Xerxes: A Queda da Casa Dario e a Ascensão de Alexandre é uma obra curiosa. Servindo como prequel para o sucesso de Frank Miller nos anos 90, 300, e continuando a personificação do autor em contar uma história muito mais metalinguística.
Metalinguística, no sentido de que não há um conceito tão simples, ou tão objetivo quanto em 300. Enquanto o quadrinho antecessor servia como uma longa, deprimente, gloriosa e heroica canção de espartanos marchando para a morte, Xerxes serve mais como um poema tendencioso e abstrato, cheio de nuances.
Uma história ambiciosa
A princípio, a noção básica da narrativa proposta é contar a queda de Darius I durante a Batalha da Maratona, que deu um fim na Primeira Guerra Médica.
Foi nas águas rasas de Atenas, em uma tentativa de invasão, que Darius morreu nos braços de seu filho, Xerxes, e o mesmo alimentou uma vingança velada na sua alma.
A partir daí, Xerxes abraçou uma nova identidade para, talvez, um dia vingar a morte de seu pai e espalhar sua luz pelo mundo. Essa identidade é moldada por marchas solitárias pelo deserto, encontros loucos com deuses em rochas e meditações insanas sobre futuro e passado.
Mas a trama toma um caminho completamente inesperado, dando idas e voltas entre a morte, a juventude, e o reinado de Xerxes.
Fica claro as intenções de Miller quanto à história. Ele cria uma narrativa sobre a casa Darius, da qual Xerxes faz parte, e essa narrativa, esse “espirito”, é retratado em diversas épocas diferentes.
Dessa forma, com um ótimo uso de cores por parte de Alex Sinclair, o leitor se vê nessa grande viagem pelas mentes perturbadas dos descendentes e ascendentes de Xerxes. Culminando na queda de Darius III pelas mãos de Alexandre, o Grande.
Claro, a história toma muitas liberdades criativas sobre o período histórico abordado, como, por exemplo: o dramaturgo Ésquilo, que usa lanças, como uma espécie de super-herói, ou a retratação muito mais exagerada de Xerxes durante seu reinado. O mesmo agora possui uma pele muito mais escura e seu corpo emana o dourado do ouro.
Todavia, muitas dessas escolhas são mais para enfatizar o rumo maneirista e surreal da história. Frank Miller moldou esse Xerxes, esse Darius e esse Alexandre; esse é o seu mundinho com uma gama psicodélica.
Um deus em cada quadro
Aliás, falando em maneirista e surreal, essa é uma das formas de resumir a arte da história. Por analogia, em 300, a história era contada do ponto de vista do único sobrevivente da marcha. Ela é retratada como bela, pintada com o sangue inimigo.
O caminho que a história constrói é bruta, mas glorificado. Em Xerxes, os personagens que acompanhamos, quadro a quadro, são obcecados por poder, por glória; é como se o roteiro entregasse isso para eles.
O resultado é uma história pintada pela cor da ganância, da vingança e do poder da linhagem Darius, e como isso os levou até sua queda.
Contudo, é claro que a história não é livre de erros. Apesar de curta, pode ser difícil para alguns leitores abraçar a linha narrativa subjetiva e maluca, contada quadro a quadro. Diferente de 300, onde éramos geralmente guiados pelo narrador, aqui ele apenas nos dá lampejos de certos eventos. Se você não gosta da arte de Miller, então tudo desaba mesmo.
Veredito
Xerxes: A Queda da Casa Dario e a Ascensão de Alexandre é uma prequel com sua própria identidade, tanto artística, quanto narrativa. Ainda assim, as nuances insanas da história podem ser um problema para leitores mais casuais. De qualquer forma, Frank Miller prova que ainda sabe contar uma boa história.
Leia mais sobre: Devir