Após três histórias principais e duas prequelas, As Crônicas de Nárnia já havia se consolidado como uma das séries literárias mais importantes da história. E este fato não se deve apenas à habilidade de escrita infantil quase ilimitada de Lewis, mas também por seus simbolismos sobre infância, guerra, amor, amizade, e é claro, religião. Porém, isso teve um fim com As Crônicas de Nárnia: A Última Batalha, em 1956. O último capítulo da história, a última aventura, e o último nosso suspiro em Nárnia.
Vamos mergulhar nesta despedida emocionante e nostálgica.
O falso profeta
Apesar de A Cadeira de Prata possuir uma certa identidade opaca, A Última Batalha é um verdadeiro exibicionismo caótico dos fins dos tempos. A história se inicia com o macaco Manhoso, e o asno Confuso, dois amigos que vivem na floresta. Mas, infelizmente, Manhoso se aproveita da burrice de seu amigo para usá-lo a seu bel-prazer e, um dia, ambos encontram a pele arrancada de um Leão no rio.
Colocando-a em Confuso, Manhoso decide usá-lo como um falso Aslam para conseguir favores de todos os animais de Nárnia, e ambos governarem como falsos líderes.
Apesar de tentar conter a situação, o atual rei de Nárnia, Tirian, descobre que Manhoso fez um trato com os Calormanos para invadirem Nárnia e assassinarem as árvores das florestas. Aprisionado e humilhado, Tirian pede a ajuda de Aslam e acaba por receber a ajuda de todos os heróis das histórias anteriores.
Os Sete Amigos de Nárnia, como são chamados, tentam ajudar Tirian a impedir Manhoso, mas pode ser tarde demais, pois as estrelas dizem que o fim de Nárnia pode estar mais próximo do que imaginam.
O capítulo final
A Última Batalha consegue ser o livro mais atmosférico, mais bem-escrito e mais desenvolvido de todos os capítulos de Nárnia. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é o mais fluído, em narrativa, mais fácil e gostoso de ser ler, mas a carga emocional encontrada em A Última Batalha, é de apertar o coração.
Constantemente leremos menções aos eventos dos livros anteriores, uma espécie de retrospectiva fantasma que nos lembra que esta será a última vez que esses personagens vão interagir com o mundo criado por Lewis.
Também fica claro que os dois livros anteriores estavam preparando o leitor para A Última Batalha. O Sobrinho do Mago apresenta o conceito dos anéis, e das outras formas de entrar em Nárnia. Já O Cavalo e seu Menino, apresenta a Calormânia, que invadirá Nárnia nesta história, causando uma guerra sem precedentes.
Reencontrar todos esses personagens, juntos, lutando por Nárnia e por Aslam faz você se sentir parte do grupo. Você viu esses personagens crescerem, amadurecerem, acreditarem, e terem fé. A fé em Nárnia, em Aslam, ou no que você quiser.
A mensagem da guerra pode ser interpretada de muitas formas. Aslam ficou sem pisar em Nárnia por séculos, apenas observando, e deixou suas crianças à mercê da própria esperança. Mas o desespero por respostas as fizeram acreditar em Manhoso, e a ira de Aslam caiu sobre a Terra.
No fim, as estrelas desabam, a vegetação é consumida por dragões e lagartos, o céu e a Lua desaparecem. O apocalipse já estava destruindo Nárnia, mas a fé daqueles fiéis os leva para um lugar melhor, para a sua terra… a verdadeira Nárnia.
O veredito final
As histórias de As Crônicas de Nárnia podem chegar a um fim, mas as nossas viagens até lá nunca acabam. Você pode ficar semanas, meses, até anos sem ler e acreditar, mas quando voltar a acreditar, Nárnia está esperando por você.
Nárnia pode ser impetuosa, misteriosa, imprevisível e cruel, mas é também maravilhosa, fantástica; fruto da imaginação coletiva do ser humano de ter em mãos o que está além de seu alcance e compreensão. Isso pode ser fé, pode ser religião, Deus — ou a ligação com Deus. Pode ser tudo que você quiser. A história nunca acaba, e quando ela nunca acaba, só nos resta repetir seu ciclo e consumi-la com mais amor a cada nova releitura.
As Crônicas de Nárnia: A Última Batalha é o final perfeito para Nárnia. É tudo que nós queríamos, mesmo que não soubéssemos. Ainda que a Calormânia, as Terras dos Gigantes do Norte e as Grandes Florestas já não existam, uma parte de nós sempre estará lá, e uma parte de Nárnia sempre estará conosco.