe. Contudo, ao fazer isso, ele acaba se encontrando em uma nova linha do tempo sem meta-humanos. Nessa realidade, o General Zod (Michael Shannon) está de volta, ameaçando uma aniquilação. Nesse momento, Barry se depara com uma versão alternativa de si, descobrindo que há mais um herói capaz de ajudá-lo a consertar as coisas, embora não seja quem ele esteja pensando.
O épico em The Flash
Desde já, é interessante apontar como o filme está recheado de boas ideias. Em simultâneo que ele constantemente lembre do universo estabelecido por Zack Snyder, isso se esvai aos poucos e a atual estética se mostra bem mais vívida. As cores dos ambientes são tão vistosas que é como se estivéssemos presenciando uma HQ em live-action. Até em momentos anoitecidos o soturno acaba tendo destaque. Dessa forma, isso se reflete até mesmo no novo traje do Flash: um avermelhado bem forte, com chamativos raios amarelos cintilando sob seu corpo, que logo nos sugestiona uma imagem heroica e épica.
E vale dizer como Muschietti sabe usar de sua criatividade. Anteriormente, em It, o cineasta já propunha ideias visuais interessantíssimas, e, aqui, isso também acontece. Dentro da ação, ele estabelece uma dinâmica perfeita para um personagem como esse. Não apenas pelo ilustríssimo take da bota do Flash, segundos antes de ele correr e o cenário se distorcer com um movimento contrário, mas até por como ele conduz cenas em que o personagem está em câmera lenta, literalmente lutando contra o tempo e, na verdade, aquilo no tempo normal nem sequer dura cinco minutos. O próprio conceito de Barry precisar ”recarregar” sua energia traz outro tipo de urgência.
O mesmo vale para o momento em que o Batman de Michael Keaton entra no filme, em que o tom se volta para um contexto mais ”clássico”. Todo o arco se torna mais triunfal, seja pelo resgate da trilha sonora de Danny Elfman, ou até por como essa versão do Batman é representada: ele é o herói tradicional, com dramas objetivos, e experiência que intimida os outros, trazendo um diferente tipo de luta. Assim, Keaton, que está mais a vontade do que nunca, traz um vigor, sem trocadilhos, de outro mundo para a história. Mesmo assim, o paralelo feito entre ele e o Flash eleva sua participação para além da nostalgia. Ele é um coadjuvante real que irá ter um papel importante nessa jornada.
Uma jornada íntima
O visual tem seus momentos charmosos, mas os efeitos especiais tendem a desprender a atenção por inúmeras vezes. Acima de tudo, não existe nada de errado em um filme abraçar um tema de natureza surreal e fantasiosa, visto que esta porta nos permite acreditar no fantástico e ter mais aceitação por determinadas escolhas. Porém, aqui, soa excessivo. O problema não é intrinsecamente o conceito do que é apresentado, mas a forma, que imediatamente cai no vale da estranheza. Nesse sentido, fica a impressão de termos recebido um filme não finalizado, onde até determinados cameos e fan services que eram para deixar o público empolgado, se torna somente o digital esquisito. Os efeitos visuais faciais são os mais gritantes, e isso tem até mesmo no próprio Flash.
Por se tratar de um filme de multiverso da DC, ele poderia ter sido mais apelativo. Aliás, até as séries do canal CW foram mais ousadas nesse sentido. Ainda assim, o foco na jornada de Barry é notável. Esse é um personagem com passos guiados pelo coração, mas que agora terá que correr através da razão. Essa discussão de como o poder dele pode ser destrutivo não só para o mundo externo, mas até para ele mesmo, acaba sendo o ponto forte; embora isso crie um antagonismo que aparece e rapidamente some, deixando o filme sem um verdadeiro vilão, ou um com uma construção mais lapidada.
Dentro da viagem no tempo existem elementos inteligentes, tanto na ideia das ferramentas de mudança, como na própria piada. Ou seja, da mesma forma que existem brincadeiras de como o mundo ficou diferente depois da alteração temporal, um elemento tão insignificante como uma lata de tomate tem um significado importante atribuído a ela, que aparece no início e rima com pelo menos um momento real de felicidade no final. Maribel Verdú, como Nora Allen, é de uma simpatia que transborda na tela, trazendo de imediato o ar maternal que Barry tanto sentiu ao perder. E este é o grande coração do filme. A partir disso, temos uma grande atuação multifacetada de Ezra Miller, que sabe transitar entre o Barry crianção, maduro e corrompido.
Portanto, The Flash tem tudo o que forma um bom filme de super-herói. Embora o resultado não seja ambicioso e até falhe em situações que parecem deixar pela metade, pontualmente há elementos que funcionam com eficiência. Ao invés de algo mais surtado — que também poderia ser —, existe aqui uma história mais interna, cheia de autodescobertas, aliados inesperados e consequências irreparáveis vindas de atitudes que todos nós tomaríamos, mas que talvez não fizessem de nós o que somos hoje.