Entre muitas histórias escritas e desenhadas por Junji Ito, em mangás japoneses, falaremos de Gyo, publicado entre 2001 e 2002 na revista Big Comic Spirits, da editora Shogakukan, que chegou ao Brasil pelo selo Tsuru da Devir.
O terror é uma forma muito peculiar de contar histórias, no entanto, não são todos os autores do gênero que conseguem levar o leitor ao extraordinário que as histórias assustadoras conseguem proporcionar. O artista japonês Junji Ito é mestre em ir além do imaginário e contar histórias de terror de uma forma unicamente bizarra, sinistra e extraordinária.
O horror em Gyo
Tadashi e Kaori vão passar férias na ilha ao sul do Japão Okinawa. Com o passar do tempo, eles começam a sentir um cheiro forte de peixe morto, que gradualmente vem tomando conta da ilha. O casal é surpreendido quando se dá conta de que o cheiro é causado por um peixe apodrecido, com pernas mecânicas.
E esse monstro, que começa como um odor de peixe morto, é tão bem descrito na trama; em alguns momentos, nos sentimos eriçados, como se fosse possível sentir o mesmo cheiro que os personagens estão sentindo. Isso acontece por conta da excelente ilustração monocromática, típica de Junji Ito, que nos emerge ainda mais no ambiente “fétido” e aterrorizante, proposto pela história.
É impressionante como o autor consegue criar um problema aparentemente inofensivo e consegue desenvolvê-lo até transformá-lo em uma ameaça muito maior do que é possível imaginar. Fica ainda melhor quando esta ameaça é plausível à história. Junji coloca um contexto histórico para explicar a origem do monstro da história.
O autor é muito competente em prender a atenção do leitor na trama, evoluindo a história em cada página e apresentando novas ameaças, sem deixar de explicar nada. Tudo é absolutamente bizarro na história e, com isso, cada detalhe leva a uma curiosidade sufocante em saber o que está de fato por vir.
Vale a pena ler Gyo?
As ideias dispostas são geniais e conseguem chocar quando são expostas pela primeira vez. É tudo tão criativo e bizarro; vale a pena ler este mangá sem saber de nenhum outro detalhe, desta forma, assim, a experiência pode ser ainda melhor.
O único problema é a falta de apego aos personagens, visto que não temos nenhum momento carismático de qualquer personagem na trama. É provável que lembremos da história, da trama, dos monstros e do worldbuilding de Gyo, mas os personagens são totalmente esquecíveis.
Gyo é, possivelmente, a história mais legal de Junji Ito, desde seu clássico Uzumaki, pois consegue ser assustadora, intrigante e empolgante, e vai direto ao ponto, com uma trama que cresce sem parar, fazendo com que as 408 páginas fluam despercebidamente. Parte do mérito também se deve à ótima tradução da edição da Devir que apresenta, diferentemente da publicação original divida em dois volumes, volume único.
Ao final do mangá, somos presenteados com mais dois contos de Junji ito que são, assim como Gyo, intrigantes e bastante bizarros. Vale a pena conferir!
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