Quem nunca ouviu falar deJoana d’Arc? Feminista, santa, guerreira, heroína e até bruxa, tantos rótulos foram usados para a definir a figura que é difícil entender qual foi seu papel na história, e qual foi o motivo que a levou a morrer de maneira tão cruel.
Joana d’Arc nasceu em Domrèmy em 1412, filha de agricultores e artesãos, todos muito religiosos. Com 13 anos, a garota revelou ouvir vozes e ter visões, que julgou serem das Santas Catarina de Alexandria e Margarida de Antioquia, e do arcanjo São Miguel. As aparições lhe diziam que ela deveria integrar o exército francês, e ajudar Carlos VII a vencer a Guerra dos 100 anos contra a Inglaterra.
Quanto mais o tempo passava, mais Joana se convencia de sua importância, e aos 16 anos, conseguiu conversar com um funcionário do reino francês e pediu para ser levada à corte real francesa, em Chinon. Robert de Baudricourt, o funcionário, não só ignorou o pedido, mas foi sarcástico com a jovem. Joana não desistiu e continuou vendo Baudricourt, até que o homem cedeu, dando a ela um cavalo e a escolta de vários militares.
Antes de ver o rei, a adolescente decidiu mudar o visual: cortou o cabelo e vestiu-se como um homem. Após onze dias de viagem, Joana finalmente chegou ao aguardado destino. Ninguém sabe como, mas de alguma maneira o líder da França aceitou ouvir uma jovem analfabeta que clamava receber mensagens divinas. E talvez o primeiro milagre de Joana tenha sido não só fazer com que Carlos VII acreditar em suas palavras, mas também permitir que ela liderasse uma parcela do exército em uma guerra.
Era claro que o exército francês precisava de ajuda, já que estava a anos sendo derrotado e humilhado, e quando Joana se mostrou decidida quanto ao que se dizia, Carlos já estava mais que convencido, afinal, ele havia tentado de tudo, e agora só mesmo uma ajuda celestial poderia os salvar. Mesmo assim, D’arc foi interrogada por clérigos, e sua virgindade foi testada em um exame.
Ninguém sabe dizer se Joana chegou a comandar o exército ou se estava somente lá, dando conselhos e apoio emocional, mas é consenso que a força armada francesa teve sucesso após a chegada da moça. Já no outro lado, para a Inglaterra, Joana estava longe de ser uma figura divina, e mais se assemelhava com uma bruxa, já que era impossível a ideia de Deus estar ao lado de seus inimigos.
Foi na marcha de coroação de Carlos VII que tudo começou a dar errado. O rei deveria marchar até Paris para legitimar a coroa, e foi aconselhado a seguir um caminho menos conhecido para maior segurança, mas a corte real decidiu apostar na trégua com os ingleses. O duque de Borgonha se aproveitou e os franceses foram pegos de surpresa, sem nem ter a chance de lutar. O governo decidiu acabar com o exército e ser diplomático, focando na divisão de ganhos.
Com poucos militares ao seu lado, Joana lutou em algumas batalhas, mas em 23 de maio de 1430, Joana foi capturada pela tropa borgonhesa. Por dez mil libras, D’arc foi vendida ao exército inglês, e tentou se jogar da torre em que estava presa assim que soube que iria ficar com os ingleses, mas sua tentativa de suicídio foi mal sucedida, e ao ser levada a julgamento, recebeu as acusações de ser uma bruxa, uma herege. Suas roupas de cunho masculino foram usadas para descreditar suas palavras, e sua virgindade foi questionada.
Enquanto Joana estava sendo julgada, o rei Carlos VII não fez o menor esforço de tentar recuperá-la, talvez acreditando que a camponesa era mesmo uma pecadora ou talvez só estivesse com medo de fazer exigências em sua posição. No dia 30 de maio de 1431, Joana d’Arc foi levada para ser queimada em uma fogueira. A plateia gritava “bruxa”, “blasfema”, “mentirosa” e enquanto as chamas se espalhavam por seu corpo, e Joana dizia “Jesus! Jesus! Jesus!” até sucumbir ao chamado do outro lado.
Joana d’Arc morreu aos 19 anos como uma bruxa, mas sua figura resistiu aos séculos ao ponto de ser canonizada e considerada uma santa na França nos anos 1920.
Hoje, o nome Joana d’Arc simboliza coragem, força de vontade e heroísmo. Sua figura representa o poder que temos de nos fazer parte da história, mesmo que possamos ser o oposto do que os livros de história procuram: mulher, pobre, jovem.
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Fontes: Revista Galileu