Dirigido por Brian De Palma, Carrie, a Estranha é uma das grandes referências do gênero terror. Adaptado da obra homônima de Stephen King, o longa foi um sucesso de bilheteria em sua época e rendeu duas indicações ao Oscar, incluindo de Melhor Atriz (Sissy Spacek) e Melhor Atriz Coadjuvante (Piper Laurie).
No filme, a adolescente Carrie (Sissy Spacek) enfrenta insultos dos colegas na escola e também em casa, com sua mãe extremamente religiosa. Quando acontecimentos anormais surgem ao seu redor, ela começa a suspeitar que possui poderes sobrenaturais. Quando ela é convidada para o baile, enfim encontra um motivo para se sentir bem.
Carrie, a Estranha e o poder de um bom roteiro
Um dos pontos mais altos na experiência de Carrie certamente é sua história. Pois o filme está a todo momento construindo o impacto, a desordem e o caos, fazendo isso desde a maneira mais sutil até a mais escrachada. O que é ótimo, afinal, grande parte do efeito é causado no espectador pelas antecipações.
Dificilmente ficaremos confusos com o que está acontecendo, ainda mais pela apresentação dos personagens e suas respectivas funções dentro da trama. Mesmo que histórias onde o protagonista é assolado por um mundo desprezível e irreal interfiram na nossa imersão, nessa em específico, existe um real motivo que entrelaça com o terror da transição da personagem. Fora que, a participação ativa da senhorita Collins traz um tom mais afetivo, protetor e até cômico nas cenas, mostrando que existe um resquício de bondade nesse mundo.
Nesse sentido, é interessante como as próprias habilidades de Carrie são usadas. Poucos momentos dela utilizando seus dons são o bastante para temermos o que está por vir. E quanto mais a narrativa é articulada, mais próxima a bomba fica de estourar. Por isso o roteiro é tão eficaz, pela forma com que os conceitos são propostos em tela e por como serão retomados em algum momento de maior importância.
E esta é uma história simples, sem complexidades e abuso de expositividade. Todas as regras são estabelecidas e, com uma boa condução dos acontecimentos, faz com que fiquemos na ponta da cadeira. A própria duração se mostra econômica, utilizando tempo o bastante para contar uma história que sabe para onde está indo e quando deve parar. As coisas fluem com muita naturalidade, tornando o dinamismo e a urgência presentes.
Um clássico do terror
A sequência final do baile é uma das responsáveis por deixar esse filme tão vívido no imaginário popular. Não tem como esquecer da cena icônica do balde caindo e o que a procede. O filme é dos anos 70 e alguns efeitos tanto sonoros quanto visuais podem soar datados, mas isso está longe de tirar a força e choque desses momentos. E esse choque é gerado através da melancolia, já que Carrie era simplesmente uma garota rejeitada, tanto em casa quanto na escola. E ela só queria ir ao baile.
Assim, a interpretação de Sissy Spacek faz com que rapidamente nos afeiçoemos à Carrie, já que sua aura traz uma certa ingenuidade. Mas quando ela finalmente decide ter sua vingança, suas movimentações sutis no olhar faz com que essa personagem transcenda um diferente tipo de estado. A direção é impecável quando vai criar atmosferas de euforia e desconforto, desde uma humilhação dentro do chuveiro até um ambiente em que absolutamente ninguém escapa.
Dessa forma, a montagem aproveita para brincar com diferentes perspectivas dos mesmos elementos acontecendo em simultâneo na cena. A intensidade do vermelho nos adverte sobre o perigo e a liberação daquilo que estava guardado, como o sangue no balde. E mesmo quando tudo parece ter acabado, somos surpreendidos com um excelente final ambíguo. Será uma manifestação do sobrenatural ou simplesmente uma culpa e pesadelo que sempre ficará com essa garota?
Portanto, Carrie, a Estranha exibe a beleza do terror no cinema. Com uma condução magistral, essa história cativa pelo propósito apresentado em cada mínimo detalhe, construindo cada momento com precisão. Para alguns pode soar tosco, para outros, esse é um filme que jamais vai envelhecer, afinal, seu peso é muito além do que vemos na tela. É atmosférico, impactante e muito memorável!